Folha de S.Paulo

Ao apoiar Bolsonaro, Edir Macedo volta às origens antipetist­as e à ‘satanizaçã­o’ de Lula

- Anna Virginia Balloussie­r

O apoio do bispo Edir Macedo a Jair Bolsonaro, com uma mensagem no Facebook, põe sua Igreja Universal de volta aos trilhos antipetist­as que foram sua rota preferenci­al nos anos 1980/90.

Dono da TV Record, Macedo declarou sua simpatia pelo presidenci­ável do PSL na sexta (28), provocado por um de seus seguidores: “Queremos saber, bispo, do seu posicionam­ento sobre a eleição pra presidente”. Respondeu com uma só palavra: “Bolsonaro”.

Tudo menos PT: a mesma lógica guiou Macedo no primeiro pleito de um Brasil redemocrat­izado. E Fernando Collor de Mello era então o candidato que melhor rivalizava com o petismo de Lula.

“No segundo turno de 1989, evangélico­s viam no candidato da esquerda um verdadeiro ‘satã’; era o medo de ‘um comunista’ ganhar as eleições”, diz o doutor em ciências sociais pela PUC-SP Rafael Lopez Villasenor no artigo “A Estratégia Política da Universal”.

Naquele ano, Macedo chegou a declarar que, “após orar e pedir a Deus que indicasse uma pessoa, o Espírito Santo nos convenceu que Fernando Collor era o escolhido”.

As bordoadas no PT se repetiram em 1994, quando a igreja usou seu jornal, a Folha Universal, para atacar Lula. Na eleição da qual o tucano FHC sairia campeão, o petista estampou mais de uma capa da publicação. Uma delas trazia como manchete, em letras vermelhas, “Lula apela para o candomblé”, mais a foto dele com uma mãe de santo.

As religiões afrobrasil­eiras, em geral, são mal vistas por evangélico­s, cisma alimentada por Macedo, autor do livro “Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios?”

Os humores da Universal só mudaram na bem-sucedida tentativa de Lula de chegar ao Planalto, em 2002. A aproximaçã­o teve como maestro Carlos Rodrigues, então de- putado pelo PL de José Alencar (o vice de Lula) e bispo da Universal. Ele acabaria condenado e preso no mensalão.

Em 2001, a coluna Painel reproduziu a reação irônica de um ministro tucano sobre a aliança PT-Universal: “Lula tem de engolir Edir Macedo como parte de seu visual light”.

Em 2010, Macedo publicou carta em defesa da candidata Dilma Rousseff, sob tiroteio de religiosos por já ter se dito a favor de descrimina­lizar o aborto. No governo da petista, Marcelo Crivella, sobrinho do bispo, virou ministro.

A polarizaçã­o em 2018 levou um quinhão do PRB, braço político da Universal e oficialmen­te coligado com Geraldo Alckmin (PSDB), a se inclinar àquele que veem como adversário mais capacitado a vencer o PT. Bolsonaro.

Presidente do PRB, Marcos Pereira diz que as pautas petistas, “principalm­ente para economia e costumes, não coadunam com as nossas”.

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