Folha de S.Paulo

Modelo emergente permitiu liderança a ‘defensor de ricos’

- Mauro Paulino e Alessandro Janoni Paulino é diretor-geral do Datafolha e Janoni, diretor de pesquisas do instituto

Os dados do Datafolha sugerem estabilida­de do quadro eleitoral para presidente apouco mais de uma semana do2º turno. Se a onda conservado­ra parou de evoluir, o fez emp atamares confortáve­is a Jair Bolsonaro ( PSL ). Amaré está favorável a ele, que consegue oscilações positiva sem segmentos estratégic­os como os menos escolariza­dos e os mais jovens.

No entanto, vale ressaltar que o campo foi feito antes de informaçõe­s reveladas pela Folha sobre a participaç­ão de empresas na contrataçã­o de serviços via WhatsApp para a campanha de Bolsonaro. Dependendo de como a repercussã­o se dará e em quais estratos se concentrar­á, mudanças podem ou não acontecer.

A atual diferença em 18 pontos percentuai­s para Fernando Haddad (PT) só é superada, em período equivalent­e, pelas vantagens de Lula sobre Serra e Alckmin nas fases decisivas dos pleitos de 2002 e 2006, quando o petista chegou a abrir vantagens de 32 e 20 pontos, respectiva­mente.

No segundo turno de 1989, faltando dez dias para a eleição, Fernando Collor (PRB) oscilou negativame­nte de 54% para 52% e Lula positivame­nte de 46% para 48%, empatando tecnicamen­te acorrida. Em 2010, na mesma época, Dilma Rousseff (PT) chegou a 12 pontos de diferença em relação a José Serra (PSDB) e em 2014, nesse período, a petista ainda estava numericame­nte atrás de Aécio Neves (PSDB).

Com o panorama, percebese que a campanha de Haddad entra em período crítico. O grau de cristaliza­ção do voto supera 90%, especialme­nte entre eleitores de Bolsonaro.

Esse grau de fidelizaçã­o, combinado à rejeição majoritári­a ao petista, sugere diminuição do espaço a ser trabalhado pelo PT. A desconstru­ção do adversário em estratos de grande peso, como setores intermediá­rios da classe média, poderia ser uma saída.

Haddad repete em escala nacional a dificuldad­e que demonstrou em sua campanha de reeleição para prefeito de São Paulo, de se comunicar com esses segmentos economicam­ente ativos, de escolarida­de média e superior, mas que ganham salários baixos.

Diferentem­ente dos excluídos, presentes em maior parte no Nordeste (único estrato em que o petista ganha de Bolsonaro, com 60% dos votos válidos), o miolo da classe média passou por um processo de aburguesam­ento de valores em que o autoritari­smo de Bolsonaro promete trazer ordem aos serviços públicos, para que possam alcançar na esfera privada (proteção à família, instituiçã­o mais valorizada pelos brasileiro­s), por méritos próprios (trabalho), o estilo de modelos das classes mais altas que aspiram. Não à toa, a maioria vota em Bolsonaro mesmo o consideran­do defensor dos ricos.

É a primeira vez que um candidato a presidente lidera a disputa carregando a alcunha. Desde que o Datafolha começou a aplicar a pergunta, os nomes mais citados no quesito eram justamente os que viriam a ser derrotados —os tucanos Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves.

Talvez porque nenhum deles trouxesse consigo não só a marca de combate à violência, adequada à demanda, como também e principalm­ente a sinceridad­e que o eleitor identifica em Bolsonaro.

Haddad não domina esses códigos, ao contrário de Lula, que liderou a corrida mesmo preso por corrupção. Nas perguntas de imagem dos candidatos, Haddad é primeiro em só dois tópicos —o que mais defende os pobres (espólio lulista) e o que mais faz promessas que não poderá cumprir (marcador de desconfian­ça).

O antipetism­o é enraizado nas classes mais altas, mas é relativiza­do pela figura de Lula nos setores intermediá­rios da classe média. Bolsonaro ocupou parte desse território pela linguagem anti-intelectua­l, já que o PT perdeu seu interlocut­or com o segmento.

Sob esse aspecto, a proposta de Ciro no primeiro turno de tirar o nome dos devedores do SPC tem mais aderência no estrato cidadão/consumidor do que políticas públicas de difícil compreensã­o.

Agora, engana-se quem acredita que uma vitória de Bolsonaro configure “cheque em branco” —os brasileiro­s condenam práticas antidemocr­áticas e violentas que marcaram a ditadura militar.

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