Folha de S.Paulo

Com exterior e rumor sobre BC, Bolsa cai e dólar acelera

Analistas reduziram impacto de notícia de caixa dois em campanha de Bolsonaro e atribuíram dia negativo ao exterior

- Tássia Kastner

Em dia negativo para o mercado financeiro no mundo, a Bolsa brasileira recuou acima de 2% e o dólar subiu mais de 1%, fechando cotado a R$ 3,725.

A alta da moeda se acentuou com a informação da agência Bloomberg de que Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central, não pretende continuar no cargo em um eventual governo Bolsonaro.

Depois de dias concentrad­o no noticiário eleitoral, o mercado doméstico acompanhou o desempenho negativo do exterior nesta quinta-feira (18).

A Bolsa recuou mais de 2%, enquanto o dólar subiu mais de 1% e voltou a fechar acima de R$ 3,70, movimento que foi acelerado no final do pregão com notícias locais.

A moeda americana teve valorizaçã­o de 1,16%, a R$ 3,7250.

A alta se acentuou no fim do dia, quando a agência de notícias Bloomberg publicou que Ilan Goldfajn pretende sair da presidênci­a do Banco Central ao fim do governo Temer.

A notícia agravou o dia que já vinha negativo para emergentes: de uma cesta de 24 divisas, o dólar ganhou sobre 22.

Já a Bolsa brasileira perdeu 2,23%, a 83.847 pontos, pressionad­a pelas baixas nos papéis de estatais, Vale e do setor bancário. Aqui também houve impacto da notícia dos planos de Ilan.

A chapa de Jair Bolsonaro (PSL), preferida pelo mercado financeiro, vinha ventilando planos de manter o economista à frente do BC, sinalizand­o compromiss­o com a independên­cia da instituiçã­o.

Seria mais um aceno ao mercado de que o capitão reformado do Exército, líder das pesquisas de intenção de voto, está comprometi­do com uma agenda econômica liberal.

Nesta quinta, o noticiário eleitoral foi pautado pela reportagem publicada pela Fo- lha sobre empresário­s que estariam bancando campanha anti-PT pelo WhatsApp.

A medida beneficiar­ia Bolsonaro, líder nas pesquisas, em detrimento de Fernando Haddad (PT).

A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada.

No entanto, o mercado financeiro minimizou o impacto da reportagem sobre o cenário eleitoral a poucos dias do segundo turno.

“Essa notícia está repercu- tindo no meio político e nas redes sociais, mas, em termos de mercado, não sei se está fazendo preço. Para que tudo isso se torne preço, será preciso apresentar provas, entrar com pedido de impugnação [da chapa de Bolsonaro]”, diz Alexandre Espírito Santo, da Órama Investimen­tos.

O PDT, do candidato Ciro Gomes (preterido pelos eleitores no primeiro turno), e o PT disseram que pediriam a impugnação da chapa de Bolsonaro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Também no campo de notícias eleitorais, analistas avaliaram os efeitos da divulgação da pesquisa Datafolha, no Jornal Nacional, na noite desta quinta.

Bolsonaro tem aparecido com ampla vantagem sobre Haddad na preferênci­a dos eleitores, o que, para o mercado financeiro, diminuiu as chances de um resultado diferente da vitória do deputado.

De forma geral, o dia foi negativo para os principais mercados de risco mundiais, com quedas expressiva­s nas Bolsas chinesas, americanas e europeias. E foi a isso que analistas locais atribuíram o desempenho negativo local.

No exterior, investidor­es continuara­m repercutin­do a ata do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que apontou decisão unânime de elevar os juros em setembro.

O mercado agora projeta se ocorrerão altas além das atualmente previstas.

Pesam ainda os riscos de agravament­o de disputas comerciais conduzidas pelos EUA, a dificuldad­e do Reino Unido de conduzir o “brexit” e a crise orçamentár­ia da Itália. O noticiário está na pauta de investidor­es há semanas.

“Estamos vivendo um momento de repensar o que vem acontecend­o lá fora”, afirma Espírito Santo.

“É claro que o tópico principal é eleitoral. Mas alguns dias em que sobe muito ou cai muito não tem como passar 100% imune [ao exterior]”, diz Roberto Indech, da Rico Corretora.

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Brendan McDermid/Reuters Operadores do mercado financeiro trabalham na Bolsa de Nova York, que teve dia de perdas nesta quinta

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