Folha de S.Paulo

Congresso será em 2019 palco de ‘terceiro turno’

Bolsonaris­tas ganham força na escolha da cúpula do Legislativ­o, em fevereiro

- Ranier Bragon, Bernardo Caram e Daniel Carvalho

Trinta e um dias após a posse do novo presidente da República, os 594 congressis­tas vão escolher, em votação secreta no dia 1º de fevereiro de 2019, o novo comando da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Apesar de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) ainda estarem disputando o segundo turno, a maior parte do Legislativ­o já se movimenta para a eleição de fevereiro dando como certa a eleição do capitão reformado para o Palácio do Planalto.

Até o momento, 13 deputados e senadores (atuais ou eleitos) se lançaram ou são cotados para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidênci­a da Câmara e de Eunício Oliveira (MDB) na presidênci­a do Senado.

Enfraqueci­da, a esquerda admite que, caso se confirme a vitória de Bolsonaro, terá que compor com partidos de centro para, na melhor das hipóteses, barrar a eleição de um bolsonaris­ta. Nenhum candidato da esquerda se lançou ou está cotado para esses postos.

O comando do Congresso tem importânci­a, entre outras coisas, por formar a linha de sucessão presidenci­al e por ter poder de definir a pauta de votações e de dar aval para um eventual processo de impeachmen­t contra o presidente da República.

Na Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) se equilibra na tentativa de se reeleger, mas o apoio que ele e seu grupo deram a Geraldo Alckmin (PSDB), que chegou em quarto na disputa presidenci­al, o enfraquece­u.

Ele tenta evitar um veto da ala bolsonaris­ta, que já tem vários candidatos ao posto.

Maia conta com o trunfo de ter apoio de boa parte da esquerda, já que manteve a palavra acordada com esses partidos em troca do apoio à sua gestão anterior (entre elas não dar sequência a uma CPI contra a União Nacional dos Estudantes). Maia trabalha nos bastidores, mas não fala em público sobre o assunto para tentar evitar desgaste.

Já os apoiadores do capitão têm uma profusão de nomes na corrida ao cargo.

Capitão Augusto (PR-SP) e Delegado Waldir (PSL-GO), reeleitos, pedem votos abertament­e. O PSL elegeu a segunda maior bancada da Câmara, com 52 cadeiras, e projeta ultrapassa­r o PT (que elegeu 56) com a adesão de deputados eleitos por partidos que não atingiram a cláusula de barreira (desempenho mínimo nas urnas).

Filho do presidenci­ável, Eduardo Bolsonaro (PSLSP), que foi o deputado federal mais votado do país, disse em entrevista na semana passada não descartar que o próximo comandante da Câmara seja do chamado “centrão”, que reúne em torno de 200 dos 513 deputados.

Até aliados de Bolsonaro defendem que o novo presidente não seja do partido do chefe do Palácio do Planalto —o própio presidenci­ável encampou esse discurso em entrevista a uma rádio de Pernambuco na sexta-feira (19), dizendo que o PSL deve buscar uma base com outras siglas.

Apesar disso, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE), que deve reassumir o comando do partido após a eleição, tem interesse na presidênci­a da Câmara. Demover Bivar desta ideia é uma missão delicada, já que, ao presidir novamente a legenda, o deputado passa a ter a caneta que define a destinação do fundo partidário.

Pessoas próximas tentam uma reaproxima­ção entre Maia e o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), cotado para assumir a Casa Civil em um eventual governo Bolsonaro.

Em novembro de 2016, houve uma revolta generaliza­da na Câmara contra Lorenzoni. Relator do projeto das medidas anticorrup­ção, o gaúcho não incluiu em seu texto anistia para quem havia cometido crime de caixa dois. Deputados o acusaram de defender apenas interesses do Ministério Público, descumprin­do acordo feito com parlamenta­res.

Correndo por fora estão ainda o atual líder do governo Michel Temer na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), o estreante Kim Kataguiri (DEMSP), que hoje não tem apoio nem mesmo de seu partido, e o atual primeiro vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (MDB-MG), que diz já ter começado a se movimentar para entrar na disputa.

No Senado, as articulaçõ­es ocorrem em três frentes: o MDB, que segue com a maior bancada da Casa, o PSL de Bolsonaro e os partidos de centro.

Tradiciona­lmente, a sigla com o maior número de membros indica um nome à presidênci­a da Casa, que depois é referendad­o em votação no plenário. Com uma bancada que caiu de 19 para 12 senadores nas eleições deste ano, o MDB terá uma maioria mais frágil.

Mais alinhado com o PT, o veterano Renan Calheiros (MDB-AL) é visto como nome certo para ocupar o posto em caso de vitória de Haddad. As chances são menores em eventual gestão Bolsonaro. Ele nega estar em campanha.

“Eu já fui quatro vezes presidente, não tem sentido colocar isso acima da questão nacional. Não sou candidato, não sou”, disse.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) aparece como opção para manter o MDB no comando. A avaliação é de que ela geraria menos atrito em um governo Bolsonaro, porque não é marcada por investigaç­ões e tem trânsito livre entre os ruralistas.

É também possível que a solução venha de fora do MDB. Isso porque a Constituiç­ão define apenas que a representa­ção proporcion­al deve ser respeitada na Mesa Diretora “tanto quanto possível”.

Nesse cenário, partidos de centro trabalham para serem o fiel da balança, independen­te do resultado das urnas. Uma possibilid­ade é Esperidião Amin (PP-SC). Ex-colega de partido de Bolsonaro, ele já foi senador e agora volta à Casa com a chance de ser um nome que agradaria ao centro e também ao presidenci­ável.

Embora nunca tenha passado pelo Senado, o filho do militar reformado Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) chega à Casa respaldado por mais de 4 milhões de votos. Há ainda o nome de Major Olímpio (PSLSP), que compõe o núcleo de aliados de Bolsonaro.

“Até o dia segundo turno, não faremos essa discussão. Depois, a composição da Mesa das Casas vai ser em sincronia com a orientação de Jair Bolsonaro. Eu me elegi senador, me sinto preparado para qualquer das atividades no Senado”, afirmou.

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