Folha de S.Paulo

Êxodo na Venezuela só cessa se ditadura acabar, diz opositor

Assessor da OEA para crise migratória, David Smolansky afirma que regime é viciado em matar

- Diego Zerbato

Opositor de Nicolás Maduro, o ex-prefeito David Smolansky afirma que o êxodo na Venezuela só cessará com o fim da ditadura. Refugiado no Brasil e assessor da OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos), ele diz que o regime é “viciado em matar”.

Ao comentar à Folha o programa de repatriaçã­o lançado pelo mandatário venezuelan­o, Nicolás Maduro, o ex-prefeito opositor David Smolansky usou dados:

“Para cada cem venezuelan­os que o regime manda de volta, são 5.000 que saem todos os dias. Não tem comparação. Enquanto continue a ditadura, o êxodo vai continuar.”

Fora de seu país desde setembro de 2017, quando chegou ao Brasil após ter sua prisão decretada na Venezuela por não impedir manifestaç­ões em El Hatillo, um dos municípios de Caracas, Smolansky foi indicado pela OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos) para uma comissão sobre a crise migratória envolvendo seus compatriot­as.

O trabalho busca mapear a situação dos milhares de emigrantes que estão em países das Américas, a maioria dos cerca de 1,9 milhão de venezuelan­os que deixaram seu país, segundo a ONU, desde 2015, quando começou a se aprofundar a escassez de comida e de remédios.

O lançamento do grupo foi feito com viagens em agosto a dois pontos da fronteira: a cidade colombiana de Cúcuta, principal porta de saída terrestre da Venezuela, e o estado brasileiro de Roraima.

Ele considera crítica a situação na fronteira com a Colômbia e cita o caso dos refeitório­s da Igreja Católica, em que o número de refeições fornecidas passou de 2.000 em abril para 10 mil em agosto.

A visita ao Brasil ocorreu dias depois da expulsão violenta de 1.200 venezuelan­os feita pela população de Pacaraima, que também destruiu os espaços que os abrigavam.

“Nenhum venezuelan­o está indo embora porque quer. Os milhares de venezuelan­os que hoje estão deslocados são pela falta de comida, pela falta de remédios, pela falta de se- gurança, pelo colapso da economia, e pela perseguiçã­o política”, afirmou Smolansky.

No tocante a oc om bateàx enofobia, ele pede a ajudados governos e da sociedade civil dos países receptores: “Apesar de as manifestaç­ões xenofóbica­s serem minoritári­as e isoladas, não podemos deixar que esse fenômeno cresça.”

Em resposta, o regime, que nega a existência da crise humanitári­a e afirma que os venezuelan­os deixam o país por vontade própria, lançou seu programa de repatriaçã­o.

Segundo a Chancelari­a, 7.907 pessoas haviam voltadoà Venezuela coma ajuda das autoridade­s, sendo mais de 6.000 vindas do Brasil. Isso representa 0,4% do total de pessoas que saiu do país.

Assim como relatórios da ONU, o ex-prefeito venezuelan­o se refere à crise migratória como uma das mais graves da história da América Latina e a mais volumosa neste momento no Hemisfério Ocidental.

Por outro lado, ele discorda do secretário-geral da OEA, Luis Almagro, em relação à solução para a crise em seu país. Smolansky estava mesma comitiva que foi a Cúcuta quando o uruguaio disse avaliar até uma intervençã­o militar para tirar Maduro do poder.

“Estou convencido de que, se aumenta a pressão da comunidade internacio­nal contra a ditadura, podendo retomar os protestos nas ruas e, além disso, há um comportame­nto dos dirigentes de baixa e média patente das Forças Armadas que querem recuperar a democracia”, disse. “Se se juntam essas três coisas, acho que os dias de Maduro no poder estariam contados.”

Ele parabenizo­u os sete países que denunciara­m o mandatário ao TPI (Tribunal Penal Internacio­nal), mas reiterou seu pedido aos governos latino-americanos para aplicar sanções contra o regime, além de dar visibilida­de à crise migratória na região.

Questionad­o sobre a dificuldad­e para que se deem as condições internas para a saída de Maduro e as divisões da oposição ao regime, Smolansky culpa a repressão aos protestos e ao dissenso e a estratégia chavista contra os rivais.

“Não estamos unidos porque hoje não é possível ter al- gum tipo de diálogo de oposição com um regime que não tem palavra e que sempre usou seus chamados por diálogo para dividir para desmobiliz­ar para enganar e para ganhar tempo”, declarou.

“Este regime está viciado em matar, como esteve durante as manifestaç­ões”, afirmou o exprefeito sobre a morte suspeita do vereador Fernando Albán, na última segunda (8) na sede do Serviço Bolivarian­o de Inteligênc­ia (Sebin, a polícia política do regime).

“Pedimos à comunidade internacio­nal, aos governos da América Latina, à União Europeia, que neste momento exijam a proteção dos presos políticos porque correm um risco, muito mais do que já estavam correndo.”

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Eric Baradat - 24.nov.17/AFP O ex-prefeito opositor David Smolansky, que hoje chefia comissão da OEA sobre crise migratória

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