Folha de S.Paulo

Debate com Doria e França tem ataques pessoais e acusações sobre PT e traição

Candidatos ao governo de SP batem boca em programa com recorrente­s vaias e interrupçõ­es

- Gabriela Sá Pessoa, Joelmir Tavares e José Marques

O primeiro debate entre os candidatos ao governo de São Paulo no segundo turno foi marcado por ataques pessoais e trocas de acusações entre João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB).

Entre recorrente­s vaias e aplausos da plateia, a principal crítica que um fez ao outro foi de esconderem seus partidos na campanha. Com interrupçõ­es e bate-boca entre os candidatos, o embate foi exibido na noite desta quintafeir­a (18) na TV Bandeirant­es.

França acusou Doria de traidor, em referência ao desgaste do tucano com seu padrinho político, Geraldo Alckmin, de enriquecer com empréstimo do BNDES para seu grupo empresaria­l, de se apropriar de uma rua pública e de usar os nomes dos filhos em sua promessa de cumprir quatro anos à frente da prefeitura.

Doria, por sua vez, acusou França de carreirist­a do poder público, de ser “ardiloso”, de esconder sua proximidad­e com o PT e Lula, de ter nomeado pessoas de esquerda no seu governo e de ter sido citado como recebedor de repasses da Odebrecht.

Atual governador de São Paulo, França abriu o debate antecipand­o um ataque da campanha de Doria: a de que é aliado do PT.

Embora manifeste neutralida­de, o pessebista é apoiado, veladament­e, pelos petistas no estado, que desaconsel­haram o voto no tucano.

“Eu não apoio o PT”, disse França, quando foi interrompi­do por vaias de aliados de Doria na plateia. “Eu já disse isso várias vezes.”

Doria afirmou que o adversário não queria dizer o nome inteiro da legenda a qual é filiado, Partido Socialista Brasileiro, porque ela é de esquerda.

“Márcio França, falta sinceridad­e a você, assuma o seu lado esquerdist­a”, disse Doria.

Também pediu que ele dissesse quem nomeou para a Casa Civil do estado: Aldo Rebelo (SD), ex-ministro dos governos Lula e Dilma, que foi filiado ao PC do B por 40 anos.

Como tem feito na televisão, Doria tentou nacionaliz­ar o debate e disse que iria fazer, em São Paulo, “exatamente o mesmo programa que Jair Bolsonaro com Paulo Guedes estarão levando em âmbito nacional”.

Da mesma forma, França afirmou que Doria se fiava em Bolsonaro porque quer evitar a rejeição dos eleitores ao PSDB. “Coitado desse Bolsonaro, que tem que arrastar você”, criticou. “Você não é o Bolsonaro, é o bolso seu.”

O governador voltou a dizer que Doria descumpriu a palavra ao renunciar à Prefeitura de São Paulo para disputar o governo. Segundo França, o tucano jurou em nome de seu pai e seus filhos que não iria deixar a prefeitura.

O tucano reagiu: “Eu não uso nem o nome do meu pai nem o nome dos meus filhos.”

Ao perguntar, Doria tam- bém fez menção à delação da Odebrecht, cujo apelido de Márcio França na lista de políticos que teriam recebido repasses seria “Paris”.

Ele aproveitou para reutilizar apelidos que já havia usado contra o governador, como “Márcio Cuba” e “Márcio Taxa”: “Você já foi Cuba, já foi taxa e agora é Paris”, disse.

França afirmou que os delatores mentiram.

Uma das acusações utilizadas pelo governador foi de que o ex-prefeito mistura interesses públicos com privados porque comprou uma rua em Campos do Jordão (SP).

“Você é o João aproveitad­or de oportunida­des erradas”, atacou França.

O clima na plateia foi mais conflagrad­o do que em outros debates televisivo­s. Apoiadores de Doria eram os mais exaltados, mas os do pessebista também reagiram.

Doria lidera as intenções de votos na primeira pesquisa Datafolha sobre a disputa ao estado no segundo turno.

O tucano tem 53% dos votos válidos, contra 47% de França.

Na capital paulista, França leva vantagem e tem preferênci­a de 60% do eleitorado.

A claque do tucano foi repreendid­a várias vezes pelo mediador no primeiro bloco do programa, que reclamou do incômodo. O segurança da emissora pediu moderação duas vezes à torcida do PSDB: “Senhores, senhores”.

“Dá um lencinho pra ele”, gritou um dos aliados do exprefeito para França.

No segundo bloco, o apresentad­or disse que as pessoas que interrompe­ssem e vaiassem os candidatos seriam retiradas da plateia.

Os candidatos também tentaram levar o eleitor para a internet. Doria pediu acesso a um site da campanha sobre França, e o seu adversário pediu para o telespecta­dor procurar vídeo em que Jô Soares diz que Doria votou em Fernando Collor nas eleições de 1989.

Mesmo candidatos que não estão mais no páreo foram mencionado­s nos ataques.

O presidente das unidades paulistas do Sesi e Senai, Paulo Skaf (MDB), que ficou em terceiro lugar, foi citado por Doria em alfinetada a França.

O ex-prefeito criticou a cobrança de tarifas a alunos nas escolas do Sesi. Skaf apoia o pessebista no segundo turno.

“Coitado desse Bolsonaro, que tem que arrastar você. O Bolsonaro não tem nada a ver com você porque ele é uma pessoa sincera, autêntica Márcio França (PSB) Governador de São Paulo e candidato à reeleição “Eu quero saber por que você, na lista da Odebrecht, era conhecido como Paris. Você já foi Cuba, já foi taxa e agora é Paris João Doria (PSDB) Ex-prefeito de São Paulo e candidato ao governo do estado

 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? Candidatos ao governo de São Paulo, Márcio França (PSB) e João Doria (PSDB), antes do começo do debate na TV Bandeirant­es
Eduardo Anizelli/Folhapress Candidatos ao governo de São Paulo, Márcio França (PSB) e João Doria (PSDB), antes do começo do debate na TV Bandeirant­es

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