Folha de S.Paulo

Campo dribla falta de internet para usar tecnologia de dados

Soluções criativas buscam impulsiona­r nova onda de produtivid­ade no país

- Filipe Oliveira

Drones para capturar imagem da plantação e analisar seu desenvolvi­mento, sensores no solo para avaliar a necessidad­e de irrigação e análise de dados coletados por máquinas prometem trazer uma nova onda de ganho de produtivid­ade no campo baseada na digitaliza­ção.

Porém tornar o uso dessa tecnologia de dados viável depende do desenvolvi­mento de ferramenta­s que permitam driblar a falta de conectivid­ade em grande parte da área rural brasileira.

Cleber Soares, diretor-executivo de tecnologia e inovação da Embrapa, diz acreditar que a maior parte dos ganhos do setor virá da agricultur­a digital, de ferramenta­s como inteligênc­ia artificial, visão computacio­nal e internet das coisas.

“Já se investiu muito em melhoramen­to da estrutura genética dos grãos, na melhoria do sistema de produção. Quem trará os próximos ganhos de produtivid­ade será a economia digital”, afirma Soares.

Para tentar fazer com que essa promessa vire realidade, a fabricante de máquinas americana John Deere anunciou em maio parceria com a empresa de equipament­os de telecomuni­cações Trópico para instalar torres de transmissã­o em fazendas.

Rodrigo Bonato, diretor de vendas da companhia, explica que, quando há conexão, as informaçõe­s colhidas por sensores das máquinas, como pulverizad­ores, tratores e colheitade­iras, podem ser transmitid­as rapidament­e para o escritório ou para a nuvem.

Com isso, ferramenta­s de análise de dados são capazes de dar orientaçõe­s ao operador dos equipament­os.

Mateus Barros, líder de ne- gócios para a América Latina da Climate, plataforma de tecnologia da Monsanto, diz que foi necessário adaptar os sensores que a empresa instala em máquinas nos Estados Unidos para que conseguiss­em coletar dados mesmo sem conexão.

O serviço da empresa combina dados sobre solo, plantio, clima e dados oriundos de máquinas, satélites e drones para dar recomendaç­ões para o produtor, como qual semente deve ter melhor desempenho no local, qual a data adequada para plantar e se há alguma falha na plantação.

A versão brasileira dos equipament­os envia as informaçõe­s para tablets ou celulares via Bluetooth.

“A experiênci­a vai ser ainda melhor quando a conexão à internet estiver presente. Mas, hoje, qualquer agricultor pode sincroniza­r a informação uma ou duas vezes por dia e ter benefícios”, diz Barros.

No caso da startup Agrosmart, que instala sensores no solo e nas culturas para avaliar a necessidad­e de irrigação e o risco de pragas, a opção foi oferecer ao produtor uma rede privada para permitir transmissã­o de dados.

“A responsabi­lidade por resolver isso deve ser nossa, não do produtor”, diz Raphael Pizzi, diretor de produto.

Ele explica que em regiões mais próximas a cidades, no Sudeste, a conexão é feita por GSM [tecnologia usada em redes de celulares]. Quando ela não está disponível, a empresa usa internet via satélite ou redes LoRa ou Sigfox.

Outra empresa nova do setor, a Horus, que fabrica drones e oferece serviços de mapeamento e monitorame­nto, de pragas e de problemas nutriciona­is, colocou nos equipament­os um cartão de memória para armazenar dados.

As informaçõe­s são descarrega­das mais tarde. “Temos resolvido a falta de conexão usando a criativida­de”, afirma Fabrício Hertz, fundador da startup.

Na empresa agroquímic­a Adamá, a falta de conectivid­ade limita até mesmo os tipos de cultura nas quais a empresa usa armadilhas inteligent­es.

A ferramenta, uma caixa com adesivo de hormônio para atrair pragas, que ficam grudadas ao encostar nele, e câmera para identifica­r o número de insetos capturados para avaliar a necessidad­e de uso de defensivos agrícolas, é oferecida para plantações de maçã, que se concentram na região Sul, onde há mais conexão com a internet.

Também serviriam para soja ou algodão em estados como Mato Grosso, mas a falta de conexão impede o procedimen­to, diz Roberson Marczak, gerente de inovação da empresa.

Segundo Eduardo Tude, presidente da consultori­a especializ­ada em telecomuni­cações Teleco, as redes de internet no Brasil foram criadas para cobrir áreas urbanas.

“As operadoras de celular devem investir em bandas voltadas para a internet das coisas a partir de 2019 para atender a esse público [rural]”, diz.

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Marlene Bergamo/Folhapress Sítio da Embrapa, em Jaguariúna (SP), tem torres para transmitir dados

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