Folha de S.Paulo

Alexandre Kalil Os populistas se foram, agora o povo brasileiro quer ordem e gente séria

Eleito em 2016 com o slogan ‘chega de político’, Kalil afirma que sua eleição antecipou o que aconteceu em Minas e no Brasil neste ano

- Carolina Linhares

“Acabou coxinha, acabou mortadela. Agora é quibe”, disse Alexandre Kalil (PHS), ex-presidente do Atlético-MG, ao ser eleito prefeito de Belo Horizonte em 2016. Nestas eleições, outro novato na política consolidou a derrocada de PT e PSDB em Minas —o empresário Romeu Zema (Novo) foi eleito governador em sua primeira disputa, derrotando o governador Fernando Pimentel (PT) e o senador Antonio Anastasia (PSDB).

“Os populistas se foram. Agora o povo brasileiro quer ordem e gente séria”, disse Kalil em entrevista à Folha .“O brasileiro sabe votar.”

A principal promessa de Zema, enxugar o estado, Kalil também fez. Ele cortou gastos revendo contratos e reduzindo 18,5% dos cargos.

“O futuro não aceita mais a teta ser tão grande”, diz sobre as despesas do poder público.

Aliado de Ciro Gomes (PDT) na disputa presidenci­al, diz que o candidato teve uma posição “absolutame­nte coerente” ao não apoiar expressame­nte Fernando Haddad.

Prefeitura e estado vão ter governos de novatos na política e que se elegeram com discurso contrário à política tradiciona­l. O que isso significa?

Que o povo cansou. E que vai avaliar daqui um pouco. Estou completand­o dois anos de governo e a resposta que eu espero dar é de que valeu a pena o voto. Para governador e presidente, vamos saber daqui um ano se votamos cersto ou errado. Isso não é rótulo de sucesso ou fracasso, são pessoas diferentes. Eu não sou igual Bolsonaro e Zema, não sou melhor e não sou pior. Você pode escolher um candidato novo igual Kalil e dar errado e escolher um candidato novo igual o Zema e dar certo.

Vai tentar reeleição?

Está cedo, deixa eu acabar a metade

primeiro.

O sr. disse que os partidos políticos são leprosos. Isso se comprovou nesta eleição?

Pergunte ao Márcio Lacerda [pré-candidato ao governo pelo PSB que foi derrubado pela própria sigla em acordo com PT].

Como assim?

O que o partido fez com Márcio Lacerda, que não é meu amigo, é coisa que não se faz nem com um cachorro. Ele é testemunha viva de que estar vinculado num partido poderoso é quase uma lepra.

PT e PSDB perderam no Brasil e em Minas. O que isso quer dizer?

Que o brasileiro sabe votar. Pelé estava errado. O brasileiro vota muito bem. Nada pessoal contra PT e PSDB, mas sabemos o que aconteceu com PSDB aqui em Minas e o que aconteceu com o PT no Brasil e em Minas.

O brasileiro foi lá e votou. Mostraram que quem fez o que fez com o Brasil durante um revezament­o de tantos anos não vai voltar ao poder. Não queremos mais vocês aqui, dá licença, vamos dar chance para outros. O recado é simples assim.

O maior desafio de alguém que chega ao poder sem apoio político é o relacionam­ento com outros Poderes?

Não. O maior desafio é saber, chegar ao seus ouvidos, como prefeito, onde está o problema e quais são os principais problemas. Consegui fazer da Câmara o grande ouvido do prefeito na cidade. Porque como aqui não tem nenhum funcionári­o de nenhum vereador, eu troquei o apoio [político] pelo atendiment­o à população das regiões deles. Quem está na ponta traz o problema pra mim e eu atendo. Com isso, atendo o vereador, que precisa do voto da região.

Sobre relacionam­ento de político novato com o Legislativ­o, temos que colocar a responsabi­lidade não só no governador. Temos que parar de achar que é comum a oposição por oposição, demagógica. Que eu sofri inclusive do partido dele [Zema]. É responsabi­lidade dos 77 deputados estaduais ajudarem o governador a tirar o estado da crise.

