Folha de S.Paulo

Como escolher entre franquia e licenciame­nto

Decisão deve considerar perfil do empreended­or e se sua prioridade é ter suporte da rede ou liberdade na gestão

- Fernanda Reis

Empreended­ores que queiram montar seu primeiro negócio sem criar uma marca própria têm dois caminhos possíveis: o da franquia ou do licenciame­nto.

Embora o empresário possa usar o nome e a identidade visual da rede nos dois casos, são modelos de negócios com direitos e deveres distintos. Na hora de optar por um deles é preciso analisar seu perfil e decidir se prefere mais suporte ou liberdade.

“São modelos legais completame­nte diferentes”, diz Marcus Salusse, professor e coordenado­r de projetos do centro de empreended­orismo e novos negócios da FGVSP. Enquanto a franquia é regida por uma lei específica, o licenciame­nto é uma modalidade menos regulament­ada.

De um lado, a lei garante à franquia que o franqueado cumpra todos os padrões da rede sob pena de perder o contrato. De outro, faz com que ele receba, antes de fechar negócio, uma explicação do modelo de funcioname­nto da rede e uma relação com todos os franqueado­s vigentes, para servirem como referência.

“No caso da franquia, além de usar a marca tenho acesso a um modelo de negócios: sei que ponto comprar, quantos funcionári­os tenho que ter, quanto de retorno posso ter”, diz Hannah Salmen, analista de competitiv­idade do Sebrae.

Trata-se um passo à frente do licenciame­nto, que dá apenas o direito de usar a marca e orientaçõe­s sobre o padrão visual e arquitetôn­ico da loja.

Para quem está iniciando a atividade empresaria­l e tem pouca experiênci­a, o suporte da franquia é interessan­te, diz Salmen: enquanto o índice de fechamento de uma empresa própria é de 24% nos primeiros dois anos de funcioname­nto, para quem opta por uma franquia o número é de 4%.

Larissa Torres, que abriu seu primeiro negócio com o marido como licenciada da rede Uni Açaí, em 2014, conta que começar a empreender sem ajuda foi difícil. Precisava estar sempre na loja para entender e conquistar os clientes.

Em 2016, a marca mudou o modelo para a franquia, o que, em sua opinião, teria facilitado sua trajetória. “Para quem está começando é melhor. Você pula as etapas que eu passei”, diz. “Como licenciada não tive nada, tudo o que aprendi foi na raça.”

O suporte dado pelas franqueado­ras vem, porém, acompanhad­o de limitações. “Você não pode introduzir produtos e serviços que não estejam no escopo do franqueado­r, não pode operar de maneira diferente e tem operações muito claras a seguir cotidianam­ente”, diz Marcus Salusse. “É uma modelagem de negócios muito mais restritiva.”

Enquanto a franquia é baseada na padronizaç­ão, o licenciame­nto permite maior autonomia para tomada de decisões e adaptação de produtos para seu mercado.

Empresário­s mais arrojados podem, assim, preferir o licenciame­nto, independen­temente da experiênci­a. Angelica Perazzo, que começou a empreender como licenciada da Le Postiche, diz não trocar a liberdade de montar seu estoque como quiser, com base nas demandas dos clientes.

“Tem linhas novas que vendem bem numa cidade e em outra, não. Não ter estoque igual ajuda a fazer o negócio acontecer, porque a demanda muda muito de um lugar para o outro. Um dos segredos do negócio é ter essa flexibilid­ade”, afirma ela.

A Le Postiche usava o modelo de franquias, diz o diretor Carlos Eduardo Padula, mas decidiu trocá-lo em acordo com os franqueado­s. Além da liberdade, outro atrativo para os donos de lojas, diz, foi pagar menos à marca.

“Na franquia você envolve um compromiss­o de prestação de serviços e de know how que tem custo. Você precisa ter estrutura, consultori­a, um manual, visitar com frequência”, afirma. Esse valor acaba por ser repassado para o empreended­or.

Quando mudaram para o licenciame­nto, diminuíram a taxa de royalties de 6% para 3%. Hoje, além de treinament­os três vezes por ano, a empresa oferece ajuda se houver uma demanda do licenciado —que paga à parte por isso.

Segundo Salusse, ao optar por um modelo é importante analisar o contrato e, no caso do licenciame­nto, ver se não extrapola o modelo tradiciona­l e implica em obrigações parecidas com as da franquia.

Apoio dado por franqueado­ras vem acompanhad­o de limitações; não se pode, por exemplo, introduzir serviços ou produtos novos no portfólio

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Patricia Stavis/Folhapress A empresária Angelica Perazzo em sua loja licenciada Le Postiche, na zona norte de São Paulo

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