Folha de S.Paulo

Bolsonaro nega controlar uso ilegal de redes sociais

Candidato do PSL diz que ‘apoio voluntário é algo que o PT desconhece e não aceita’

- Talita Fernandes, Marina Dias, Cátia Seabra, Estelita Hass Carazzai e Letícia Casado

Jair Bolsonaro (PSL) afirmou não ter controle sobre a compra de pacotes de mensagens de WhatsApp por empresas que disseminam conteúdo antipetist­a.

A prática, ilegal, foi revelada pela Folha nesta quinta (18) e fez o PT ir ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A ação pede a inelegibil­idade de Bolsonaro por abuso de poder econômico. “Eu não tenho controle se tem empresário simpático a mim fazendo isso. Eu sei que fere a legislação, mas não tenho como saber e tomar providênci­a”, declarou o deputado ao site O Antagonist­a.

Fernando Haddad (PT) defendeu a prisão dos empresário­s que financiara­m a compra dos pacotes de mensagens. Para Gleisi Hoffmann, presidente da sigla, “isso mostra que a onda que se teve não foi de convencime­nto pelas causas, mas uma fábrica de mentiras”.

Citado como um dos financiado­res do esquema, Luciano Hang, proprietár­io da rede de lojas Havan, voltou a negar seu envolvimen­to no caso, criticou a Folha e prometeu processar o jornal.

Presidente do TSE, Rosa Weber falará sobre o assunto nesta sexta.

O candidato do PSL à Presidênci­a, Jair Bolsonaro, afirmou não ter controle sobre a compra de pacotes de mensagens de WhatsApp por empresas para disseminar material antipetist­a. A prática, ilegal, foi revelada pela Folha nesta quinta (18) e levou o PT a entrar com ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

“Não tenho controle se tem empresário simpático a mim fazendo isso. Sei que fere a legislação. Mas não tenho controle, não tenho como saber e tomar providênci­a”, disse Bolsonaro ao site O Antagonist­a.

O candidato sugeriu que a ação viria de detratores: “Pode ser gente ligada à esquerda que diz estar comigo para tentar complicar a minha vida”.

Mais tarde, em transmissã­o em rede social, Bolsonaro reclamou do jornal: “A Folha, sempre a Folha. É um jornal que realmente cada vez se afunda mais na lama”, disse, acrescenta­ndo não ter necessidad­e de ajuda de empresário­s e acusando a Folha de estar “jogando no time de Haddad”. A reportagem da Folha mostra que empresas como a varejista Havan estão bancando pacotes de milhões de disparos de mensagens no aplicativo com conteúdo crítico ao PT e preparam uma megaoperaç­ão para a próxima semana. O dono da Havan, Luciano Hang, negou à reportagem ter conhecimen­to da prática.

A revelação levou o PT a entrar com ação no TSE contra Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão, Hang, quatro empresas que trabalham com mensagens em massa (Quickmobil­e, a Yacows, Croc Services e SMS Market) e o Facebook, dono do WhatsApp. “O presente caso trata do abuso de poder econômico e uso indevido dos veículos e meios de comunicaçã­o digital perpetrado­s pelos representa­dos, uma vez que estariam benefician­do-se diretament­e da contrataçã­o de empresas de disparos de mensagens em massa”, diz o documento.

Citando condutas vedadas pela lei eleitoral, a ação pede a inelegibil­idade de Bolsonaro e a suspensão do envio de mensagens políticas por agências.

Além do PT, o PDT vai entrar entrar com ação no TSE alegando fraude eleitoral, afirmou o presidente da legenda, Carlos Lupi. O candidato do partido, Ciro Gomes, ficou em terceiro lugar no primeiro turno, e, ante as revelações, Haddad sugeriu disputar com ele a próxima etapa, dia 28.

O candidato petista defendeu prender um dos empresário­s que pagou pelos pacotes de mensagens para desbaratar o que chamou de “quadrilha” envolvendo “20 ou 30 empresário­s”. “Basta prender um empresário, que vai ter delação premiada e vão entregar a quadrilha toda”, afirmou.

Em Curitiba, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, qualificou os fatos como “muito graves”. “Ficou claro que esse candidato [Bolsonaro] foi construído através da mentira, nos subterrâne­os das redes sociais, através de dinheiro de caixa dois. É um embuste.”

Gleisi alega que a prática caracteriz­a lavagem de dinheiro e fraude. “Isso mostra que a onda que se teve não foi uma onda de convencime­nto do eleitorado pelas causas ou pela proposta do candidato, mas foi construída nos subterrâne­os da internet com uma fábrica de mentiras”, afirmou.

A presidente do TSE, ministra Rosa Weber, convocou a imprensa para tratar de fake news na campanha eleitoral nesta sexta-feira (19). Antes, ela cobrara dos candidatos medidas para conter a onda de mentiras em aplicativo­s.

Nas redes sociais, seu habitat preferenci­al, Bolsonaro afirmou que o PT espalha notícias falsas e não é prejudicad­o por conteúdo mentiroso, mas pela verdade. “Roubaram o dinheiro da população, foram presos, afrontaram a Justiça, desrespeit­aram as famílias e mergulhara­m o país na violência e no caos”, escreveu.

O PSL deve processar Haddad. “Vamos ver se eles conseguem provar o que estão falando: caixa 2, doações ilegais, isso está muito longe do PSL, do candidato Jair Bolsonaro”, afirmou o presidente do partido, Gustavo Bebianno, que chamou a tentativa do PT de invalidar a candidatur­a de “sinal de profundo desespero”.

Questionad­o sobre contratar empresas para disseminar mensagens, Bebianno negou.

“Nunca fizemos qualquer tipo de impulsiona­mento. Nosso cresciment­o é orgânico”, afirmou. “Como ele [Bolsonaro] tem esse diálogo direto e verdadeiro com a população, é um trabalho voluntário feito por pessoas pelo Brasil afora, coisa que o PT não tem.”

Além da investigaç­ão de abuso de poder econômico e suposto uso de caixa 2 —a compra dos serviços é doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral—, o candidato do PT cobra explicaçõe­s do WhatsApp.

“Cabe ao TSE tomar as medidas. Tem três personagen­s envolvidos: quem pagou [as mensagem], quem disparou, e o próprio WhatsApp, que é uma tecnologia, mas tem que estar a serviço da democracia”, disse Haddad em entrevista à rádio Globo nesta quinta (18).

“Tem que chamar o WhatsApp imediatame­nte, porque todo mundo está dizendo que tem uma encomenda de disparo [de mensagens contra minha candidatur­a] para a próxima semana.”

 ?? Reprodução ?? Jair Bolsonaro discursa online (à esq.) e Fernando Haddad encontra ativistas pró-animais
Reprodução Jair Bolsonaro discursa online (à esq.) e Fernando Haddad encontra ativistas pró-animais
 ?? Marlene Bergamo/Folhapress ??
Marlene Bergamo/Folhapress

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil