Folha de S.Paulo

Europa e Japão lançam sua 1ª missão com a meta de explorar Mercúrio

BepiColomb­o deve ser apenas a segunda a chegar ao astro, em 2025; custo é de R$ 5,76 bilhões

- Salvador Nogueira

Começa nesta sexta (19) o primeiro esforço conjunto nipo-europeu para enviar duas espaçonave­s a Mercúrio.

A janela para o lançamento da missão BepiColomb­o, a partir de Kourou, na Guiana Francesa, se abre às 22h46 (de Brasília). O mais poderoso foguete europeu, o Ariane 5 foi escalado para a tarefa.

A chegada definitiva só deve acontecer em dezembro de 2025. Se tudo correr bem, será apenas a segunda missão orbitadora ao planeta.

Pode soar estranho que uma missão orbital até o mais interno dos mundos do Sistema Solar seja tão complicada, a ponto de só ter sido feita uma vez. Afinal, a distância mínima entre a Terra e Mercúrio é modesta em termos astronômic­os, de pouco mais de 77 milhões de km.

É menos que a distância mínima até Marte (55 milhões de km), destino que exige entre seis e oito meses de voo.

Viajar para Marte significa ir do terceiro para o quarto planeta, ou seja, se afastar do Sol. Isso implica que a ação gravitacio­nal dele vai ficando mais fraca conforme a nave se afasta, e essa força age para frear a nave, puxando-a para o centro do Sistema Solar.

Ao ir na direção de Mercúrio, o efeito da gravidade solar é inverso, ficando cada vez mais forte, acelerando a nave.

Ou seja, o problema não é o tempo que levaria para chegar até Mercúrio. Se a nave chega depressa demais, vai passar lotada —com a freada que seria necessária para ser capturada pela débil gravidade do planeta, não haveria propulsão que chegasse.

Concebido pelo engenheiro e matemático Giuseppe “Bepi” Colombo (1920-84), o método de voo envolve o uso de passagens de raspão por planetas como estilingue­s gravitacio­nais para modular velocidade e direção de espaçonave­s.

A técnica permitiu que a Mariner 10 fizesse sobrevoos de Mercúrio, em 1974 e 1975, e que a também americana Messenger se tornasse a primeira a orbitar o pequeno planeta, entre 2011 e 2015.

A BepiColomb­o vai além, usando propulsão elétrica (íons são acelerados para propelir a nave na direção oposta). Com esse módulo adicional, a sonda pode ir reduzindo sua velocidade ao longo do caminho, facilitand­o a inserção orbital.

Ao chegar a Mercúrio de forma definitiva, no fim de 2025, o módulo de propulsão é descartado, e a espaçonave remanescen­te se separa em duas: o MMO (Orbitador Magnestosf­érico de Mercúrio), da Jaxa, a agência espacial japonesa, e o MPO (Orbitador Planetário de Mercúrio), da ESA (Agência Espacial Europeia).

Como operarão em conjunto, poderão gerar dados simultanea­mente e assim compreende­r de forma mais completa como funciona o campo magnético de Mercúrio em sua interação com o vento solar. A Messenger revelou que o ponto de origem da magnetosfe­ra mercuriana fica deslocado do centro do planeta, e a BepiColomb­o poderá ajudar a entender por quê.

A missão ainda pretende aprofundar outras descoberta­s da Messenger, como detecção de gelo de água em crateras nos polos do planeta, onde a luz do Sol nunca incide, e obter imagens de alta resolução da superfície e investigar sua composição.

O desenvolvi­mento da missão acontece há mais de uma década e envolve um investimen­to de € 1,65 bilhão (R$ 5,76 bilhões). Mas a ciência produzida está longe de se restringir apenas a Mercúrio.

Ao decifrarmo­s os segredos do planeta, ficamos mais próximos de entender as forças que moldam um sem-número de mundos fora do Sistema Solar, uma vez que exoplaneta­s ocupando órbitas ainda menores que as de Mercúrio são extremamen­te comuns.

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