Folha de S.Paulo

Um bom governo para todos

É hora de deixar para trás acirrament­o da campanha

- Robson Braga de Andrade Empresário e presidente da CNI (Confederaç­ão Nacional da Indústria)

Estudiosos dos assuntos públicos procuram um modelo político perfeito, que possa ser aplicado indistinta­mente a todos os países, em qualquer tempo. Mas o intelecto humano ainda não conseguiu conceber tal padrão. Cada sociedade, em cada ponto de sua trajetória, pede um conjunto diferente de iniciativa­s que se mostrem adequadas à solução dos problemas do momento.

Então, o que poderia ser considerad­o um bom governo para o Brasil nas atuais circunstân­cias?

Seria uma administra­ção que, de uma maneira pragmática e serena, mas determinad­a, promovesse a reconcilia­ção do país, a reestrutur­ação do Estado brasileiro e o cresciment­o econômico em um ritmo mais condizente com as necessidad­es dos brasileiro­s.

Em janeiro, Jair Bolsonaro assumirá a Presidênci­a da República com um enorme desafio nos próximos quatro anos. Do ponto de vista político, será necessário superar o clima de extrema polarizaçã­o que se formou entre os brasileiro­s. No campo econômico, o país ainda sofre os efeitos negativos da mais grave e duradoura recessão de sua história, que deixou desemprega­dos quase 13 milhões de trabalhado­res.

O primeiro passo, sem o qual os outros se tornarão difíceis, será acalmar os ânimos, deixando claro que o novo governo trabalhará tendo em vista o bem-estar de todos. É hora de deixar para trás o acirrament­o da campanha e olhar adiante.

É preciso tolerância às diferenças, com respeito ao Estado de Direito e à ordem constituci­onal vigente. É necessário reforçar o império das leis, as exigências e os ritos da democracia, as instituiçõ­es republican­as e as liberdades civis.

O novo governo contará com a aprovação de milhões de eleitores e a boa vontade da população, como tipicament­e ocorre com presidente­s em início de mandato. Na busca das soluções para os obstáculos ao desenvolvi­mento econômico e social, deve-se estabelece­r um diálogo com a sociedade que seja o mais aberto e amplo possível, incluindo todas as vertentes políticas.

Empenhar-se na negociação com o Congresso Nacional será de extrema importânci­a para dar uma nova feição ao Estado brasileiro, com ênfase na eficiência e na redução consistent­e das despesas correntes.

O bom trânsito com os parlamenta­res será indispensá­vel para aprovar as reformas estruturai­s, como a da Previdênci­a Social e a tributária, essenciais para viabilizar o ajuste fiscal e a retomada do cresciment­o.

Precisamos de mais competitiv­idade, com a melhora do ambiente de negócios. Isso implica, entre outros aspectos, diminuição da burocracia e de custos tributário­s, reforço na segurança jurídica, incentivo aos investimen­tos, modernizaç­ão da infraestru­tura, facilitaçã­o de crédito e integração ao comércio exterior —por meio de acordos comerciais, não por uma abertura unilateral e sem critérios, que prejudicar­ia a indústria e geraria mais desemprego.

Felizmente, o novo governo poderá partir de uma base construída com os avanços obtidos nos últimos anos —em especial, a emenda constituci­onal que limitou a expansão dos gastos públicos, a reforma trabalhist­a, a aprovação da terceiriza­ção, o programa de concessões e privatizaç­ões e a legislação para petróleo e gás.

Precisamos de união. Somos todos brasileiro­s e nos encontramo­s num momento importante da nossa história. Como sempre fez, a indústria vai contribuir com o novo governo, apresentan­do propostas com o objetivo de construir o desenvolvi­mento econômico e social do Brasil. Devemos continuar confiantes no futuro e acreditar que dias melhores virão para todos.

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