Folha de S.Paulo

União de tecnologia e trânsito ruim faz surgir startups de bike em SP

Serviços de banho em contêiner, táxi de duas rodas e bicicletas elétricas miram executivos

- Filipe Oliveira

Executivos que, para fugir do trânsito dos centros financeiro­s de São Paulo, passaram a ir ao trabalho de bicicleta descobrira­m uma série de oportunida­des de negócios ao dar comodidade a quem não quer ficar preso em engarrafam­entos.

As startups das magrelas vão desde fabricante­s nacionais de bikes elétricas até vestiário aberto por chave no smartphone, serviço de entrega acionado via celular e uma espécie de táxi sobre duas rodas.

O economista Danilo Vieira Lamy, 37, afirma que passou a andar de bicicleta há dois anos.

Ele optou por ela como resultado da irritação que tinha com o trânsito da avenida Faria Lima, uma das mais movimentad­as de São Paulo, onde trabalhava em um banco.

Conta que a mudança o fez ganhar muito tempo e disposição, mas não conseguia convencer amigos a tomar a mesma atitude.

Muitos diziam que não poderiam chegar ao trabalho suados depois do exercício ou tinham medo de andar de bicicleta na capital paulista.

Para atender a esse público, ele criou um aplicativo nos moldes da Uber.

Só que, em vez de chamar um táxi, o usuário é buscado por um condutor de uma bicicleta elétrica de dois lugares, desenvolvi­da pela própria empresa.

Hoje a companhia tem dez ciclistas autônomos rodando 20 quilômetro­s de ciclovias de São Paulo de segunda a sexta.

A rota que pode ser percorrida por eles parte da Ceagesp, na zona oeste, e passa pela avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na zona sul.

No serviço da empresa, o passageiro pode pedalar com o condutor ou apenas ser levado por ele.

“A gente faz o deslocamen­to deixar de ser uma coisa sufocante, estressant­e, como era para mim, e faz ele ser a melhor parte do seu dia”, afirma o economista.

Segundo Lamy, já foram 25 mil corridas em um ano. Ele busca investimen­tos para expandir o serviço pela cidade.

A inspiração para a startup Cipó, do agrônomo Rodrigo Mesquita, 37, também foi resultado de muita transpiraç­ão.

Ele conta que passou constrangi­mento quando quis ir de bicicleta para um curso de MBA que fazia e, dali, percebeu que outras pessoas poderiam ter o mesmo problema.

Seu plano com a empresa é instalar contêinere­s em espaços ociosos, como vagas de estacionam­ento, para servirem de bicicletár­io e de vestiário para quem usa a bike para ir ao trabalho ou à escola.

O banho no contêiner em cabine individual custa R$ 10 por dia, com direito a 20 minutos de chuveiro.

Ainda não houve muita fila, mas Mesquita diz planejar alguma ferramenta de agendament­o no aplicativo para que isso não aconteça.

Já quem quer guardar a bike no bicicletár­io da empresa paga R$ 80 ao mês.

A startup instalou uma unidade no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, e tem cerca de 50 clientes.

Também há empresas que apostam na produção de bicicletas elétricas olhando para o mercado corporativ­o e demonstran­do otimismo com os negócios.

A Vela, que foi lançada em 2015 após a venda de 80 unidades em uma campanha de financiame­nto coletivo na internet, deve dobrar suas vendas neste ano e entregar 800 bikes, afirma seu criador, Victor Hugo Cruz, 29.

Segundo ele, seu público é formado principalm­ente por casais jovens, com filhos de até três anos, que veem na bicicleta uma forma de gastar menos com transporte diário.

“Quem acabou de se juntar vê que fica mais barato abrir mão de um carro e ter duas bikes”, diz.

As bicicletas da empresa custam de R$ 4.890 a R$ 5.890.

A aposta é parecida com a da E-Moving, com a diferença de que a segunda prefere alugar suas bikes a vendê-las.

Gabriel Arcon, 35, fundador da empresa, diz que, como a maioria dos consumidor­es não conhece esse tipo de bicicleta, alugar, em vez de gastar mais dinheiro em uma compra, aumenta as chances de que eles testem o produto.

O aluguel das bicicletas da empresa parte de R$ 219 ao mês (planos mais longos podem ter desconto).

Segundo Arcon, a maior parte dos clientes usa a bicicleta para fins profission­ais.

Em geral, eles passam a deixar de gastar uma hora por dia no trânsito com o novo meio de transporte, diz.

“A maioria de nossos clientes mora no centro financeiro de São Paulo. Temos muitos executivos da Faria Lima, da Berrini, dos Jardins”, diz.

A companhia entrou no mercado em fevereiro de 2015 com dez bicicletas importadas. Hoje ela fabrica as bikes e tem mais de 500 delas.

Entre os recursos recebidos pela startup estão uma injeção de capital de R$ 1 milhão da locadora de carros Movida.

Além de se beneficiar da busca por mais qualidade de vida por parte dos clientes, as startups se dizem satisfeita­s por estar em um mercado aquecido.

Em setembro, a Yellow, startup criada por cofundador­es da 99 e ex-presidente da Caloi, levantou US$ 63 milhões (R$ 235 milhões) com investidor­es para expandir seu serviço de bicicletas compartilh­adas, liberadas via aplicativo.

Segundo dados da Abraciclo, associação do setor de produtores de motos e bicicletas do polo da Zona Franca de Manaus, a produção de bicicletas cresceu 16% de janeiro a setembro deste ano na comparação com os mesmos meses de 2017.

Segundo dados da associação, o segmento deve fechar 2018 em patamar próximo ao de 2014, antes da crise que afetou seu desempenho. Naquele ano, foram produzidas 775 mil bikes e, em 2018, são esperadas 765 mil.

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Zanone Fraissat/Folhapress Victor Hugo Cruz, criador da Vela, que produz bicicletas elétricas voltadas para o público corporativ­o; neste ano, serão 800 bikes
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