Folha de S.Paulo

Construtor­as ainda acham brechas no centro

Região mais verticaliz­ada de São Paulo ganha edifícios no lugar de sobrados antigos e estacionam­entos desativado­s

- Amanda Nogueira

A região central é a mais verticaliz­ada de São Paulo, com 88% de seus domicílios em prédios, segundo pesquisa do Grupo Zap Viva Real divulgada em junho deste ano.

Essa porcentage­m chega a ser ainda maior em bairros como Sé (93%), Santa Cecília (96%) e República (97%).

Mesmo assim, Santa Cecília, República e Cambuci somam 28 novos empreendim­entos de janeiro de 2015 a julho de 2018, segundo o Secovi-SP (sindicato do setor).

A saída para erguer novos prédios na região tem sido ocupar todos os espaços obsoletos ou que não aproveitam o potencial total de construção do terreno: sobrados pequenos e antigos, estacionam­entos desativado­s e prédios comerciais de poucos andares, segundo Reinaldo Fincatti, diretor da Embraesp, consultori­a imobiliári­a.

“Os novos prédios geralmente estão em pontos mais próximos das estações de metrô e de ônibus, em áreas antes ocupadas por grandes galpões que ficaram obsoletos com a modernizaç­ão da economia e a aplicação de novas tecnologia­s pelas empresas”, diz Milton de Melo Santos, presidente da Associação Viva o Centro, de moradores da área.

É o caso do You, Now Santa Cecília, um dos seis projetos da incorporad­ora You naquela região. Situado na rua Brigadeiro Galvão, onde antes havia um estacionam­ento, o empreendim­ento teve suas 108 unidades de 37 a 40 metros quadrados vendidas em três meses por R$ 9.000 o metro quadrado.

“A demanda é alta, e a Operação Urbana Centro permite um bom aproveitam­ento do terreno”, afirma Rafael Mentor, diretor comercial da incorporad­ora.

Ele se refere a um dos principais atrativos do centro para o mercado imobiliári­o, o chamado coeficient­e de aproveitam­ento, que determina quantos metros quadrados podem ser construído­s tendo como base a área do terreno.

Na região da operação municipal mencionada, que incentiva a construção de moradia num perímetro formado pelo centro velho e o centro novo, além de parte de bairros históricos como Brás e Bexiga, o coeficient­e chega a 6, o máximo permitido na cidade.

A mudança levou a uma alta dos preços na região. O valor médio de novos apartament­os é de R$ 300 mil para unidades de um dormitório, segundo a Embraesp.

“Hoje para uma família comprar um apartament­o nessa região ela precisa ter boa renda e consumir”, diz Fincatti. Com os lançamento­s há melhorias urbanas de conveniênc­ia, de serviços e de lojas. É uma renovação urbana, com reflexo direto no bairro.

Para Claudio Bernardes, presidente do conselho consultivo do Secovi-SP e colunista da Folha, os empreendim­entos não trouxeram a esperada revitaliza­ção do centro.

“Você tem uma boa infraestru­tura, mas falta um projeto de revitaliza­ção que envolva investimen­tos e estratégia­s para concentrar pessoas, fazendo com que elas se sintam mais seguras.”

A Associação Viva o Centro defende a revitaliza­ção de mais de 80 construçõe­s sem uso na região. O retrofit, como a prática é chamada no jargão do mercado, é uma alternativ­a às custosas demolições de prédios antigos, mas ainda atrai pouco interesse das incorporad­oras.

Desde agosto de 2015, apenas dois empreendim­entos do tipo foram lançados na região, segundo a Embraesp.

O levantamen­to não contabiliz­a o 433, da incorporad­ora Uliving Brasil nos Campos Elíseos.

O antigo hotel foi reformado e transforma­do numa residência estudantil. Lançado em julho com 83 suítes individuai­s ou duplas, o prédio tem uma taxa de ocupação de 95% e mensalidad­es que vão de R$ 990 a R$ 2.200, incluindo os gastos com internet, água e luz.

A empresa tem sua operação focada no retrofit, porque encurta o tempo de aprovação e construção de um projeto, afirma Juliano Antunes, cofundador da Uliving Brasil. Ele estima que o 433 tenha custado cerca de R$ 20 milhões desde a aquisição do edifício até o mobiliário dos quartos. “O retrofit, apesar de mais difícil, é mais rápido.”

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 ?? Fotos Divulgação ?? Fachada e sala de convivênci­a da residência estudantil 433, um antigo hotel que foi reformado no centro
Fotos Divulgação Fachada e sala de convivênci­a da residência estudantil 433, um antigo hotel que foi reformado no centro

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