Superpasta da Justiça vai ser oferecida hoje a Sergio Moro
Ministério reunirá Segurança, Transparência e Coaf; contato ocorreu antes de eleição, diz Mourão
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, ofertará ao juiz Sergio Moro uma versão expandida do Ministério da Justiça. A pasta somará Justiça, Segurança Pública, Transparência e Controladoria-Geral da União, além do Conselho de Controle de Atividades Financeiras.
Caso o convite seja aceito, outro juiz assumiria a Lava Jato e Moro teria que abandonar definitivamente a magistratura.
O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), vai oferecer ao juiz Sergio Moro uma versão turbinada do Ministério da Justiça.
A pasta vai somar as estruturas da Justiça, Segurança Pública, Transparência e Controladoria-Geral da União e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), este último hoje ligado ao ministério da Fazenda.
O convite será feito pessoalmente na manhã de quinta-feira (1º), na residência de Bolsonaro, no Rio de Janeiro.
O juiz responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância do Paraná visitará o presidente eleito.
Moro foi sondado ainda durante a campanha. Vice do presidente eleito, o general Hamilton Mourão disse em evento no Rio na quarta (31) que a primeira abordagem aconteceu há algumas semanas. O responsável por contatar o juiz foi o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.
Ao remodelar o ministério, Bolsonaro pretende reforçar seu discurso de segurança pública e combate à corrupção.
Por sua atuação judicial, Moro é visto como linha-dura. Partiram dele decisões que levaram à cadeia figuras importantes da política e do meio empresarial, como Marcelo Odebrecht, o ex-presidente Lula e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
No caso do petista, o magistrado condenou o ex-presidente no caso do tríplex do Guarujá, em julho de 2017. A decisão foi confirmada em segunda instância, levando à prisão de Lula em abril deste ano.
Por seus julgamentos, Moro passou a ser tratado como herói em manifestações antipetistas, por exemplo. Por outro lado, defensores do PT o acusam de ser parcial.
Em entrevista a emissoras de televisão, um dia depois de ser eleito, Bolsonaro disse que gostaria de ter Moro à frente da Justiça ou do STF (Supremo Tribunal Federal) —é o presidente que indica os membros da corte, o que é seguido por uma confirmação pelo Senado.
No Supremo, uma vaga só abriria, no atual cenário, em 2020, com a aposentadoria compulsória do ministro Celso de Mello, membro mais antigo do tribunal, que completará 75 anos daqui a dois anos.
Em resposta às declarações de Bolsonaro à imprensa, o juiz se disse honrado por ter sido lembrado. “Caso efetivado oportunamente o convite, será objeto de ponderada discussão e reflexão”, disse o magistrado.
Nesta semana, após a eleição, Moro parabenizou Bolsonaro, ainda que sem citá-lo nominalmente, e desejou que ele faça “um bom governo” e resgate a confiança da sociedade brasileira nos políticos.
Sua mulher, a advogada Rosângela Wolff Moro, também se manifestou favoravelmente à eleição de Bolsonaro.
Se confirmada, a ida de Moro para o governo terá um quê de superação de um episódio ocorrido em março do ano passado. O juiz atendia admiradores no aeroporto de Brasília quando foi avistado por Bolsonaro, que o abordou prestando continência e exclamando: “doutor Moro!”.
O juiz falou um “tudo bem?”, deu um leve sorriso e saiu.
O parlamentar foi alvo de piadas pelo ocorrido. “Quero crer que ele não me reconheceu”, disse Bolsonaro à Folha à época. “Ele que tem que responder [sobre a reação], até porque sempre tratei com dignidade todo mundo.”
Moro então ligou para pedir desculpas e disse que não teve a intenção de ofender o parlamentar, mas também não queria que o episódio fosse “explorado politicamente”.