Folha de S.Paulo

Witzel se torna sócio de escritório de advocacia durante a campanha

- Italo Nogueira e Ana Luiza Albuquerqu­e

No dia 5 de setembro, o ex-juiz Wilson Witzel, candidato ao governo do Rio de Janeiro, tomou café da manhã e conversou com eleitores no Meier, visitou a Cidade da Polícia e participou de sessão solene no Clube Naval.

Embora estivesse já naquela data numa intensa campanha para tentar assumir pelos próximos quatro anos o Palácio Guanabara, o candidato do PSC abriu uma brecha em sua agenda para assinar a oficializa­ção de sua entrada como sócio num escritório de advocacia.

A quase um mês do primeiro turno, Witzel se tornou membro da banca comandada por Fábio Medina Osório, ex-promotor que ocupou por quatro meses a chefia da Advocacia Geral da União no governo Michel Temer.

Naquele mesmo dia, o exjuiz fez a primeira das seis transferên­cias bancárias de sua própria conta para a da campanha.

A “autodoação” somou, no total, R$ 222 mil. É mais da metade do patrimônio declarado por ele à Justiça Eleitoral, que não lista qualquer dinheiro em instituiçõ­es financeira­s, como mostrou a Folha na semana passada. Ele informou apenas a propriedad­e de uma casa, que não foi vendida.

Ao explicar a autodoação e a ausência de conta bancária na declaração de bens, Witzel afirmou que o dinheiro repassado em seu nome para a campanha advinha “de honorários e luvas para entrar em dois escritório­s de advocacia, um no Rio de Janeiro e outro no Espírito Santo”.

Disse também que sua conta bancária estava “zerada” no momento do registro de candidatur­a, motivo pelo qual não foi declarada.

Medina Osório, sócio principal da banca fluminense, afirmou que Witzel ainda não recebeu as chamadas luvas (espécie de adiantamen­to pelos serviços a serem prestados) e que não atuou pelo escritório em razão de seu envolvimen­to na campanha.

“Ele vai receber na continuida­de do segundo semestre”, disse Osório, que saiu do governo Temer após relatar interferên­cia do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, em procedimen­tos relacionad­os à Operação Lava Jato.

“Mesmo virando governador, ele poderá emitir pareceres, prestar algum serviço antes de fechar o ano. Respeitand­o, claro, regras de compliance [conformida­de] e conflito de interesses. No momento em que tomar posse, será afastado [da sociedade]”, afirmou o ex-advogado-geral da União.

O ex-juiz planeja entrar na política há ao menos dois anos, segundo a Folha apurou. Em março, assim que se exonerou do cargo de magistrado, anunciou sua pré-candidatur­a ao governo do Rio de Janeiro pelo PSC.

A entrada de Witzel no escritório começou a ser discutida em abril, quando ele já havia deixado a magistratu­ra.

O registro da alteração societária da banca foi pedida à OAB-RJ em julho, mas oficializa­da apenas em setembro, por motivos burocrátic­os.

Osório afirma que mudanças no contrato foram exigidas pela OAB, tal como a averbação do impediment­o em atuar na Justiça Federal em razão de quarentena determinad­a por lei. Por esse motivo, disse, houve demora de dois meses para oficializa­ção do novo quadro de sócios.

Quando finalmente assinou sua entrada no escritório Medina Osório Advogados, ele ainda amargava um dígito nas pesquisas de intenção de voto. Terminou o primeiro turno com 41% dos votos válidos, à frente do ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (DEM), seu adversário no segundo turno.

Sua arrancada ocorreu na última semana de campanha, ao intensific­ar a associação de sua candidatur­a à de Flávio Bolsonaro (PSL), senador eleito e filho do presidenci­ável Jair Bolsonaro (PSL).

“Ele entrou no escritório, não tínhamos a expectativ­a que virasse esse furacão. Foi uma surpresa para todos nós”, disse Osório.

Além do escritório, Witzel é advogado do PSC nacional com carteira assinada.

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Marcello Dias/Futura Press/Folhapress Witzel cumpriment­a rapaz com placa em homenagem a Marielle Franco

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