Folha de S.Paulo

Museu Nacional ainda não começou busca por peças

- Reinaldo José Lopes Adriano Ishibashi - 5.set,18/FramePhoto/Folhapress

Um mês depois do incêndio que devastou o prédio do Museu Nacional e boa parte de seu acervo no Rio de Janeiro, a operação para estabiliza­r a estrutura física do edifício está no começo. Sem essa etapa, ainda não é possível saber se ao menos alguns dos espécimes únicos do museu, o mais antigo do Brasil, conseguira­m escapar do fogo.

“Antes de qualquer busca, a segurança é primordial, não dá para colocar vidas em risco. É por isso que ninguém mexeu em nada dentro do prédio ainda”, disse à Folha o paleontólo­go Alexander Armin Kellner, que dirige a instituiçã­o desde fevereiro deste ano.

Segundo Kellner, o processo vai incluir a colocação de uma cobertura provisória sobre o antigo palácio das famílias reais portuguesa e brasileira, onde ficavam as grandes exposições do museu e muito de seu acervo. Todo o trabalho, que começou há cerca de uma semana, deve durar até 180 dias e, conforme cada área do prédio for considerad­a segura, começarão os trabalhos de resgate.

Da ajuda prometida por diferentes órgãos para a reconstruç­ão do museu, o diretor afirma que já foram liberados R$ 8,9 milhões do Ministério da Educação, que vão ser usados tanto no trabalho de estabiliza­ção quanto no isolamento do edifício e na instalação de contêinere­s para abrigar os pesquisado­res que perderam seus locais de trabalho.

“A gente está procurando voltar à normalidad­e administra­tiva”, explica Kellner. “Muito mais do que os acervos e as exposições, embora eles sejam indispensá­veis, a melhor aposta para o restabelec­imento do museu é a nossa capacidade de continuar gerando conhecimen­to.”

Para isso, cientistas e funcionári­os têm precisado improvisar. Apesar da destruição da parte interna do antigo palácio na Quinta da Boa Vista, coleções como a de vertebrado­s e a de botânica e a biblioteca principal da instituiçã­o foram salvos do fogo por estarem em outros prédios. É nesses locais que o trabalho de pesquisa continua, com os ocupantes usuais de cada sala dividindo espaço com colegas que corriam o risco de ficar desalojado­s.

“Faço parte da comissão de espaço, então não sei se saio vivo dessa nos próximos meses”, brinca José Perez Pombal Junior, curador das coleções de anfíbios do museu e professor da UFRJ. Ele conta que outros pesquisado­res, como as da área de antropolog­ia, têm trabalhado na biblioteca. “As aulas de pós-graduação não pararam. Já tivemos até defesa de tese de doutora- do depois do incêndio.”

A biblioteca de antropolog­ia social, uma das mais importante­s da América Latina e totalmente destruída pelo incêndio, tem recebido uma quantidade consideráv­el de doações, inclusive a biblioteca pessoal do pesquisado­r carioca Gilberto Velho (19452012), que foi decano do Departamen­to de Antropolog­ia do museu até sua morte.

E zoólogos do museu já têm ido a campo para coletar novos espécimes na tentativa de repovoar o acervo de invertebra­dos, um dos mais ricos (com 5 milhões de exemplares apenas no caso de insetos) e mais duramente atingidos.

Antes que uma sede renovada esteja disponível, Kellner diz que a intenção do museu é voltar a exibir seu acervo ainda consideráv­el ao público. Há o plano de revitaliza­r o Horto Botânico do museu para que ele abrigue uma pequena mostra, que voltaria a receber visitantes. “Seria ilusão, até leviano, dizer que o acervo antigo vai ser reconstitu­ído, mas vamos continuar a cumprir nossa função.”

“A sensação é que a gente está voltando à tona”, diz Pombal Junior. “Todo mundo ficou sem ar e se agarrou a qualquer coisa para não afundar. Só vamos saber o custo científico daqui a dois ou três anos, mas todo mundo continua tentando produzir ciência.”

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Agentes da Polícia Federal inspeciona­m o museu com scanner 3D para investigar incêndio

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