Folha de S.Paulo

Estamos ainda distantes do Brasil que queremos

Voto contra o PT, mas não em algo em que acredito

- João Amoêdo Engenheiro e administra­dor de empresas; um dos fundadores do partido Novo e candidato à Presidênci­a da República pela legenda em 2018

A disputa eleitoral chega ao fim no próximo domingo.

O Estado brasileiro, ao longo dos anos, foi aparelhado para atender aos interesses da classe política, e o cidadão, que paga as contas, ficou em segundo plano. Ao mesmo tempo que cresceu em gastos, na arrecadaçã­o de impostos e na interferên­cia na vida das pessoas, o Estado apresentou um desempenho medíocre na prestação dos serviços essenciais. Nesse quadro disfuncion­al, a eleição do próximo presidente da República é de extrema importânci­a para todos.

Infelizmen­te, o Partido dos Trabalhado­res, que deveria ter seu registro no mínimo questionad­o, conseguiu novamente pautar o debate eleitoral. Utilizou a estratégia de sempre: dividir a sociedade brasileira para se fortalecer.

Assim, mesmo em um cenário adverso, obteve resultados importante­s: manteve a maior bancada na Câmara, com 56 deputados, apresentou a menor queda na representa­tividade entre os seis maiores partidos e levou ao segundo turno um candidato que, há dois anos, como prefeito de São Paulo, não conseguiu esse feito nas eleições municipais. O PT se prepara, assim, para ser a principal força opositora ao provável governo de Jair Bolsonaro.

A grande maioria dos eleitores caiu na armadilha petista de polarizar a disputa eleitoral antes do tempo e discutir apenas o “Ele não” X “PT não”. O resultado não poderia ser bom. Caminhamos para ter um governo cujos planos e capacidade de execução desconhece­mos, mas com a sensação equivocada de que valeu a pena, pois o “PT foi derrotado”.

Nossas elites, com raras exceções, junto com a mídia tradiciona­l, mais uma vez falharam. Não assumiram qualquer protagonis­mo na defesa de um projeto de longo prazo para o país. Prevaleceu a postura imediatist­a, omissa e muitas vezes oportunist­a. Essa conduta explica em boa parte a situação em que nos encontramo­s hoje, apesar de todo o potencial que temos como nação.

O roteiro para a construção de um país próspero e sustentáve­l, tendo como exemplo nações desenvolvi­das, deve ser outro.

Obviamente, ninguém que tenha um mínimo de informação e coerência pode aceitar a existência de um partido como o PT. Uma organizaçã­o que saqueou os cofres públicos, com esquemas gigantesco­s de corrupção, que aparelhou o Estado para sua perpetuaçã­o no poder e que, com medidas econômicas totalmente equivocada­s, causou a pior recessão da nossa história. E ainda, apesar de inúmeros e relevantes membros condenados pela Justiça, se recusa a admitir os seus erros, deixando claro que estaria disposta a fazer tudo novamente.

Entretanto, a saída do PT do poder de forma consistent­e só acontecerá com a nossa evolução como sociedade. Para isso, é fundamenta­l o surgimento de novas lideranças que pensem nos seus filhos e netos morando no Brasil, que assumam responsabi­lidades e desejem deixar um legado para o país.

Precisamos também mudar o eixo das discussões de pessoas para ideias. Deveríamos ter discutido: “socialismo não X capitalism­o sim”, “privilégio­s para políticos e partidos não X ajuda a quem mais precisa sim”, “empresas e monopólios estatais não X livre mercado e concorrênc­ia sim”, “intervençã­o estatal não X segurança do indivíduo e da sua propriedad­e sim”. Enfim, um modelo de Estado em que o cidadão seja protagonis­ta, que garanta educação e liberdade a todos os brasileiro­s para que possam trabalhar, empreender e desenvolve­r seu potencial.

Neste processo eleitoral, fomos, mais uma vez, guiados pelo medo em busca de um salvador da pátria. Aprendemos pouco com nossos erros e, assim, ficamos mais distantes do Brasil que queremos.

Domingo voto mais uma vez contra o PT, mas, como das vezes anteriores, não é em um projeto em que acredito e que, portanto, defenda ou apoie. Continuare­i trabalhand­o para ajudar na construção de um país admirado, de uma sociedade sem divisões, com oportunida­des para todos e onde possamos depender menos da política. Foi para isso que entrei na política.

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