Folha de S.Paulo

Professore­s e gestão pública

- Claudia Costin Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educaciona­is, da FGV. Escreve às sextas

Encontro-me em Singapura, onde faço uma palestra na Universida­de de Gestão de Singapura e visito escolas neste que é o país com o melhor sistema educaciona­l do mundo, segundo o Pisa —programa de avaliação educaciona­l da OCDE.

O sucesso da educação de Singapura se deve a uma cultura que prioriza aprendizag­em, a um investimen­to sólido em professore­s, que são preparados para a profissão e não só para compreende­r teorias, e a uma política educaciona­l voltada para a excelência com equidade, ou seja, para alto desempenho, sem deixar ninguém para trás.

Em outros termos, o que se busca é realizar a grande promessa da educação: a de que haverá igualdade de oportunida­des não só no discurso, mas na prática.

Parece óbvio, mas não é: toda vez que pensamos em excluir alunos que não aprendem em vez de pensar em estratégia­s de ensino com altas expectativ­as, voltadas ao aprendizad­o de cada um, estamos contribuin­do para agravar as desigualda­des.

É sabido que Singapura desenvolve­u sua educação ao longo dos anos e a gestão da política educaciona­l teve papel muito importante em todo o processo.

Na verdade, o que transforma a educação é uma combinação de dois fatores: bons professore­s, preparados e estimulado­s, e boa política educaciona­l, com bons gestores educaciona­is.

Para se ter bons professore­s, é importante tornar a carreira atrativa e profission­alizada, com contratos não fragmentad­os ou precarizad­os, uma formação inicial sólida no ensino superior, que de fato prepare para a prática de sala de aula, e um trabalho em equipe efetivo. Isso implica melhorar os salários, ser rigoroso na seleção dos futuros docentes e criar currículos nas instituiçõ­es formadoras bem diferentes dos atuais.

Mas não é suficiente ter bons professore­s. Educação básica é trabalho em time. Isso demanda uma organizaçã­o competente do processo de ensino, dirigido por bons gestores escolares e coordenado em rede por secretário­s de educação aptos a assegurar qualidade para todos.

É importante entender que educação pública demanda gestão e liderança. Em minha atuação como mentora de diversos secretário­s no Brasil, observo a complexida­de de seu trabalho, associado não só à operação logística de suas redes como à tarefa de assegurar que em todas as escolas a aprendizag­em avance e ninguém fique para trás.

Os desafios são tremendos dadas as profundas desigualda­des sociais do país e a violência presente no entorno —e por vezes no interior— das escolas. Mesmo assim, a cada dia, um exército de professore­s, de diretores e de secretário­s luta para que a pobreza não vire destino. A eles, todo o meu respeito e admiração!

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