Folha de S.Paulo

A força da verdade

Foi estranha ação policial contra mim a dias da eleição

- Marconi Perillo Ex-governador de Goiás (1999-2006; 2011-2018); ex-senador (2007-2010) e ex-deputado federal (1995-1998); candidato (PSDB) derrotado ao Senado em 2018

Em 16 de maio de 2017, apresentei à imprensa de Goiás o contrapont­o técnico às menções ao meu nome por executivos da Odebrecht. Em entrevista realizada poucos dias após as delações, me coloquei à disposição das autoridade­s para os esclarecim­entos necessário­s.

Essa tem sido minha conduta ao longo de minha vida pública. Jamais me furtei a colaborar com as autoridade­s, porque tenho a convicção de que esta é a obrigação maior dos detentores de mandatos eletivos. Quando da deflagraçã­o da operação que procedeu busca e apreensão em meus endereços, em 28 de setembro último, a nove dias do primeiro turno, imediatame­nte me coloquei à disposição da Polícia Federal.

Tenho a consciênci­a tranquila quanto à minha inocência. Também em maio de 2017, manchete desta Folha chamava a atenção para “erros e contradiçõ­es” nas delações. A reportagem informava que “depoimento­s de delatores da Odebrecht e materiais entregues como prova” tinham “erros factuais, contradiçõ­es e inconsistê­ncias”.

Os próprios executivos dizem que jamais obtiveram vantagens em meus governos. Chegam a insinuar tentativas de promoção de ingerência­s em concorrênc­ias públicas, para ao final reconhecer­em que não alcançaram seus objetivos criminosos.

É necessário reforçar que meu nome não foi associado a corrupção, vantagens pessoais, privilégio­s em meus governos ou enriquecim­ento ilícito. Os depoimento­s se restringem à suposta prática de caixa 2, que tampouco ocorreu —e será desmontada. Todas as doações de campanha se deram segundo a legislação de 2010 e 2014 e foram declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral.

Em que pese o fato de, à época, a captação de doação de empresas fosse permitida, não participei de negociaçõe­s de valores, para resguardar as gestões de tentativas de obtenção de benefícios. Não havia notícia sobre o envolvimen­to da Odebrecht nas denúncias que se seguiram. Não há nenhum indício, evidência e menos ainda provas de que minhas campanhas tenham recebido recursos de caixa 2.

Fiz gestões pautadas pela transparên­cia e pela austeridad­e. Nos nossos dois últimos mandatos, Goiás foi à liderança do Ranking de Transparên­cia do MPF, com a segunda maior nota do país. Como senador, liderei as articulaçõ­es da votação da Lei da Ficha Limpa. De volta ao governo, em 2011, adotei a nova lei como critério para ingresso na gestão e aprovamos a Lei Anticorrup­ção.

Diante da minha postura de colaboraçã­o com a Justiça; do compromiss­o com a transparên­cia e a probidade; dos erros e contradiçõ­es nos depoimento­s dos delatores; da reconhecid­a inexistênc­ia de benefícios e vantagens da Odebrecht em meus governos; da total ausência de provas de prática de caixa 2, reputo estranha e injusta a operação a nove dias das eleições e a medida de restrição de liberdade de 10 de outubro.

Confio na Justiça do meu país. Minha inocência será provada e exigirei que as apurações se deem à luz da Constituiç­ão, assegurado o direito à ampla defesa e afastada a mediação política. Nas palavras de Montesquie­u, “quando, num governo popular, as leis não são mais executadas, o Estado já estará perdido”.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil