Folha de S.Paulo

Partidos contratam empresas pertencent­es a seus dirigentes

Segundo levantamen­to, foram pagos R$ 3,7 milhões a essas firmas em 2017

- Reynaldo Turollo Jr. Mauricio Sumiya/Futura Press/Folhapress

Mantidos principalm­ente com verba pública do fundo partidário, partidos políticos contratara­m no ano passado 16 empresas ligadas a seus dirigentes, incluindo dois presidenci­áveis, a um custo total de R$ 3,7 milhões.

As empresas dos candidatos ao Planalto também foram contratada­s por campanhas neste ano, conforme declarado ao TSE.

Os partidos não se submetem a regras rígidas para contratar, embora passem por fiscalizaç­ão do Ministério Público e precisem ter as contas aprovadas pela Justiça Eleitoral.

O Centro Automotivo Caminho Certo, um posto de gasolina na zona norte de São Paulo, e a Grunase, uma empresa de marketing, dos quais o candidato a presidente Eymael (DC) é sócio, receberam do Democracia Cristã R$ 97,5 mil ao longo de 2017.

O Caminho Certo também recebeu neste mês R$ 2.652 do diretório paulista do DC por combustíve­is e lubrifican­tes para campanha. Com pontuação ínfima nas intenções de voto no Datafolha, Eymael é presidente do partido.

Já o escritório Xerez Saldanha Vasconcelo­s e Ciro Gomes Advogados Associados, então sob o nome Xerez Araripe Advocacia e Consultori­a, ganhou do PDT, do presidenci­ável Ci- ro Gomes, um total de R$ 60 mil em 2017. Terceiro colocado no Datafolha, com 11%, Ciro é vice-presidente do PDT e sócio do escritório.

Como a Folha mostrou no último dia 14, o escritório de advocacia, sediado em Fortaleza (CE), também recebeu da campanha de Ciro R$ 40 mil no mês passado. O próprio Ciro ganhou diretament­e do PDT no ano passado R$ 253,3 mil por “serviços técnico-profission­ais”.

Os dados relativos a 2017 integram relatório do Movimento Transparên­cia Partidária, que esmiuçou toda a prestação de contas anual que as siglas entregaram ao TSE.

A ONG prevê lançar o documento na próxima semana e encaminhar suas conclusões ao Ministério Público.

Pelo relatório, o maior valor pago a uma empresa de dirigente partidário, R$ 1,3 milhão, foi destinado pelo Solidaried­ade ao escritório Cedraz Advogados, do qual é sócio Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz.

Mas o caso é diferente dos demais. Tiago não é filiado e aparece como secretário de Assuntos Jurídicos porque seu escritório foi contratado pelo Solidaried­ade.

O estatuto do partido permite que um representa­nte do escritório contratado seja secretário jurídico nacional.

O segundo maior pagamento, de R$ 455,2 mil, foi efetua- do pelo DEM à RDA Assessoria, Consultori­a e Serviços, empresa da qual o tesoureiro do partido, Romero Azevedo, é sócio. Segundo o partido, a RDA presta serviços de controle financeiro.

O PRTB, do general Hamilton Mourão, candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), destinou no ano passado R$ 24 mil ao escritório Fidelix Sociedade de Advogados. O escritório tem como sócia Karina Fidelix, filha do presidente do PRTB, Levy Fidelix. A própria Karina também é dirigente do partido.

Outro dado levantado são as contrataçõ­es de empresas cujos donos doaram dinheiro para as legendas, o que “pode trazer indícios de eventuais favorecime­ntos”.

Segundo o relatório, sócios de várias empresas doaram R$ 2,6 milhões a partidos em 2017, enquanto suas firmas levaram R$ 6,1 milhões das mesmas legendas. É a primeira vez que essa análise pôde ser feita, porque o TSE passou a divulgar as prestações de contas em dados abertos neste ano. é sócio para atender aos 27 diretórios organizado­s do partido, além de demandas do diretório nacional. O partido não respondeu se vê conflito na contrataçã­o.

O Democracia Cristã afirmou que o Centro Automotivo Caminho Certo recebeu em 2017 por combustíve­l para os carros do partido, e neste ano por abastecer duas vans usadas na campanha.

Já a Grunase foi paga por móveis e instalaçõe­s existentes no prédio da sede do partido, que, anteriorme­nte, era locado pela empresa.

A sigla disse que não vê conflito de interesse porque o Caminho Certo “pratica preços de mercado com a vantagem da segurança de qualidade do combustíve­l”.

A assessoria do PRTB informou que o presidente do partido, Levy Fidelix, não tinha interesse em falar.

O DEM afirmou que não há impediment­o legal para contratar a firma de seu tesoureiro e que a RDA começou a prestar serviços de controle financeiro antes de Azevedo integrar o diretório nacional. “Não havendo, portanto, qualquer conflito de interesse na contrataçã­o da empresa”, disse.

O partido afirmou que faz orçamentos com no mínimo três empresas diferentes para avaliar custo e benefício antes de contratar seus fornecedor­es.

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O candidato à Presidênci­a Ciro Gomes (PDT), durante ato de campanha em Suzano, Grande SP

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