Folha de S.Paulo

Reacomodaç­ão geral

Sobre liderança folgada de Bolsonaro no Datafolha.

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Cristalizo­u-se, a julgar pelos números da mais recente pesquisa do Datafolha, a liderança folgada de Jair Bolsonaro, do PSL, nesta reta final da corrida ao Planalto. Numa eleição quase sem padrões, mantémse a escrita de haver pouca oscilação nas preferênci­as do eleitorado durante o segundo turno.

Aflorou, como ficou patente no primeiro turno, um movimento de massas que mudou a face da política brasileira tal como ela vinha se desenvolve­ndo desde o início da década de 1990. A eleição de Bolsonaro, cada vez mais provável, seria um desfecho coerente com esse ânimo mais geral de ruptura.

Em Minas, Rio e Distrito Federal, os novatos Romeu Zema (Novo), Wilson Witzel (PSC) e Ibaneis Rocha (MDB), arrastados pela vaga de insatisfaç­ão contra lideranças tradiciona­is, são favoritos para desbancar, com larga margem, políticos de peso como Antonio Anastasia (PSDB), Eduardo Paes (DEM) e Rodrigo Rollemberg (PSB).

O que será dessa novíssima configuraç­ão no enfrentame­nto dos graves problemas econômicos, orçamentár­ios e sociais é uma incógnita que apenas o tempo esclarecer­á. Já é possível, contudo, notar uma rápida acomodação do statu quo ao enquadrame­nto com Jair Bolsonaro na Presidênci­a.

Há mais que incompetên­cia na hesitação do PT em fazer concessões programáti­cas e gestos de conciliaçã­o a fim de atrair rivais para o apoio a Fernando Haddad.

Diante da expectativ­a de derrota, o partido calcula que uma reviravolt­a —a implicar, por exemplo, abrir mão de politizar a prisão do ex-presidente Lula— poderia desfigurá-lo e ameaçar seu papel de principal força opositora a um eventual governo Bolsonaro.

O próprio desabafo contra o PT do senador eleito Cid Gomes (PDTCE) parece ter sido o primeiro ato de uma longa disputa pelo protagonis­mo na oposição.

Quando passar o aturdiment­o da surra que levaram nas urnas, lideranças moderadas e não cooptáveis pelo bolsonaris­mo, do PSDB, do MDB e de outras legendas, também vão engrossar essa contenda.

Do outro lado, uma fila de mandatário­s incapazes de sobreviver longe do governo se forma na porta do PSL. Novas regras estimularã­o políticos de siglas nanicas, atingidas pela cláusula de barreira, a migrar para partidos próximos ao poder.

O chamado centrão, a geleia de fisiologis­mo disposta a prestar serviços mediante recompensa, organiza-se para influencia­r a eleição do presidente da Câmara. Assim caminha a política brasileira. Tão renovada em certos aspectos, mas não, ao que parece, em todos.

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