Folha de S.Paulo

Michael Kors defende fim das barreiras geográfica­s na moda

Estilista é porta-voz do luxo acessível e um dos pivôs de compra da Versace

- Pedro Diniz e Giuliana Mesquita

Quando foi anunciado que seu grupo homônimo havia comprado por mais de R$ 8 bilhões a grife italiana Versace, o estilista Michael Kors, 59, colou de vez a bandeira americana no xadrez da moda, que desde o início deste século tem as peças comandadas por franceses e italianos.

Kors mantém silêncio sobre o assunto porque ele ainda mexe com os nervos da indústria e,oficialmen­te, não pode falar pela Capri Holdings, novo nome do conglomera­do fundado por ele e que, além da Versace, engloba a marca de calçados Jimmy Choo.

Mas, em sua primeira entrevista ao Brasil após a transação, ele dá pistas de seus passos e entrega sua visão sobre o mercado do luxo, seara da moda que, para ele, sofreu uma reviravolt­a depois que as pessoas passaram a cobrar das marcas “usos diários para as peças em que gastaram muito dinheiro”.

Partidário da quebra de barreiras entre os estilos americano e europeu, linhas invisíveis que separam conceitos de elegância dos dois lados do Atlântico, é dele a coroa de difusor do conceito de “luxo acessível”, uma soma de qualidade e custos baixos de produção que toma a moda desde os anos 1990.

De Nova York, por telefone, Kors falou à Folha durante o lançamento de sua parceria com o World Food Programme, projeto das Nações Unidas de combate à fome e para o qual lançou uma camiseta em parceria com o designer Eli Sudbrack, cuja renda será revertida em refeições para crianças carentes.

Estados Unidos X Europa As diferenças estéticas entre a moda americana e a europeia estão acabando. Nas ruas de Paris, Milão ou Londres, as pessoas usam tênis, calças jeans, moletom e camisetas, peças que compõem os códigos sobre os quais a moda americana foi fundada. E se você for em uma festa nos EUA, também encontra pessoas usando roupas elegantes, com todas as referência­s de luxo da moda europeia. Acho que todo mundo está emprestand­o códigos de todos os lugares.

Identidade

O estilo da Michael Kors sempre foi uma mistura entre o que é prático com algo glamoroso e fashionist­a. Se é muito clássico, é entediante. Se é muito exagerado, se torna algo que não é usado no dia a dia. Por causa das redes sociais e o fato de que as pessoas viajam muito, encontramo­s cada vez menos diferenças entre os países. Mulheres que moram em São Paulo podem usar botas e mulheres que moram em Moscou podem calçar sandálias. Isso não existia. O mundo diminuiu, no sentido que a moda entre os países é bastante parecida. Todo mundo vive no Instagram e estamos todos aprendendo uns com os outros a entender essa nova realidade.

Luxo

Acredito que luxo se refere à qualidade. No passado, significav­a que ele servia apenas para uma ocasião especial. As pessoas compravam uma bolsa e usavam em uma festa ou tinham um vestido para usar somente em um casamento. Agora elas querem encontrar usos diários para peças em que gastaram muito. Isso mudou as regras de como o luxo funciona e está mudando as perspectiv­as de uma forma que ninguém pensava no passado. Gosto da ideia de que você compra uma bolsa e ela pode ser usada na academia ou numa festa.

Redes sociais

Peguei-me pensando sobre como os telefones sugam a energia das pessoas. Estamos constantem­ente recebendo informaçõe­s, notícias e imagens e, na minha opinião, o mundo se tornou um lugar muito complicado. As pessoas se sentem esmagadas pelo número de estímulos. Minha nova coleção é sobre a necessidad­e global de escapismo. Quando estamos sentados nos nossos escritório­s e mexemos nos nossos telefones, sobre o que sonhamos? Então, misturei vários elementos que remetessem ao escapismo, porque todo mundo sente essa necessidad­e de otimismo e de felicidade.

Empoderame­nto

Quando uma mulher experiment­a uma roupa simples como uma calça jeans, você percebe que o corte faz toda a diferença para que ela se sinta bonita de frente, de lado e de costas. Para mim, é importante a mulher se sentir empoderada usando minha roupa. O corte e o toque do tecido são as principais caracterís­ticas para que ela se sinta a melhor versão de si mesma. Até quando desenho uma bolsa, quero ter certeza de que, além de ser uma bolsa glamorosa e que vá com todo seu guarda-roupa, ela consiga achar seu celular e sua chave de casa facilmente. Quero facilitar processos.

Responsabi­lidade social Moda pode realmente mexer no íntimo e dar poder às pessoas. Quando a Michael Kors se tornou global, senti que precisava ajudar com problemas mundiais, como a fome, em uma escala maior.

 ?? Douglas Friedman/Divulgação ?? Michael Kors, 59Nascido em Long Island, em Nova York, iniciou a carreira aos 19 anos e, em 2014, tornou-se um dos bilionário­s da moda ao abrir o capital de sua empresa. Foi designer da Céline e é o mais novo integrante do World Food Programme, projeto das Nações Unidas de combate à fome
Douglas Friedman/Divulgação Michael Kors, 59Nascido em Long Island, em Nova York, iniciou a carreira aos 19 anos e, em 2014, tornou-se um dos bilionário­s da moda ao abrir o capital de sua empresa. Foi designer da Céline e é o mais novo integrante do World Food Programme, projeto das Nações Unidas de combate à fome

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