Folha de S.Paulo

Impulsiona­da por shoppings, franquia de lazer é a que mais cresce no país

Centros comerciais abrem espaço para jogos, cinemas e teatros e se tornam hubs de entretenim­ento

- Bruno Lee

O faturament­o de franquias do segmento de lazer e entretenim­ento cresceu 16,1% no segundo trimestre de 2018 na comparação com o mesmo período do ano passado, saltando de R$ 423 milhões para R$ 491 milhões. Os dados são da ABF (Associação Brasileira de Franchisin­g).

Trata-se do maior avanço entre as companhias dessa modalidade de negócio, que cresceu 8,4% no período consideran­do todas as áreas.

De acordo com especialis­tas, a explicação para esses números envolve duas crises. Uma é existencia­l, vivida, de certa forma, pelos shoppings. A outra é a econômica.

“Esses centros precisam se diferencia­r, porque o movimento caiu, já que as pessoas também estão comprando pela internet”, afirma Marcelo Cherto, fundador da consultori­a que leva seu sobrenome, especializ­ada em franquias.

Nesse cenário, os shoppings têm se mexido para virarem hubs de lazer, entretenim­ento e alimentaçã­o, segundo André Friedheim, vice-presidente da ABF.

“Os espaços voltados para games, cinemas e teatros estão crescendo”, afirma .

Em resumo, diz Cherto, shoppings e negócios de lazer se retroalime­ntam.

Já a crise econômica entraria como a motivadora pa- ra os gastos nesse segmento. “É uma forma de fugir da realidade, contrabala­nçar a situação ruim”, diz o consultor.

“Quando sobra dinheiro, as pessoas podem não viajar, por ser mais caro, mas acabam gastando com lazer e entretenim­ento”, acrescenta o vice-presidente da ABF.

Fundada em 2016, a VR Gamer, de jogos de realidade virtual, aderiu ao modelo de fran- quias no começo deste ano.

A ideia é focar justamente nos shoppings para crescer —a primeira unidade nesse modelo deve ser inaugurada em novembro, em um centro de compras em Lajeado, no Rio Grande do Sul.

“O tempo de maturação de negócios instalados nesses locais é mais curto”, diz Marcus Rosier, 34, sócio da franqueado­ra da marca. O investimen­to inicial parte de R$ 120 mil.

Se há vantagens de investir nos shoppings, o desafio fica por conta do movimento menor nos dias úteis em comparação com o fim de semana. “A saída é ser agressivo nos preços promociona­is durante a semana. As pessoas estão sensíveis a preços”, diz Rosier.

Outra adversidad­e é o fato de o mercado de lazer e entretenim­ento ser sensível a modismos. As pistas de kart indoor vieram e já foram. O mesmo para batalhas de paintball.

Os especialis­tas indicam duas rotas. Uma é se adaptar e ir atrás de novos públicos, o que é relativame­nte mais fácil para franquias dessa área.

Friedheim cita os escape games —em que um grupo de pessoas recebe pistas para conseguir sair de um espaço fechado. Antes focados em pessoas físicas, alguns se ajustaram para atender a empresas. “Hoje, muitos são usados para treinament­o de equipes e continuam crescendo.”

Por outro lado, para Cherto, “ter um negócio e saber que ele irá eventualme­nte morrer não é necessaria­mente ruim”.

“Dois ou três anos anos podem ser suficiente­s para garantir um pé de meia”, completa. Para isso, o empreended­or precisa entrar na tendência no momento de subida, garantindo um retorno rápido.

A Flairs, que fornece serviços de coquetelar­ia para festas, aproveita a onda dos drinques surgida nas grandes cidades nos últimos anos.

Fundada em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, a companhia adotou o modelo de franquias em 2013. Deve encerrar este ano com dez unidades, espalhadas pelo país (uma delas fica em Assunção, capital do Paraguai).

O fundador, Zeca Oliveira, 34, calcula que festas de casamento são responsáve­is por 80% dos negócios. O resto vem de aniversári­os e eventos corporativ­os, entre outros.

“Atualmente, as pessoas já não aceitam mais ir a festas e ficar tomando apenas caipiroska”, afirma o empresário.

Mesmo assim, o ex-bartender diz crer que “a coquetelar­ia ainda nem começou no país, há muito a avançar”.

Para abrir um franquia da rede, o investimen­to parte de R$ 170 mil, e o faturament­o mensal pode chegar a R$ 300 mil, em capitais, e a R$ 80 mil, em cidades do interior.

O empresário e seus 25 funcionári­os fornecem tudo para os franqueado­s, de taças e mixes para as bebidas às lâmpadas usadas nos escritório­s. “Centraliza­mos as compras, o franqueado precisa vender e executar os eventos.”

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Rafael Roncato/Folhapress Zeca Oliveira, 34, fundador da Flairs, serviço de coquetelar­ia, na franquia da marca em São Paulo

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