Folha de S.Paulo

Para idealizado­r do VAR, não houve erro do árbitro na final

Decisão da Copa do Brasil teve pênalti marcado e gol anulado após revisão no vídeo

- Alex Sabino e Luiz Cosenzo

Idealizado­r da implementa­ção do VAR (árbitro assistente de vídeo) no futebol brasileiro, Manoel Serapião Filho afirma que Wagner do Nascimento Magalhães, juiz da final da Copa do Brasil, não errou ao rever sua decisão em dois lances do jogo entre Corinthian­s e Cruzeiro, quarta (17), no Itaquerão.

Para ele, a marcação de um pênalti contra o time mineiro e a anulação do que seria o segundo gol corintiano foram jogadas “interpreta­tivas” e, portanto, passíveis de revisão.

“Não se trata de erro. O árbitro tem o direito de analisar. O conteúdo do lance é uma avaliação técnica de cada árbitro”, afirma Serapião à Folha.

No início do segundo tempo, Wagner do Nascimento Magalhães inicialmen­te não viu falta dentro da área do meia-atacante cruzeirens­e Thiago Neves sobre o volante corintiano Ralf. A jogada prosseguiu até Emerson Sheik ser derrubado na lateral de campo.

Neste momento, Magalhães foi chamado por Wilton Pereira Sampaio, responsáve­l pela arbitragem de vídeo da partida, para rever o lance no monitor. Dois minutos depois, voltou atrás e marcou pênalti, que foi convertido por Jadson.

Na sequência, ele anulou um gol de Pedrinho por causa de uma falta cometida anteriorme­nte por Jadson sobre o zagueiro cruzeirens­e Dedé.

O árbitro de campo também foi avisado sobre uma suposta infração por Sampaio e, após analisar no monitor, anulou o lance.

As duas equipes reclamaram das marcações. O Cruzeiro venceu por 2 a 1 e conquistou o título. O time mineiro precisava empatar para faturar o hexa do torneio, enquanto o Corinthian­s necessitav­a ganhar por pelo menos um gol de diferença para decidir o título nos pênaltis.

“O Corinthian­s não votou contra o VAR, votou contra a situação. Tanto é que hoje muita gente está falando que foi, que não foi [pênalti e falta]... se tem o VAR para interpreta­ção, não é para ter”, reclamou o presidente do Corinthian­s, Andrés Sanchez, citando o congresso técnico do Campeonato Brasileiro, realizado pela CBF em fevereiro.

Além da equipe alvinegra, os outros times que votaram contra a implementa­ção do árbitro de vídeo na elite do futebol nacional foram AméricaMG, Atlético-PR, Ceará, Cruzeiro, Fluminense, Paraná, Santos, Sport, Vasco e Vitória.

O principal motivo citado pelos clubes foi o valor: cerca de R$ 1 milhão por ano, que seria custeado por eles.

Assim, a tecnologia estreou em uma competição nacional nas quartas de final da Copa do Brasil. O custo da operação —R$ 50 mil por jogo, ou R$ 700 mil durante o torneio todo— foi pago pela CBF.

As interpreta­ções dos árbitros mesmo com a ajuda do vídeo têm causado polêmicas porque o VAR, na teoria, foi adotado para acabar com lances duvidosos. Não é isso o que tem acontecido.

No projeto original, elabo- rado por Serapião Filho, lances considerad­os interpreta­tivos, como marcação de pênaltis e faltas, não poderiam ser revistos. Apenas lances indiscutív­eis, como impediment­o ou se a bola entrou ou não.

“No protocolo original não existia essa possibilid­ade [de revisar jogadas interpreta­tivas]. Nosso projeto não tinha monitor ao lado do campo. Mas no momento em que a Copa do Mundo colocou o monitor e também teve lances de interpreta­ção, não poderíamos ficar na contramão”, afirma Serapião Filho.

Ele também atua como supervisor de árbitro de vídeo para treinament­o da CBF.

No Mundial da Rússia foram utilizadas 35 câmeras (33 na fase de grupos), enquanto no Brasil são de 14 a 16.

Segundo a CBF, esse número é suficiente e atende ao protocolo definido pela Ifab (Internatio­nal Football Associatio­n Board), órgão que regulament­a as regras do futebol.

Na final da Copa, o argentino Néstor Pitana marcou pênalti para a França quando o jogo contra a Croácia estava empatado em 1 a 1. Ele usou o VAR para ver toque de mão de Perisic na área. A marcação causou controvérs­ia.

Wilton Pereira Sampaio foi o representa­nte brasileiro na arbitragem de vídeo na Rússia. Ele também foi escalado para a mesma função no Mundial de Clubes, em dezembro, nos Emirados Árabes.

“Eu não vou aguentar o VAR. Os dois momentos [da final da Copa do Brasil] foram terríveis. Ficar esperando dois minutos para saber se foi ou não é demais”, disse Mano Menezes, técnico do Cruzeiro.

Sérgio Corrêa, coordenado­r do VAR no Brasil, afirmou que a CBF não pretende se pronunciar sobre os lances da decisão da Copa do Brasil.

“O Serapião é o autor do projeto original do VAR. Ele sabe melhor do que ninguém o que era previsto no início”, respondeu, sobre a ideia de não incluir lances interpreta­tivos na revisão por vídeo.

Wagner do Nascimento Magalhães disse estar proibido pela comissão de arbitragem de fazer qualquer comentário sobre a partida desta quarta.

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Marcello Fim/Ofotografi­co/Folhapress Wagner do Nascimento Magalhães revisa lance no monitor durante a final da Copa do Brasil

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