Folha de S.Paulo

Estaríamos nas ruas por ele, diz eleita no RN sobre Ciro

- João Pedro Pitombo Marcos Oliveira/Agência Senado

Aos 63 anos, Fátima Bezerra (PT), será a única mulher a governar um estado brasileiro na próxima legislatur­a e a terceira mulher a comandar o Rio Grande do Norte.

Ela falou à Folha sobre administra­r um estado que vive umagrav ecrise financeira eé o mais violento do Brasil, segundo dados do Fórum Brasileiro de de Segurança Pública.

A petista ainda exaltou Fernando Haddad e lamentou a falta de apoio de Ciro Gomes (PDT) no segundo turno da eleição presidenci­al.

A senhora foi eleita governador­a num estado conhecido pela força de clãs familiares. O que essa vitória representa?

Essa vitória rompe um ciclo de governador­es ligados à oligarquia­s que perdurou por décadas e, pela primeira vez uma, teremos governador­a de origem popular.

Como enfrentar os graves problemas fiscais e na segurança pública?

Nós vamos trabalhar para superar isso porque a população tem pressa. Vamos adotar um conjunto de medidas para reorganiza­r as contas públicas, com equilíbrio fiscal e financeiro.

Na segurança, temos um conjunto de medidas consistent­es para combater a violência com todo o rigor. Vamos garantir a paz e a tranquilid­ade da população, até porque somos um estado cuja economia tem o turismo como uma de suas vertentes. Para fortalecer o turismo, precisamos melhorar a segurança.

Como a senhora avalia o desempenho do PT na eleição deste ano?

No contexto de uma eleição tão polarizada e de toda a ofensiva que existiu contra o PT, acredito que o nosso partido sai das eleições com um resultado que não pode ser desprezado. E o exemplo disso é que PT conseguiu eleger a maior bancada na Câmara. Agora, vamos tocar a vida para a frente.

No segundo turno, a senhora construiu uma frente ampla, atraindo inclusive o apoio do PSDB. Por que o PT não conseguiu replicar essa frente nacionalme­nte?

Uma coisa é o contexto regional, outra é o nacional.Haviaumafo­rtegrau de polarizaçã­o nacionalme­nte. Haddad foi vítima de fake news e de uma onda de antipetism­o que acabou afetando a sua campanha. Acredito que conseguimo­s unir uma parte do campo popular democrátic­o. Infelizmen­te, não funcionou do jeito que nós gostaríamo­s, já que Ciro Gomes se ausentou desse processo.

Mas a senhora não acredita que esse cenário é resultado de arestas que foram criadas pelo próprio PT?

Tínhamos uma eleição em dois turnos. E o PT, com toda a capilarida­de que tem e dada a perseguiçã­o contra o ex-presidente Lula, que foi condenado de forma arbitrária para ser retirado da sucessão presidenci­al, tinha todo o direito de ter candidato.

Seria até insensato achar que o PT não tinha direito de ter uma candidatur­a própria. Haddad é um excelente quadro, mostrou coragem durante a campanha e deu a sua contribuiç­ão. Acho que Ciro cometeu um grande equívoco do ponto de vista histórico.

Se fosse ele que chegasse ao segundo turno, o PT não teria pestanejad­o em apoiá-lo. Estaríamos nas ruas de todo o país defendendo o nome dele.

Acha que Haddad é o nome que, dentro do PT, deve liderar a oposição ao governo do

presidente eleito Jair Bolsonaro?

Ele demonstrou sabedoria e sensibilid­ade do ponto de vista político. Foi um nome que represento­u à altura os sonhos e esperanças não só do PT, mas de parcelas expressiva­s da população brasileira.

A despeito de tudo, chegou a quase 45% dos votos. Penso que ele tem toda uma trajetória pela frente não só dentro do PT, mas neste arco do campo democrátic­o e popular.

Qual sua expectativ­a em relação ao governo Bolsonaro? E

como deve ser rua relação, como governador­a, com o novo presidente?

Vamos ter um relacionam­ento institucio­nal. Antes de mais nada, temos que ser todos nós escravos da Constituiç­ão e da soberania popular. Espero que ele preserve as liberdades e os direitos à luz da nossa Constituiç­ão. E esperamos que o Brasil volte a trilhar o caminho do desenvolvi­mento econômico e social, assim como foi nos governos no presidente Lula.

A senhora será a única governador­a mulher na próxima

legislatur­a. Como vê o desafio para maior participaç­ão das mulheres na política?

O Rio Grande do Norte tem uma tradição de protagonis­mo na participaç­ão das mulheres na política. É claro que há um simbolismo muito grande em sermos a única governador­a mulher.

Por outro lado, isso evidencia o quanto o processo de participaç­ão das mulheres nos espaços de decisão e de poder precisa avançar. Fico muito triste em reconhecer o quanto o mundo da nossa política ainda é machista.

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A governador­a eleita no Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT)

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