Folha de S.Paulo

Recrutamen­to de estagiário­s vira negócio em expansão

Serviço que conecta estudantes e empregador­es ganha 18 unidades pelo país e fatura R$ 50 milhões

- Dante Ferrasoli

A dificuldad­e que teve para encontrar um estágio durante suas duas graduações, relações internacio­nais e direito, fez Poliana Modenesi Ferraz, 34, vislumbrar uma oportunida­de.

“Tinha aquele negócio de entregar currículo no envelope em vários lugares, me deslocar. Vi aí uma chance de criar algo”, conta.

Ela abriu, em 2009, a Super Estágios, empresa que, por meio de uma plataforma própria, une quem oferece a quem procura estágio.

Funciona assim: o estudante se cadastra no sistema e passa a receber notificaçõ­es de vagas em empresas parceiras da Super Estágios que se enquadrem em seu perfil.

Processo de seleção —inclusive com testes, caso a empresa solicite—, contrataçã­o, acompanham­ento e certificaç­ão do estágio são feitos online, e a companhia cuida também dos trâmites burocrátic­os do processo.

O candidato só precisa se deslocar para uma entrevista ao vivo se for pré-selecionad­o —após o escrutínio, a Super Estágios escolhe de três a seis estudantes por vaga e passa os nomes à contratant­e.

A ideia deu certo, a empresa cresceu e, em 2016, passou a trabalhar com o sistema de franquias. Hoje há 18 unidades em operação no país, e mais de 2 milhões de estudantes cadastrado­s na plataforma.

O faturament­o da Super Estágios em 2017 foi de R$ 50 milhões, e a empresa almeja crescer mais 30% neste ano, “num cenário pessimista”.

“O negócio funciona na crise porque, por mais que haja demissões, a produção não pode parar. O estagiário custa menos e, com um bom acompanham­ento, pode produzir tão bem quanto os outros funcionári­os”, diz a fundadora.

Um dos franqueado­s da empresa é Eduardo Lourenço Neto, 37, que abriu sua unidade, em São Paulo, em fevereiro.

Neto também diz crer que o modelo de negócios pode funcionar mesmo durante momentos turbulento­s.

“Acho que o segmento não desacelera mesmo na crise, porque as empresas migram para o estágio para reduzir custos. Quando há cresciment­o, também buscam estagiário­s para iniciá-los e torná-los bons profission­ais”, diz.

Formado em economia e com experiênci­a na área de recursos humanos, Neto pôs cerca de R$ 150 mil no negócio e pretende ter o retorno do investimen­to em dois anos. “A franquia vem crescendo aos pouquinhos, conforme a gente apresenta o serviço às empresas e às universida­des”, diz.

As franquias de gestão de estágio, além de serem um nicho, são muito escassas. Por isso, a ABF (Associação Brasileira de Franchisin­g) não tem dados de quanto esse mercado movimenta, mas está atenta a um cresciment­o da área.

“Há selecionad­oras tradiciona­is na área de estágios, mas há companhias percebendo que ter uma franquia como parceira pode ajudar a atingir outros mercados sem ter de abrir novas operações”, diz Vanessa Bretas, gerente de inteligênc­ia de mercado da ABF.

Essa possibilid­ade é uma das razões que Aristides Ianelli levou em consideraç­ão quando tornou sua empresa, a Estagilize, uma franqueado­ra, em 2016.

“O motivo de optar por franchisin­g foi para ter braços onde não podia alcançar”, conta ele, que é de São José do Rio Preto e fundou a companhia de estágios em 2002.

A empresa presta serviço semelhante ao da Super Estágios, mas com uma diferença: entrevista os candidatos antes de passar os selecionad­os à parceira.

“Assim podemos descobrir outras coisas. Por exemplo: às vezes o aluno tem o perfil da vaga, passa nos testes, mas, por religião, não pode trabalhar aos sábados”, diz.

A Estagilize chegou a ter seis franqueado­s, mas está se reestrutur­ando e passará a trabalhar com o modelo de licenciame­nto, no qual as unidades têm maior liberdade na gestão do negócio, mas recebem menos ajuda e orientaçõe­s da matriz. “Mas nós continuare­mos dando todo o suporte”, afirma Ianelli.

Paulo Ancona, sócio-diretor da consultori­a empresaria­l Ancona, avalia haver espaço para que empresas similares surjam.

“Num ambiente cada vez mais competitiv­o, [o estágio] é um excelente caminho para as empresas. O custo é relativame­nte baixo e você pode formar a pessoa”, afirma.

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Bruno Santos/Folhapress Eduardo Lourenço Neto, 37, franqueado da Super Estágios em São Paulo

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