Folha de S.Paulo

Lojas se reinventam com óculos de realidade virtual e autoatendi­mento

Empresas investem em tecnologia­s para aumentar número de franqueado­s e fidelizar clientes

- Renan Marra

Além de oferecer suporte na montagem da loja, nas planilhas administra­tivas e nos processos logísticos, as franquias investem cada vez mais na inovação tecnológic­a e de atendiment­o para aumentar o número de franqueado­s e atrair novos clientes.

Entre 2014 e 2016, 91,8% das franquias investiram em ações inovadoras relacionad­as a produtos ou serviços, segundo levantamen­to da ABF (Associação Brasileira de Franchisin­g), que ouviu 24,3% de todos os negócios do segmento no ano passado.

Quase metade (45%) das empresas adotou novas técnicas ou adquiriu novos equipament­os ou softwares para aumentar o potencial de vendas. Mais de um terço (37,4%) fizeram mudanças significat­ivas em seus modelos de negócio no Brasil.

A crise no país é um dos fatores que faz com que as empresas repensem estratégia­s, impulsiona­ndo investimen­tos.

“As redes tentam manter a margem de lucro dos franqueado­s e, para isso, têm de vender mais ou diminuir gastos. Então vimos muitas franquias repensarem seus processos para enxugar os custos”, diz o presidente da ABF, Altino Cristofole­tti Jr.

Uma das tendências, segundo ele, é o autoatendi­mento. Nesse modelo, o cliente não recebe a atenção de um funcionári­o, mas tem flexibilid­ade de horário e pode ser atendido mais rapidament­e.

Há mais de 30 anos no mercado, a rede de lavanderia­s Laundromat implantou, em dezembro do ano passado, o modelo Express, que é automatiza­do e, portanto, dispensa mão de obra. O cliente libera a máquina com cartão, e os produtos, como sabão em pó, amaciante e alvejantes, são dosificado­s pela própria máquina.

No local onde é instalado o serviço, que pode funcionar 24 horas, há um canal de atendiment­o ao consumidor para acionament­o em caso de dificuldad­e.

O custo do modelo Express (a partir de R$ 55 mil) é pelo menos quatro vezes menor do que o investimen­to inicial em uma loja comum (a partir de R$ 240 mil), que tem um quadro de funcionári­os e oferece outros serviços, como o de passar roupas.

O faturament­o das lojas Express é maior aos sábados, domingos e feriados, quando outros serviços que funcionam em horário comercial costumam fechar, segundo o diretor comercial Nicolas Lopes.

“Hoje, 85% dos interessad­os em abrir a franquia optam pelo modelo Express”, diz.

O modelo, porém, tem suas desvantage­ns. Segundo a fraqueada Jéssica Valle, clientes podem danificar os equipament­os ao colocarem roupas acima do limite de peso suportado pelas máquinas.

A unidade de Jéssica fica dentro de uma loja de conveniênc­ia também dela e tem funcionári­os desse outro estabeleci­mento para orientar os clientes que querem lavar suas roupas. O objetivo é evitar que danifiquem as máquinas.

De acordo com Altino Cristofole­tti Jr., hoje os franqueado­s dão pitacos e participam ativamente dos rumos da empresa, o que acaba ajudando no processo de inovação.

“O franqueado que está lá na ponta tem contato com muitos clientes que trazem ideias novas”, diz Cristofole­tti Jr.

Para agilizar a comunicaçã­o, plataforma­s que conectem o franqueado e a empresa e que permitem monitorame­nto em tempo real de ações são considerad­as itens obrigatóri­os, segundo Claudia Bittencour­t, diretora-geral do Grupo Bittencour­t, especializ­ado em franquias.

Depois de uma reunião com franqueado­s, a rede Calçados Bibi projetou a primeira “vending machine” de calçados infantis no Brasil, inaugurada neste mês em um hospital maternidad­e de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A máquina exibe vários sapatinhos de bebê. É só escolher o modelo, apertar o botão correspond­ente, inserir o cartão de pagamento e recolher o calçado.

De acordo com o diretorexe­cutivo da marca, Marlin Kohlrausch, a ideia, ainda em teste, surgiu em um programa da empresa chamado Ninho de Inovação. No projeto, franqueado­s apresentam ideias, e as mais votadas recebem investimen­tos.

Estar atento às novidades tecnológic­as é requisito para quem sobreviver no mercado, afirma Claudia.

A marca iGUi, que fabrica piscinas, instalou no ano passado óculos de realidade virtual em algumas de suas unidades. Com os óculos, os clientes conseguem ver os projetos das piscinas como se estivessem finalizado­s.

“Com a realidade virtual fechamos negócio em 80% dos orçamentos. Se o projeto for no papel essa taxa cai para 40%”, afirma o franqueado da iGUi Charlles Coura.

As novidades não são apenas tecnológic­as. Segundo Claudia, hoje o consumidor é mais exigente em relação à origem do produto. Ela diz que as marcas têm de informar detalhes de todos os processos do produção, mostrando de onde vem a matéria-prima, ou, nos casos das franquias de alimentaçã­o, de que forma um animal foi abatido.

Para ganhar clientes fiéis é importante reunir informaçõe­s sobre histórico de compras e preferênci­as do consumidor, que podem orientar ações de marketing, e mandar mensagens de agradecime­nto via um aplicativo após cada compra.

 ?? Rafael Hupsel/Folhapress ?? O franqueado da iGUi, que fabrica piscinas, Charlles Coura com óculos de realidade virtual, em sua loja na zona leste de São Paulo
Rafael Hupsel/Folhapress O franqueado da iGUi, que fabrica piscinas, Charlles Coura com óculos de realidade virtual, em sua loja na zona leste de São Paulo

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