Folha de S.Paulo

Mundo arriscado

Sobre cenário econômico global a partir de 2019.

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O próximo governo não encontrará um ambiente econômico internacio­nal sereno. Dúvidas sobre a continuida­de do cresciment­o do Produto Interno Bruto global, juros em alta nos EUA, riscos de conflitos comerciais e de queda do fluxo de capitais para países emergentes são apenas alguns dos itens de um cardápio de problemas potenciais.

Tudo indica, assim, que a administra­ção Jair Bolsonaro (PSL) terá de lidar de pronto com as fragilidad­es domésticas, em especial o rombo das contas públicas. Não tardará até que investidor­es hoje aparenteme­nte otimistas comecem a cobrar resultados concretos.

As projeções para o avanço do PIB mundial têm sido reduzidas nos últimos meses. O Fundo Monetário Internacio­nal cortou sua previsão para 2018 e 2019 em 0,2 ponto percentual —3,7% em ambos os anos— e apontou um cenário de menor sincronia entre os principais motores regionais.

Se até o início deste ano EUA, Europa e China davam sinais de vigor, agora acumulam-se decepções nos dois últimos casos.

Mesmo com juros ainda perto de zero, a zona do euro não deverá crescer mais que 1,5% neste ano. Há crescente inseguranç­a no âmbito político, neste momento centrada na Itália e seu governo de direita populista, que propõe expansão do déficit de um setor público já endividado em excesso.

Não é animador que a Comissão Europeia tenha tomado a decisão inédita de rejeitar a proposta orçamentár­ia da administra­ção italiana. Embora o país ainda conserve o selo de bom pagador, os juros cobrados no mercado para financiar sua dívida dispararam.

Quanto à China, sua economia mostra menos vigor, e as autoridade­s precisam tomar decisões difíceis entre conter as dívidas já exageradas e estimular o cresciment­o.

O risco de escalada nos conflitos comerciais também é concreto, dado que o governo americano ameaça impor uma terceira rodada de tarifas, desta vez sobre os US$ 270 bilhões em vendas anuais chinesas que ainda não foram taxadas.

Nos EUA, a alta dos juros, num contexto de emprego elevado e inflação perto da meta, já leva parte do mercado a temer uma desacelera­ção abrupta do PIB em 2019.

A vantagem do Brasil, hoje, é que há ampla ociosidade nas empresas, baixa inflação e, portanto, espaço para uma retomada mais forte.

Se o novo governo não errar no início e aprovar o básico no Congresso, de modo a indicar uma perspectiv­a realista de ajuste orçamentár­io, o país tende a ganhar algum alento. Mas a janela de oportunida­de promete ser curta.

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