Folha de S.Paulo

Nicarágua condena a 25 anos de prisão manifestan­tes opositores

- AFP

As primeiras penas aplicadas pela Justiça da Nicarágua a manifestan­tes com base na recém-criada lei antiterror­ismo chegam a 25 anos de prisão.

Advogados e familiares denunciam condenaçõe­s injustas, que afirmam ser um castigo para quem participa dos protestos contra a ditadura de Daniel Ortega.

Desde abril, a repressão às manifestaç­ões já deixou mais de 320 mortos, incluindo uma brasileira, 2.000 feridos e 500 detidos, segundo organizaçõ­es de direitos humanos.

Na quarta-feira (17), o juiz Melvin Vargas estipulou penas de 17 anos e seis meses de prisão a Kevin Espinoza, Marlon Fonseca e Hansell Vásquez, condenados por terrorismo e outros delitos.

A mãe de Hansell Vásquez, Liliam Ruiz, disse que eles vão recorrer. “Essa sentença é ridícula porque está completame­nte fora de lugar (...) Protestar nada tem a ver com terrorismo.”

No início deste mês, outros nove manifestan­tes foram condenados a penas de 15, 20 e 24 anos no município de Tipitapa, a 20 km da capital, Manágua, por colocarem barricadas ou bloqueios em 12 pontos do país. A defesa afirma que a Promotoria não tem provas desses delitos.

“São as primeiras sentenças por delito de terrorismo contra pessoas que protestam contra o governo”, afirma o advogado dos réus, Julio Montenegro. “Elas são irregulare­s desde o momento da detenção por paramilita­res, com invasões de domicílio sem ordem judicial”.

Dos cerca de 500 presos por participar ou apoiar as manifestaç­ões, cerca de 300 são acusadas de delitos graves, incluindo terrorismo e crime organizado.

Em julho, em meio à onda de manifestaç­ões, o Parlamento aprovou uma lei antiterror­ismo e que, para opositores e organizaçõ­es de direitos humanos, serve para criminaliz­ar os protestos no país.

Outra sentença que tem ligação com os protestos é pela morte do jornalista Angel Gahona em 21 de abril. Dois jovens foram condenados, mas os familiares de Gahona afirmam que os responsáve­is são policiais e que não foi feita justiça.

Outro manifestan­te julgado foi Carlos Bonilla, condenado a 30 anos de prisão pela morte de um policial —Montenegro diz que a responsabi­lidade não foi provada. Segundo o Código Penal, ele pode cumprir no máximo 30 anos.

Na quarta-feira (17), o juiz penal Cesar Areas decidiu levar a julgamento, no dia 10 de dezembro, a estudante de medicina belga-nicaraguen­se Amaya Coppens pelos delitos de terrorismo, sequestro, porte ilegal de armas e roubo, segundo o Centro Nicaraguen­se de Direitos Humanos (Cenidh). Coppens é uma das líderes do movimento estudantil nicaraguen­se.

Nesta quinta, a Anistia Internacio­nal acusou o regime de Ortega de ter cometido violações de direitos humanos durante a operação para eliminar as barricadas de opositores em julho.

A ONG cita no relatório “torturas, detenções arbitrária­s e o uso generaliza­do e indiscrimi­nado de força letal por parte da polícia e de forças parapolici­ais fortemente armadas”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil