Modelo emergente permitiu liderança a ‘defensor de ricos’
Os dados do Datafolha sugerem estabilidade do quadro eleitoral para presidente apouco mais de uma semana do2º turno. Se a onda conservadora parou de evoluir, o fez emp atamares confortáveis a Jair Bolsonaro ( PSL ). Amaré está favorável a ele, que consegue oscilações positiva sem segmentos estratégicos como os menos escolarizados e os mais jovens.
No entanto, vale ressaltar que o campo foi feito antes de informações reveladas pela Folha sobre a participação de empresas na contratação de serviços via WhatsApp para a campanha de Bolsonaro. Dependendo de como a repercussão se dará e em quais estratos se concentrará, mudanças podem ou não acontecer.
A atual diferença em 18 pontos percentuais para Fernando Haddad (PT) só é superada, em período equivalente, pelas vantagens de Lula sobre Serra e Alckmin nas fases decisivas dos pleitos de 2002 e 2006, quando o petista chegou a abrir vantagens de 32 e 20 pontos, respectivamente.
No segundo turno de 1989, faltando dez dias para a eleição, Fernando Collor (PRB) oscilou negativamente de 54% para 52% e Lula positivamente de 46% para 48%, empatando tecnicamente acorrida. Em 2010, na mesma época, Dilma Rousseff (PT) chegou a 12 pontos de diferença em relação a José Serra (PSDB) e em 2014, nesse período, a petista ainda estava numericamente atrás de Aécio Neves (PSDB).
Com o panorama, percebese que a campanha de Haddad entra em período crítico. O grau de cristalização do voto supera 90%, especialmente entre eleitores de Bolsonaro.
Esse grau de fidelização, combinado à rejeição majoritária ao petista, sugere diminuição do espaço a ser trabalhado pelo PT. A desconstrução do adversário em estratos de grande peso, como setores intermediários da classe média, poderia ser uma saída.
Haddad repete em escala nacional a dificuldade que demonstrou em sua campanha de reeleição para prefeito de São Paulo, de se comunicar com esses segmentos economicamente ativos, de escolaridade média e superior, mas que ganham salários baixos.
Diferentemente dos excluídos, presentes em maior parte no Nordeste (único estrato em que o petista ganha de Bolsonaro, com 60% dos votos válidos), o miolo da classe média passou por um processo de aburguesamento de valores em que o autoritarismo de Bolsonaro promete trazer ordem aos serviços públicos, para que possam alcançar na esfera privada (proteção à família, instituição mais valorizada pelos brasileiros), por méritos próprios (trabalho), o estilo de modelos das classes mais altas que aspiram. Não à toa, a maioria vota em Bolsonaro mesmo o considerando defensor dos ricos.
É a primeira vez que um candidato a presidente lidera a disputa carregando a alcunha. Desde que o Datafolha começou a aplicar a pergunta, os nomes mais citados no quesito eram justamente os que viriam a ser derrotados —os tucanos Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves.
Talvez porque nenhum deles trouxesse consigo não só a marca de combate à violência, adequada à demanda, como também e principalmente a sinceridade que o eleitor identifica em Bolsonaro.
Haddad não domina esses códigos, ao contrário de Lula, que liderou a corrida mesmo preso por corrupção. Nas perguntas de imagem dos candidatos, Haddad é primeiro em só dois tópicos —o que mais defende os pobres (espólio lulista) e o que mais faz promessas que não poderá cumprir (marcador de desconfiança).
O antipetismo é enraizado nas classes mais altas, mas é relativizado pela figura de Lula nos setores intermediários da classe média. Bolsonaro ocupou parte desse território pela linguagem anti-intelectual, já que o PT perdeu seu interlocutor com o segmento.
Sob esse aspecto, a proposta de Ciro no primeiro turno de tirar o nome dos devedores do SPC tem mais aderência no estrato cidadão/consumidor do que políticas públicas de difícil compreensão.
Agora, engana-se quem acredita que uma vitória de Bolsonaro configure “cheque em branco” —os brasileiros condenam práticas antidemocráticas e violentas que marcaram a ditadura militar.