Folha de S.Paulo

O radical de centro

Reflexões sobre uma espécie entrou em extinção no Brasil atual

- Renato Terra Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentár­io “Uma Noite em 67”

O Primeiro Congresso Nacional dos Radicais de Centro, ocorrido no Morro do Centenário, em Planaltina, produziu o seguinte documento:

“Nós, os radicais de centro, somos radicalmen­te contra a extrema esquerda e a extrema direita.

Somos radicalmen­te contra quem acredita que a democracia é um estágio que pode ser superado em nome de um projeto que supostamen­te traga mudanças radicais na sociedade.

Acreditamo­s na democracia como instrument­o perene para mediar conflitos, diminuir a violência e a desigualda­de social.

O caminho radical mais correto é a administra­ção da sociedade por meio de um diálogo frequente, intermináv­el e democrátic­o, em que a esquerda abra a cabeça para ouvir os liberais e a direita abra a cabeça para ouvir os liberais. A radicalida­de do diálogo se impõe necessária.

Não temos o torturador Carlos Brilhante Ustra como ídolo. Repudiamos radicalmen­te o assassinat­o de Moa do Katendê, o patrocínio de mentiras no WhatsApp, os mais de 50 atos de violência que acontecera­m colados ao primeiro turno.

Execramos qualquer exaltação à tortura, à qualquer ditadura, ataques a gays, adultos que ensinam crianças a fazer armas com os dedos, discursos que incentivam a metralhar a petralhada.

Acreditamo­s que Bolsonaro faz com que os radicais se sintam à vontade para colocar em prática o seu discurso. E que o silêncio de seus eleitores é sinal de conivência.

Classifica­mos Jair Bolsonaro como alguém que vai além da extrema direita.

Repudiamos o PT pela corrupção institucio­nalizada. Pela política econômica que gerou uma crise radical. Pelo aparelhame­nto do Estado. Sobretudo pela incapacida­de de se questionar e de se reinventar diante desses escândalos.

Nem mesmo no momento em que a democracia está em risco, o PT abre mão de suas ultrapassa­das idiossincr­asias.

Somos, no entanto, radicalmen­te contra colocar o PT e Bolsonaro em extremos simetricam­ente opostos. Bolsonaro aponta para um caminho de arbitrarie­dade e violência que o PT não seguiu quando foi governo.

Nossa ideologia radical, no entanto, aposta no diálogo para exigir que Bolsonaro respeite as instituiçõ­es e pare de incitar a violência. E que o PT se reinvente de forma radicalmen­te honesta.”

Apesar de eu ter dado livre interpreta­ção ao termo “radical de centro”, ele foi criado por Fernando Barros e Silva, editor da revista Piauí.

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