Folha de S.Paulo

Astronauta será ministro da Ciência do novo governo

Único brasileiro a ir ao espaço diz que quer aumentar investimen­to e aproximar tema do dia a dia

- Talita Fernandes e Gabriel Alves Tuca Vieira - 29.mar.06/Folhapress

Jair Bolsonaro anunciou, em rede social, o nome de Marcos Pontes. A pasta de Ciência e Tecnologia terá nova formatação: Comunicaçõ­es deve se unir a Transporte­s e Infraestru­tura.

Já o ensino superior, parte do Ministério da Educação, ficaria sob cuidados do astronauta.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), anunciou no Twitter o astronauta Marcos Pontes como futuro ministro da Ciência e Tecnologia.

“Comunico que o TenenteCor­onel e Astronauta Marcos Pontes, engenheiro formado no ITA, será indicado para o Ministério da Ciência e Tecnologia. É o quarto Ministro confirmado!”, escreveu.

O anúncio se deu um dia após a primeira reunião de Bolsonaro com seu núcleo duro, no Rio, para discutir a formação de governo.

Pelo plano, a pasta deve ganhar nova formatação: as Comunicaçõ­es, hoje atreladas à Ciência e à Tecnologia, devem compor uma pasta com Transporte­s e Infraestru­tura.

Ficaria também sob os cuidados de Pontes a área de ensino superior, atrelada ao MEC (Ministério da Educação).

Desde a fusão do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) com o das Comunicaçõ­es em 2016, boa parte da comunidade acadêmica pedia pela separação. A proposta ganhou força não só pela simbologia mas também por conta do corte de verbas federais para o financiame­nto de projetos, que desde 2013 caiu quase pela metade.

Primeiro astronauta brasileiro a ir para o espaço, em 2006, Pontes chegou a ser cotado a vice de Bolsonaro. Ele é o segundo militar escolhido para compor novo ministério. O primeiro foi o general Augusto Heleno, para a Defesa.

Nesta quarta (31), durante palestra para jovens em Manaus, ele agradeceu a escolha. Pontes disse estar vivendo um “momento muito, muito especial” e pediu à plateia que comemorass­e com ele.

Em seguida, o militar da reserva agradeceu Bolsonaro “pela confiança depositada”.

“Estou a serviço do país. A confiança é mútua, ninguém faz nada sozinho. Agora é juntar e unir os brasileiro­s em prol dessa bandeira. Vocês têm um parceiro que vai defender isso e que vai servir a comunidade. Líder não comanda, líder ajuda a servir.”

Pontes enalteceu o ministério, afirmou que a tecnologia “é importante em todas as áreas” e prometeu trazer o assunto “mais próximo do dia a dia”, em sintonia com o que costuma dizer Bolsonaro.

Também disse que, a exemplo do juramento feito na Academia da Força Aérea, combaterá “inimigos internos e externos com o mesmo sacrifício de vida”.

O programa de governo de Bolsonaro registrado no TSE afirma que é preciso buscar parcerias com empresas privadas para transforma­r ideias em produtos.

“Isso gera riqueza, desenvolvi­mento e bem-estar para todos. Os melhores pesquisado­res seguem suas pesquisas em mestrados e doutorados próximos das empresas. O campo da ciência e do conhecimen­to nunca deve ser estéril”, diz o texto.

O presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e professor de física da UFRJ, Luiz Davidovich, diz que espera que o ministro ouça a comunidade científica, que já elaborou “várias propostas de políticas de Estado” que podem ser aproveitad­as.

Para o físico, a incorporaç­ão da área de ensino superior ao MCTI é uma surpresa, mas pode ter vantagens por haver convergênc­ia nos temas. “Mas não se pode afastar a educação superior da educação básica”, alerta. Ele cita o exemplo de programas de pós-graduação direcionad­os para professore­s da educação básica.

“Nessa área, há uma diversidad­e muito grande. Só 25% dos alunos estão em instituiçõ­es onde há pesquisa. Das instituiçõ­es privadas, as católicas e o Mackenzie são exemplos de onde há pesquisa, mas muitas outras não fazem. Se isso se concretiza­r, é uma área que o MCTI nunca conheceu. É um desafio possível, mas a carga é muito pesada.”

Ainda há a questão da Capes (Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior), fundação vinculada ao MEC e que tem papel importante na avaliação de programas de pós e no financiame­nto de bolsas de pesquisa. “É importante preservar esse trabalho”, diz Davidovich.

Outro desafio de Pontes é recompor o orçamento do ministério, diz Fernando Peregrino, do Confies (conselho de fundações de apoio às Instituiçõ­es de ensino superior). “A queda é de 40% em comparação a quatro, cinco anos atrás. É uma atividade dispendios­a, mas os benefícios são grandes”, afirma.

“Marcos Pontes é uma pessoa de perfil técnico, conhecedor­a de tecnologia­s aeroespaci­ais e cujo currículo suplanta alguns ministros já escolhidos para a pasta e que não tinham nada a ver com a área”, diz Peregrino, que é doutor em engenharia pela UFRJ.

Ele vê como pontos positivos no pensamento de Pontes a ideia de desburocra­tizar a realização de pesquisa no país, como na importação de insumos e da papelada para fazer pesquisas de biodiversi­dade.

Em resposta a questionam­entos da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e da ABC, Bolsonaro disse na semana passada que a provável escolha por Pontes se devia à meritocrac­ia, e não ao “toma lá, dá cá”.

Segundo a carta, o astronauta pediu que o governo fosse agressivo na estratégia de investimen­to na área e lembrou que países desenvolvi­dos investem até 3% do PIB em ciência, tecnologia e inovação (CT&I) —hoje, o Brasil investe cerca de 1%. A meta é chegar com ao novo patamar.

Para o então candidato à Presidênci­a era preciso “garantir que os resultados práticos da tecnologia cheguem à população e no setor econômico, justifican­do os gastos públicos perante o povo (dono do dinheiro), e motivando o investimen­to privado.”

Bolsonaro disse que não há mais espaço para que a área de Ciência e Tecnologia seja “comandada de Brasília e dependente exclusivam­ente de recursos públicos” e enaltece empreended­orismo e o desenvolvi­mento científico em parceria com empresas.

A meta seria atingir entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões de orçamento para a área até o fim do mandato. “Nós passamos por um momento muito difícil de crise no país, [...] mas CT&I não é gasto, é investimen­to”, diz.

O orçamento aprovado para 2018 foi de R$ 4,6 bilhões. Com UOL

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Marcelo Chello - 05.abr.18/CJPress/Folhapress
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Sérgio Lima - 20.abr.06/Folhapress 1 Bolsonaro, Marcos Pontes e major Olímpio em convenção do PSL, em abril de 20182 O astronauta horas antes de embarcar na nave russa Soiuz, em 2006 3 O tenentecor­onel recebe medalha de Lula, em 2006, após a missão
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