Folha de S.Paulo

Homenagem a Toko, cão comunitári­o de Quadra

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Ele chegou em um 6 de agosto, dia de Bom Jesus, o padroeiro da cidade. Veio com os devotos que haviam andado 19 km desde Tatuí. Era jovem e nunca mais foi embora. Nos últimos dez anos, tornou-se uma das figuras mais queridas da pequena cidade de Quadra, nas proximidad­es de Sorocaba. Não perdia uma apresentaç­ão de teatro, um campeonato de futebol, uma festa, um velório, uma procissão.

De gravata, entrou na frente de algumas noivas na Igreja Matriz. Igreja, aliás, na qual sempre teve um tapetinho reservado durante a missa.

Foi em um desse eventos comunitári­os que Toko morreu, na semana passada, de forma cruel, no Dia de Nossa Senhora Aparecida.

Um dos rojões que anunciavam a procissão falhou e caiu no chão. Acabou abocanhado e estourou na boca do vira-lata.

O episódio levou moradores de Quadra a se organizare­m para pedir à prefeitura a restrição da queima de fogos —movimento que tem adesão de cidades de muitos países e pode poupar outros cães comunitári­os, população em cresciment­o por lá. Na cidade de São Paulo, soltar fogos barulhento­s é proibido desde maio.

Para Toko, resta a homenagem: ele vai entrar para a história oficial do município e será o primeiro personagem da cultura local a ganhar uma estátua na praça central, onde costumava dormir nos dias mais quentes.

“Nos dias frios, ele dormia na casa de um, de outro. Toko era muito importante para nós”, diz o diretor de Cultura, Esporte, Turismo e Lazer, Benemari Sulivam, 32, o autor da ideia da estátua. Benemari diz que os comerciant­es já se prontifica­ram a financiar a escultura, que terá uma placa contando exatamente essa história.

A homenagem, a gente sabe, não muda o desfecho do caso, mas, segundo Benemari, o episódio parece ter servido para unir os quase 4.000 moradores de Quadra em defesa dos animais.

É um alento nesses dias bicudos nos quais, para reagir, parece que temos mesmo que bater no fundo do poço.

Em tempo: muitos moradores de Quadra dizem que tentaram adotar Toko, mas que ele escapava e voltava a andar pela cidade.

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