Folha de S.Paulo

PT teve menos votos em 69% dos municípios

- Lucas Vettorazzo, João Pedro Pitombo e Daniel Mariani

A violenta Belford Roxo, município na Baixada Fluminense (RJ) com população estimada em 508 mil habitantes, foi a cidade brasileira onde o PT teve a maior queda percentual na votação para presidente entre as eleições de 2018 e 2014.

Segundo levantamen­to da Folha, no pleito passado, a então candidata Dilma Rousseff (PT), obteve 74,82% dos votos válidos. Já na disputa deste ano Fernando Haddad teve apenas 31,12% dos votos válidos —numa queda de 43,7 pontos percentuai­s.

Sem pisar na cidade durante a campanha eleitoral, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) foi a escolha de 68,88% do eleitorado local.

A situação não é diferente no restante do país. Ao todo, o PT teve menos votos que em 2014 em 3.829 cidades brasileira­s —68,7% do total— e teve mais votos do que na última eleição em 1.737 municípios.

Em quatro cidades, a votação do partido foi rigorosame­nte igual à de 2014.

Em Belford Roxo, o discurso de combate à violência e o desejo pela mudança na política foram os motivos que levaram à população a optar pelo capitão da reserva em detrimento do candidato do PT, mesmo com um legado de investimen­tos sociais.

A cidade tinha, em outubro deste ano, 48 mil famílias beneficiár­ias do Bolsa Família, cerca de 24% da população local. Na última década, cinco condomínio­s do Minha Casa, Minha Vida foram erguidos na cidade.

Em contrapart­ida, a taxa de homicídios em setembro esteve em 33 casos por 100 mil habitantes, acima da média do estado do Rio como um todo, de 23 homicídios na mesma base comparativ­a.

O resultado eleitoral em Belford Roxo foi similar em diversos outros locais da Baixada Fluminense, como Queimados, Japeri, Duque de Caxias e Nova Iguaçu. Das 15 cidades que tiveram a maior queda de votação no PT entre 2014 e 2018, 14 ficam no estado do Rio.

Além do Rio de Janeiro, cidades de Minas Gerais, Santa Catarina e Rondônia estão entre as que o PT mais perdeu votos entre 2014 e 2018.

Na avaliação do sociólogo Jorge Alexandre Neves, professor da UFMG (Universida­de Federal de Minas Gerais), a recessão fez com que a população de cidades com maior nível socioeconô­mico se desencanta­sse com o PT e migrasse para Jair Bolsonaro.

“A parte mais rica de Minas abandonou o PT. São pessoas ascenderam socialment­e, mas hoje enfrentam problemas como desemprego e queda na qualidade de vida”, diz.

Entre as capitais, Manaus foi a qual o PT perdeu mais votos nos últimos quatro anos. Em 2014, Dilma teve 56,43% dos votos enquanto Haddad teve apenas 34,28% este ano.

“O PT nunca foi forte no Amazonas, quem era forte era o Lula. Mas há algum tempo que essa liderança vem caindo, se perdendo”, afirma o prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto (PSDB).

As 1.737 cidades onde o PT ampliou a votação para a Presidênci­a da eleição deste ano concentram-se no Nordeste e do Norte. Em Jacareacan­ga, cidade de cerca de 40 mil habitantes do sudoeste do Pará, teve o seu maior cresciment­o.

Para o deputado federal eleito Airton Faleiro (PT), que tem base eleitoral na cidade, a resposta para tamanho cresciment­o pode estar associada ao perfil demográfic­o da cidade, que tem cerca de metade da população de origem indígena.

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