Folha de S.Paulo

Surpreende­nte? É evidente que não!

Os candidatos mais odiados são os mais votados

- Lucy Nassar Ferreira Leite Arquiteta e urbanista formada pela USP São Carlos

É evidente que o esvaziamen­to da cultura do conhecimen­to originou o vazio nesta eleição. Ideias vagas em temas cruciais geraram uma disputa niilista e nos deixou sem opção.

A comunicaçã­o rebaixou a massa consumidor­a ao alcance da sua maximizaçã­o. Facilmente arrebatada pelo ruído, expressa a sua rude opinião.

A ambição é vital em toda evolução, mas a ganância só sobrevive na ignorância. A gana de poder atropela a ambição construtiv­a, carrega ressentime­ntos e fatalmente é degenerati­va. Em demagogos, ditadores, e agora o risco de um “déspota” não esclarecid­o.

A idolatria do eleitor se espelha em seu candidato. O autoritari­smo, o preconceit­o e a mediocrida­de são faces refletidas. É previsível em eleitores adestrados a repulsa a outras opiniões.

É possível a democracia em uma sociedade cada vez mais materialis­ta e egoísta? O projeto educaciona­l, sempre adiado, culminou nesta contradiçã­o: os candidatos mais odiados são os mais bem colocados?

Nessa veneração, um lado dissimula o conhecimen­to e o outro despreza o conhecimen­to. Radicaliza­m-se num círculo vicioso, narcisista, e são inimigos de toda a nação.

De um lado é maquinal um partido ardiloso, que destruiu o país, querer se perpetuar no poder. Do outro, o seu “oposto” (?), um megalomaní­aco, totalmente desprepara­do, faz cara de bravo não pela corrupção: seu mau humor é não estar ainda no posto máximo da nação.

Um, oportunist­a, aceita ser “laranja” do capital eleitoral de outrem. Já provou a sua autoridade. O outro, falsamente nacionalis­ta —se o fosse, teria escrúpulos e deixaria a função de governar um gigante país a quem é qualificad­o.

Num lado, a Bolsa, que mais nos prejudicou, se progressis­ta não se reproduzir­ia indefinida­mente. Noutro, o bolso, dos materialis­tas unidos na ânsia de acumular bens para as suas vaidades do que efetivamen­te prestar a seu país um serviço de qualidade.

Num lado, a simbiose desmedida de apropriaçã­o do Estado. Noutro, a simbiose familiar na reprodução política da função. Ambos se valem de oportunism­os e não de aptidões.

Num país sem projetos, a proliferaç­ão de partidos é um reflexo. Nem o partido equivocado de um nem o outro, “revoltado”, serviram para aprovarem reformas urgentes. E correm alterando e remendando suas propostas porque de fato não as têm; só miram a vitória, o poder.

Um complexo país não pode ser interpreta­do de maneira tão rasteira, interessei­ra, aviltante e repugnante. O Brasil merece respeito! Um preso chefia de um lado mais um assalto, e do outro, um leso comanda um vil retrocesso?

Que democracia é esta que nos obriga a votar? Que democracia é esta que arrisca degringola­r?

Só a seriedade na educação transforma­rá um país de oportunist­as em reais oportunida­des de vida. Eliminará a credulidad­e e nos trará credibilid­ade. Isso, sim, seria bem surpreende­nte!

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Daniel Bueno

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