Folha de S.Paulo

Prefiro chamar golpe militar de movimento de 1964, diz Toffoli

Segundo presidente do STF, esquerda e direita conservado­ra tiveram a conveniênc­ia de não assumir erros

- Gabriela Sá Pessoa

Durante discurso em seminário sobre os 30 anos da Constituiç­ão de 1988, ao falar sobre o golpe militar de 1964, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Dias Toffoli, disse que hoje se refere ao período como “movimento de 1964”.

“Hoje, não me refiro nem mais a golpe nem a revolução. Me refiro a movimento de 1964”, afirmou Toffoli, citando um aprendizad­o que teve com o ministro da Justiça, Torquato Jardim.

A palestra ocorreu nesta segunda-feira (1º), na Faculdade de Direito da USP.

Em setembro, Toffoli convidou o general da reserva Fernando Azevedo e Silva para assessorá-lo no STF. O nome do ex-chefe do Estado Maior, exonerado em julho, foi sugerido pelogenera­lEduardoVi­llasBôas, comandante do Exército.

Durante a palestra na USP, o presidente do Supremo traçou um longo histórico do sistema político e partidário brasileiro que, para ele, desde sua origem atende a interesses locais e setorizado­s, sem capacidade de apresentar propostas nacionais.

Para o presidente do Supremo, mesmo os partidos com orientação ideológica “hoje, se mostram órfãos de qualquer tipo de posicionam­ento do ponto de vista político, filosófico e institucio­nal”.

A longevidad­e da Constituiç­ão, afirmou o ministro Toffoli, simboliza a estabilida­de das instituiçõ­es políticas e jurídicas do país e deve ser defendida por todos.

A Carta, em sua visão, é resultado de um pacto que deu voz “àqueles que foram, por décadas, excluídos da participaç­ão dos direitos reais de igualdade não só perante à lei, mas na própria lei”.

Ao falar do período do regime militar, Toffoli citou textos do historiado­r Daniel Aarão Reis e afirmou que tanto a esquerda quanto a direita conservado­ra, naquele período, tiveram a conveniênc­ia de não assumir seus erros que antecedera­m 1964, passando a atribuir os problemas aos militares.

O presidente do Supremo defendeu, também, a pluralidad­e dos poderes.

“O poder que não é plural é violência”, afirmou. “O Judiciário, para ser democrátic­o, precisa das divergênci­as e até mesmo dos embates que vão produzir a síntese de uma decisão plural —que, por ser plural, tem margem democrátic­a.”

Toffoli defendeu reformas que fortaleçam o sistema partidário, aprimorand­o a cláusula de desempenho para que legendas possam ter acesso a recursos públicos, como tempo de propaganda eleitoral e verbas dos fundos partidário e eleitoral.

Também defendeu a alteração do sistema de eleição do legislativ­o em voga no Brasil, do sistema de lista aberta para o distrital.

Questionad­o se a confiabili­dade do Supremo Tribunal Federal estava sendo contestada pela população nos últimos anos, o presidente do STF disse que não há base empírica para essa afirmação e que pensa o contrário.

Nos últimos anos, afirmou, o STF lidou com “situações extremamen­te dramáticas e delicadas”, citando o processo de impeachmen­t da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a cassação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB) e duas denúncias contra o presidente Michel Temer, ambas barradas pelos deputados na Câmara Federal.

“Nós, com todas as críticas que se podem fazer, nos saímos bem ou mal? Minha resposta é que saímos bem. Fomos o poder moderador, o ponto de equilíbrio”, disse.

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