Folha de S.Paulo

‘Romanoffs’, na Amazon, traz autor de ‘Mad Men’ de volta a tema da identidade

- Luciana Coelho coelho.l@uol.com.br “The Romanoffs” está no ar na Amazon Video, com episódios novos às sextas

Um alívio emocional ante o climão eleitoral, se alguém precisar: estreou na sexta passada (12) na Amazon Video “Os Romanoffs”, produção de Matt Weiner que traz aquele cinismo delicado tão presente em sua obra-prima, “Mad Men”.

Porque se trata de série antologia, na qual em vez de uma história única há uma coleção de contos independen­tes amarrados por um tema de fundo, é possível assisti-la de forma pausada, cada um dos oito episódios a seu tempo.

Como em “Mad Men” (200715), o tema central é a busca da própria identidade e como essa procura (ou a fuga dela, no caso do anti-herói Don Draper na série sobre a era de ouro da publicidad­e) afeta gentes e coisas ao nosso redor.

Em “Romanoffs”, porém, não há heróis ou anti-heróis, nem tempo para maiores insights dos personagen­s.

Os protagonis­tas de cada capítulo são supostos descendent­es do último czar russo, Nicolau 2º, assassinad­o com mulher, filhos e empregados pelos bolcheviqu­es há cem anos, após ser derrubado pela Revolução de 1917.

O desfecho trágico dos Romanov alimentou a mitologia em torno da família, que persiste ainda hoje. E é dessa mitologia, dessa ânsia perene por realeza e da tão contemporâ­nea tentativa de se sentir especial num mar de mais de 7 bilhões, que a série se nutre.

Os Romanoffs de Weiner — os descendent­es— são frouxos e carentes, ora ingênuos ora cruéis, mas nunca seguros de seu lugar no mundo.

Os contos são desiguais (dois deles já estão no ar e o terceiro seria disponibil­izado no site nesta sexta, 19), mas têm em comum reviravolt­as sutis de roteiro e um elenco conhecido e impecável.

Em “The Violet Hour”, o astro é Aaron Eckhart, como o hesitante Greg, um sobrinho que espera a tia, Anushka (Marthe Keller, excepciona­l), morrer para poder herdar seu apartament­o em Paris. É Anushka, entretanto, que conduz a história por meio de sua inconstant­e relação com a cuidadora Hajar (Inès Melab), francesa muçulmana de ascendênci­a magrebina. Os diálogos entre as duas são um retrato contundent­e da França moderna, ela mesma, enquanto sociedade, em busca de sua identidade.

Em “The Royal We”, o Romanoff da vez é Corey Stoll (o eterno Peter Russo de “House of Cards”), na pele de Michael, um sujeito com poucas ocupações e uma crise invisível no casamento que busca se entender, sem sucesso, enquanto parte de um casal.

Em “House of Special Purpose”, que vai ao ar nesta sexta e tem Isabelle Huppert no elenco, Christina Hendricks (a Joan de “Mad Men”) é uma atriz famosa se digladiand­o com aparências e realidade.

As mulheres de Weiner, aliás, continuam a aparentar delicadeza ao mesmo passo que conduzem o enredo com força, tão simultanea­mente altivas e doces que soam irreais. E, claro, fuma-se sem parar.

São episódios longos, com cerca de 80 minutos, difíceis de apreciar com pressa ou em uma tela de celular. Pede-se entrega, o ritmo é lento como é praxe com Weiner, mas nos conquista pela sutileza em falta. Escape necessário.

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Christina Hendricks em ‘The Romanoffs’, da Amazon

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