Folha de S.Paulo

Votos brancos e nulos em 2018 contrariam as previsões

Percentual de eleitores que apertaram tecla neutra atingiu o menor índice do século; já número inexistent­e cresceu

- Ana Luiza Albuquerqu­e e Leonardo Diegues

Os percentuai­s de votos brancos e nulos confrontar­am as previsões de analistas políticos e não alcançaram patamares elevados no primeiro turno das eleições.

A porcentage­m de brancos nas votação presidenci­al foi de 2,7%, o menor índice do século —em 2014, foi de 3,8%. Os votos nulos, por sua vez, cresceram de 5,8% para 6,1%.

Enquanto as regiões Sul e Sudeste concentrar­am os votos brancos, o Nordeste e o Tocantins tiveram as maiores porcentage­ns de votos nulos.

Pernambuco foi o estado com o maior percentual de nulos, chegando a 9,5%, seguido por Sergipe e Bahia, ambos com 8,4%. O Rio Grande do Sul teve o maior índice de brancos, com 3,4%, seguido por Minas Gerais, com 3,1%.

“Havia uma expectativ­a de que brancos e nulos batessem recorde este ano. Os percentuai­s gerais estão dentro das médias históricas, mostrando que o eleitor, no meio do processo, aderiu à campanha e foi votar em um candidato”, diz Fabio Vasconcell­os, cientista político e professor da Uerj (Universida­de do Estado do Rio de Janeiro).

Os municípios com menor percentual de votos brancos ficam na região Norte, têm IDHM (Índice de Desenvolvi­mento Humano Municipal) médio ou baixo e escolheram Fernando Haddad (PT) para presidente. A menor porcentage­m de brancos foi de 0,27%, em Monte do Carmo (TO), cidade de IDHM 0,622.

Vasconcell­os pondera que a relação entre baixo IDHM e baixo índice de brancos possa ser explicada pela posição socioeconô­mica do eleitor. “Quanto mais o eleitor percebe que tem algo a perder, mais se interessa em participar.”

Já os municípios com menor percentual de votos nulos ficam, a maioria, no Rio Grande do Sul e têm IDHM médio ou alto. A maior parte elegeu Jair Bolsonaro (PSL). O menor índice de nulos, 1,2%, foi em Coronel Barros (RS), cidade com IDHM de 0,744.

Para o especialis­ta, a campanha presidenci­al teve forte componente de plebiscito, opondo petistas a antipetist­as e mobilizand­o os eleitores. Por isso, os votos nulos teriam sido menores nas cidades com maior IDHM, onde o consumo de informação também tende a ser maior.

Os altos percentuai­s de votos nulos em cidades com baixo IDHM, diz o professor, podem estar associados não só à descrença, mas, em menor escala, a erros na hora do voto.

É o que também afirma Mauro Paulino, diretor do Datafolha, relembrand­o as eleições de 2010. Na ocasião, gráfico do instituto indicava que quanto mais desenvolvi­do o município, menor era o percentual de votos nulos.

“É um indício muito forte de que, quando a pessoa quer protestar, mais fácil digitar branco e que, quando há erro, a maior parte se concretiza em votos nulos.” Segundo ele, os erros são mais comuns quando o eleitor precisa escolher dois senadores, como ocorreu em 2018 e 2010.

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