Folha de S.Paulo

Trocas sociais

Projetos da Lourenço Castanho integram jovens da elite econômica aos da periferia

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Em projetos sociais de escolas particular­es, os alunos ricos aprendem a ajudar os pobres, certo? Errado. Estudante da Lourenço Castanho, com unidades em bairros da elite econômica como Moema e Vila Nova Conceição, na zona sul, Vinícius Vitorino, 17, explica: “Não há mais esse caráter assistenci­alista. É bom quando tem cara de troca. A gente ensina e aprende ao mesmo tempo”.

Como exemplo, ele cita a visita que fez com o colégio a Heliópolis, já considerad­a a maior favela da América Latina, com 100 mil habitantes. Lá, ele e os colegas conheceram projetos de educação, de cultura e a rádio comunitári­a. Depois, foi a vez de os alunos da comunidade irem à Lourenço participar de saraus e de oficinas, ministrada­s tanto pelos estudantes da escola particular quanto por jovens de Heliópolis. “Eu ajudei nas aulas de dança árabe”, conta Vinícius.

Eles já tiveram curso de hip hop com jovens do Jardim Ângela, bairro de periferia da zona sul, aulas experiment­ais de judô com portadores de síndrome de Down, entre uma série de outras atividades. Há duas semanas, estiveram no bairro do Grajaú, onde fizeram grafite com movimentos locais.

Para coordenar o núcleo de projetos com essa nova visão, a Lourenço contratou um ativista social, Sylvio Ayala. “Temos que furar a bolha, extrapolar as paredes da escola e ir além do assistenci­alismo. Todos os espaços da cidade são propícios para encontrar a educação, estabelece­r intercâmbi­os e vínculos. Isso é tão importante quan-

to aprender matemática e química. Não é formação complement­ar, é principal.”

Vinícius vivencia as trocas no cotidiano. Ele sempre havia estudado em escolas municipais, até conseguir uma bolsa no ensino médio da Lourenço. “A gente conversa muito nas aulas sobre as diferenças entre o ensino público e o privado. Os professore­s falam, por exemplo, do fato de os alunos estarem acostumado­s a ter ar-condiciona­do na sala, que nem sempre é assim, e posso ajudar com a minha experiênci­a”, diz ele, que se tornou o fotógrafo oficial das saídas culturais.

No início, Vinícius teve de se esforçar até chegar ao nível de conteúdo da turma da Lourenço, mas agora já está tranquilo e pensa na faculdade: “Estou indeciso entre direito e letras”. Confessa uma queda pela segunda opção. “Desde que tinha uns seis anos, quero ser professor de literatura.” Um mestre que gosta de ensinar e aprender ao mesmo tempo. Belo futuro para a educação.

Temos que furar a bolha, extrapolar as paredes da escola. Todos os espaços da cidade são propícios para encontrar a educação, criar intercâmbi­os e vínculos SYLVIO AYALA, coordenado­r de projetos sociais da Lourenço Castanho

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