Grupo tenta impedir enterro de travesti como indigente em SP
Ativistas têm dez dias para identificar vítima morta no centro; testemunha diz ter ouvido grito de ‘Bolsonaro’
Ativistas da comunidade LGBT de São Paulo se mobilizam para impedir, em poucos dias, que uma travesti morta na madrugada de terça-feira (16) seja enterrada como indigente.
O caso ocorreu na avenida São João (centro) e, além de levantar suspeita de motivação contra LGBTs, pode ter sido mais um caso de violência relacionada ao acirramento eleitoral. Segundo relato de testemunha à Folha, houve um grito de “Bolsonaro” momentos antes do crime.
Nelson Matias Pereira, sócio fundador da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, diz que tem contatado outras entidades LGBT para tentar identificar a vítima no prazo de dez dias dado pelo IML (Instituo Médico Legal). “Estamos fazendo uma força-tarefa com outros movimentos para encontrar alguém que conheça ela ou que identifique [o corpo].”
Nelson afirma que não se sabe nem o nome da vítima. “Inicialmente ouvi muito Priscila. Depois, Vanessa.”
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, ela não portava documentos quando foi socorrida, e ninguém reclamou o corpo. O cruzamento de impressões digitais não foi suficiente para descobrir a identidade —o que indica que o RG deve ter sido emitido em outro estado.
O proprietário de um estacionamento na frente do bar onde ocorreu o crime, Guilherme Barbosa da Silva, diz que dormia quando ouviu uma discussão. “Ouvi o grito ‘Bolsonaro’, depois ‘eu não voto nele’, mas não levantei”, relatou à Folha, explicando que a gritaria na região é comum às madrugadas.
Guilherme diz que só se levantou quando ouviu gritos. “Ela gritou ‘Ai, ai, ai! Meu Sangue, meu sangue!’, aí eu despertei e saí [para a rua], mas, quando cheguei, só estava o rapaz do prédio [ao lado] limpando o sangue do chão.”
A vítima foi socorrida na porta de um hotel no Largo do Arouche, a 110 m do bar. Tinha perfurações no abdômen, rosto e braço direito. Levada à Santa Casa, não resistiu aos ferimentos.