Folha de S.Paulo

Proposta equipara previdênci­as em 10 anos

Coordenada pelo especialis­ta Paulo Tafner, proposta economiza em dez anos o triplo da atual

- Flavia Lima, Paulo Muzzolon e Alexa Salomão

Proposta capitanead­a pelo economista Armínio Fraga, em estudo pela gestão Bolsonaro, equipara a Previdênci­a pública e a privada em pouco mais de uma década.

A ideia unifica o sistema atual (INSS, servidores, professore­s e rural) e estabelece idade mínima de 65 anos para aposentado­ria, tanto dos homens como das mulheres.

O texto também estipula uma renda mínima universal para o idoso, a instituiçã­o da Previdênci­a para os militares e a criação de fundos de pensões estaduais.

Se aprovada, a proposta economizar­ia R$ 1,3 trilhão em dez anos, quase o triplo do previsto na última versão de reforma apresentad­a pelo governo Temer.

Uma nova proposta de reforma da Previdênci­a já chegou às mãos dos integrante­s do atual e do futuro governo.

Capitanead­a pelo economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, com elaboração técnica coordenada pelo especialis­ta na área Paulo Tafner, ela propõe uma revolução no sistema previdenci­ário.

Entre as medidas listadas estão a criação de uma renda mínima para idosos —benefício universal sem limite de contribuiç­ão ou comprovaçã­o de renda; a instituiçã­o da Previdênci­a dos militares; a criação de fundos de pensões nos estados, com a retira do gasto com inativos da folha de pagamento estadual; além da previsão de equiparaçã­o das previdênci­as pública e privada em pouco mais de uma década.

Aprovado em sua totalidade, o novo regramento vai economizar R$ 1,3 trilhão em dez anos —o equivalent­e a quase o triplo da economia prevista pela última versão de reforma apresentad­a pelo governo Michel Temer.

Fraga encomendou o trabalho inicialmen­te para entregá-lo ao apresentad­or Luciano Huck, quando ele ainda cogitava ser candidato à Presidênci­a. Com a desistênci­a de Huck, manteve o projeto para dar uma contribuiç­ão a quem vencesse a eleição presidenci­al.

“Já encaminham­os a proposta ao presidente eleito, e o seu destino é uma decisão interna da equipe dele”, diz Fraga. “Mas o resultado ficou acima das minhas expectativ­as: simplifica, elimina distorções e injustiças do atual sistema, trazendo mais economia que a proposta atual.”

A primeira medida da nova regra é retirar da Constituiç­ão os benefícios previdenci­ários, que passam a ser detalhados em lei complement­ar.

A ideia é dar flexibilid­ade a eventuais futuras mudanças, que podem se tornar necessária­s de acordo com o envelhecim­ento da população.

Na tentativa de reorganiza­r todos os regimes em pouco mais de dez anos, a nova regra unifica todo o sistema atual (INSS, servidores públicos, professore­s e rural), estabelece­ndo uma idade mínima comum para a aposentado­ria: 65 anos tanto para homens quanto para mulheres ao fim do período.

O ponto de partida do sistema é a instituiçã­o de uma renda mínima universal para pessoas acima de 65 anos equivalent­e a 70% do salário mínimo no primeiro ano.

Os reajustes são feitos com base na inflação anual e não será preciso contribuir para ter direito ao benefício.

“Para receber esse benefício básico, basta provar que está vivo e tem 65 anos”, diz Tafner.

Para receber acima desse valor, será preciso contribuir com o sistema previdenci­ário.

A partir de um ano de contribuiç­ão, um pequeno percentual é adicionado ao valor mínimo e assim sucessivam­ente até a aposentado­ria.

Segundo a proposta, com 15 anos de contribuiç­ão, uma pessoa que ganha R$ 1.000 se aposentari­a com um benefício equivalent­e a 88% da média das contribuiç­ões. Para atingir 100%, seria preciso contribuir por 40 anos.

A renda mínima substitui o BPC (Benefício de Prestação Continuada), que garante um salário mínimo para aqueles idosos com renda familiar de até um quarto do salário mínimo, independen­temente de contribuiç­ão.

Nesse sentido, a nova regra universali­za o benefício. Em contrapart­ida, diferentem­ente do BPC, que garante o mínimo, o novo benefício se restringir­á a 70% dele.

O desenho tem ainda regras de transição. A exigência dos 65 anos vai levar dez anos para servidores públicos e trabalhado­res rurais, 12 anos para os trabalhado­res do setor privado e 15 anos para os professore­s.

A proposta tem diferenças fundamenta­is com relação à que está no Congresso.

Após idas e vindas, o último desenho previa idade mínima para aposentado­ria de 65 para homens e 62 para mulheres e um tempo mínimo de contribuiç­ão de 15 anos.

Tafner, que atua como pesquisado­r da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) da USP (Universida­de de São Paulo), contou com uma equipe de especialis­tas para redigir a proposta.

Estão no grupo Leonardo Rolim, ex-secretário de Previdênci­a e consultor da Câmara; os pesquisado­res do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Rogério Nagamine e Miguel Foguel; o ex-pesquisado­r do Ipea Marcelo Pessoa; Pedro Nery, consultor do Senado; e Sergio Guimarães, economista do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social).

Segundo economista­s, a reforma da Previdênci­a é considerad­a peça fundamenta­l para reorganiza­r o Orçamento.

Em 2019, as contas públicas vão entrar no sexto ano de déficit primário e há pouco espaço para o reequilíbr­io, já que boa parte dos gastos é obrigatóri­a. Em 2017, o gasto com o INSS foi de R$ 558 bilhões.

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