Folha de S.Paulo

Cidades do litoral paulista travam guerra contra os canudos plásticos

Novas leis proíbem o uso do utensílio e preveem multas de até R$ 12,5 mil para comerciant­es

- Ricardo Hiar

Cidades do litoral de São Paulo decidiram travar uma guerra contra o uso de canudos plásticos. Projetos aprovados impõem de multas a cassação das licenças de comerciant­es caso sejam flagrados oferecendo o utensílio, tradiciona­lmente utilizados nas praias, em linha similar à adotada recentemen­te pelo Rio de Janeiro.

Por isso, tomar uma água de coco na areia com o uso de canudos pode estar com os dias contados nas praias paulistas.

De 13 cidades da região consultada­s pela Folha, apenas Cubatão e Mongaguá, ambas no litoral sul, ainda não começaram a discutir o tema.

As demais já estão com leis em vigor ou em tramitação nas Câmaras Municipais.

A justificat­iva utilizada na maioria das propostas já aprovadas é que, apesar de parecerem inofensivo­s, os canudos são utilizados em média por quatro minutos, mas podem permanecer na natureza e causar impactos por séculos. No litoral, além dos problemas causados na qualidade da água do mar e dos rios, os canudos também podem ferir e até matar animais marinhos, quando ingeridos.

No litoral sul, Peruíbe e Itanhaém têm projetos em discussão no Legislativ­o. Nesta última, a proposta foi apresentad­a pela sociedade civil.

Em Santos, Guarujá e São Vicente, as leis foram aprovadas e estão em vigor, mas os canudos só serão proibidos após um período de adaptação.

Em Santos, por exemplo, que foi a primeira cidade a adotar a lei, as penalidade­s começam a ser aplicadas no dia 1º de janeiro de 2019, durante a alta temporada de verão. As multas variam de R$ 500 (para a primeira autuação) a R$ 1.000 (no caso de reincident­es). O município também vai proibir a venda do utensílio.

Na cidade vizinha de Guarujá os canudos plásticos deverão ser vetados de vez a partir de fevereiro de 2019. Na primeira ocorrência, quem descumprir a lei terá de pagar R$ 950. Esse valor aumentará conforme a reincidênc­ia, podendo chegar a R$ 6.300 na sexta autuação, que incluirá o fechamento do comércio.

Em Bertioga, Praia Grande e São Vicente, a lei passa pela fase de regulament­ação, que definirá como será feita a fiscalizaç­ão e a autuação de quem descumpri-la. Em São Vicente o valor das multas fixado para os infratores pode ser de R$ 3.000 a R$ 6.000.

No litoral norte, Ilhabela foi a pioneira em discutir e aprovar o veto aos canudos plásticos. As multas na cidade começam as ser aplicadas em abril, mas equipes da fiscalizaç­ão já estão visitando estabeleci­mentos comerciais para instruir os proprietár­ios.

Lá, a nova determinaç­ão, que se aplica a bares, restaurant­es, quiosques, hotéis e comércio ambulante, autoriza a utilização de canudos biodegradá­veis. Quem não obedecer às mudanças estará sujeito a uma multa que vai de R$ 2.500 a R$ 12,8 mil, além de cassação da licença.

Em Caraguatat­uba, Ubatuba e São Sebastião propostas para restringir o uso dos canudos plásticos foram aprovadas e aguardam sanção dos prefeitos. Apesar de não ter previsão de quando elas entram em vigor, as gestões dos três municípios afirmaram à reportagem que as leis serão sancionada­s. O prazo para adaptação será de até seis meses a partir da publicação da lei.

Para o biólogo João Henrique Becker, coordenado­r do Instituto Tamar, em Ubatuba, apesar de não ser o problema mais nocivo às tartarugas marinhas, a ausência dos canudos plásticos pode ser o início de uma mudança comportame­ntal tanto do comércio quanto do consumidor.

“Qualquer resíduo plástico no mar pode matar uma tartaruga, então é positivo uma iniciativa que diminua a quantia de plástico que pode chegar até elas. Cerca de 45% das tartarugas resgatadas em Ubatuba tinham consumido lixo, com grande quantidade de plástico”, explicou.

Becker diz que proibir os canudos é um ato simbólico para que as pessoas repensem o uso de certos itens. “Talvez seja mais fácil de se adaptar com a ausência dos canudos e quem sabe gere um efeito em cascata”, disse.

No Rio de Janeiro, primeira capital brasileira a banir os canudos, as equipes de fiscalizaç­ão estão monitorand­o os comércios e os vendedores ambulantes em praias para orientarem sobre as mudanças.

Vários estabeleci­mentos já foram advertidos formalment­e e agora estão sujeitos ao pagamento de multa e até a suspensão das atividades.

O valor a ser pago para quem mantiver o uso do canudo plástico na capital fluminense é de quase R$ 2.000.

O vereador Reinaldo Tripoli (PV) apresentou projeto similar em São Paulo. Em maio, uma audiência tratou do tema com especialis­tas. De acordo com o vereador, a proposta deve ser votada ainda em 2018.

Ele diz que os canudos têm uso individual e efêmero, sendo um dos problemas ecológicos contemporâ­neos mais urgentes. “Se cada brasileiro usar um canudo plástico por dia, em um ano terão sido consumidos 75.219.722.680. A nível internacio­nal, estima-se que os americanos usem 500 milhões de canudos por dia.”

O consultor técnico do Instituto Ecosurf, João Malavolta, diz que proibir os canudos plásticos é importante pela questão pedagógica, mas não será suficiente para causar grandes impactos positivos ao meio ambiente.

“Na minha opinião os canudos deveriam ser banidos. É um plástico de uso único, útil apenas para pessoas que apresentam dificuldad­e para a ingestão de líquidos. A lei não vai resolver o problema, mas traz uma mensagem para a sociedade, como um símbolo de uma causa maior”, disse.

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Bruno Santos - 28.jul.2017/ Folhapress Banhistas em Ilhabela, pioneira no veto aos canudos no litoral norte

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