A ideia é construir uma base com base na responsabi­lidade?

O que o novo governador está escutando, eu escutei. ‘Você não vai conseguir.’ Eu aprovei tudo que eu quis. Tenho uma base folgada. E não dei cargos políticos. É por que sou bonito? É porque eu soube entregar um produto para eles que são as obras, que eles e o povo necessitam.

O sr. falou que sofreu oposição por oposição do Partido Novo, do vereador Mateus Simões, em qual ocasião?

Ele fez um estardalha­ço de uma viagem para Brasília. Atinge a pessoa física, não é uma coisa administra­tiva. Ele não tem a menor influência, porque é muito pequeno, na minha relação com o governador [eleito]. Ele é um vereador entre 41. Eu sou o prefeito da terceira maior capital. Eu não não me julgo nem maior e nem menor do que sou, mas sei meu tamanho. Isso não vai influencia­r, estive com Zema duas vezes sozinho aqui. Mas não pode fazer oposição por oposição, temos que ter responsabi­lidade

com a cidade.

Mas ele não tinha razão de contestar um gasto de R$ 63 mil de jatinho para ir a Brasília?

Até acho. Foi um erro. Estou dizendo que ele não tem que mandar email para jornalista sem explicar os dois lados. Eu não quero entrar nisso, é muito pequeno para entrevista. Se eu for mexer com vereadorzi­nho lá que nunca aprovou projeto... Não vou te dar entrevista de vereador projeto zero.

Zema esteve aqui na prefeitura duas vezes, o Sr. o conhecia?

Não, conheci na campanha. Tive com ele a primeira vez, ele tinha 3% [de intenção de votos]. E depois do segundo turno. Me pareceu uma pessoa simples e bem intenciona­da. Estou muito esperanços­o que todos, inclusive Assembleia, Ministério Público, Judiciário, todos nós, que a gente se dê a mão para fazer um governo melhor.

Tem alguma dica pra ele?

Quem sou eu. Estou aprendendo. Se eu pudesse dar dica, diria: aprenda, aprenda e aprenda. Escute todo mundo, que a possibilid­ade de errar é um pouco menor.

O sr. disse que estava foda cumprir promessas. Vai ser foda para ele cumprir promessas? Já que o estado não tem verba?

Se pra mim era foda, pra ele vai ser foda e meio.

O que esperar de Bolsonaro no governo federal?

A responsabi­lidade de um estadista de 58 milhões de votos. Ele tem a caneta poderosa de 58 milhões de votos na mão, ele tem que respeitar essa caneta e ser respeitado pela população.

Ciro errou ao não apoiar Haddad?

Não. Acho que temos que nos acostumar a apoiar e ser apoiados. Quando tem um pessoal que só quer apoio a vida inteira, anos e anos, deu no que deu.

Está falando do PT. Sim, tem hora de apoiar e ser apoiado. Não pode querer a vida inteira o apoio dos outros. Na hora que você precisa ser apoiado, você não só não é apoiado, como é sabotado. E depois vem cobrar minha conta? Acho que ele teve uma posição absolutame­nte coerente. Ele disputou a eleição, trabalhou, fez o papel dele democratic­amente, mas não é obrigado a... Ele não é escravo de ninguém. Ele não é poste de ninguém, não.

 ?? Ramon Bitencourt/O Tempo/Ag. O Globo ?? Ex-presidente do Clube Atlético Mineiro, Alexandre Kalil cursou engenharia civil, mas não chegou a se formar, e dirigiu a Erkal Engenharia, empresa fundada por seu pai. Em 2016, se elegeu prefeito de Belo Horizonte pelo PHS. Disputou o segundo turno contra o deputado estadual João Leite (PSDB)
Ramon Bitencourt/O Tempo/Ag. O Globo Ex-presidente do Clube Atlético Mineiro, Alexandre Kalil cursou engenharia civil, mas não chegou a se formar, e dirigiu a Erkal Engenharia, empresa fundada por seu pai. Em 2016, se elegeu prefeito de Belo Horizonte pelo PHS. Disputou o segundo turno contra o deputado estadual João Leite (PSDB)

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