Folha de S.Paulo

Morre Teodoro Petkoff, crítico do chavismo

Jornalista, economista e ex-guerrilhei­ro venezuelan­o tinha 86 anos e disputou a Presidênci­a do país em 1983 e 1988

- Fabiano Maisonnave

Um dos principais nomes da política venezuelan­a, o dirigente político e jornalista Teodoro Petkoff morreu em Caracas nesta quartafeir­a (31), aos 86 anos.

Petkoff é o fundador e diretor do jornal TalCual, crítico feroz dos governos de Hugo Chávez e de Nicolás Maduro, mas que guarda distância das correntes mais radicais da oposição venezuelan­a.

O jornalismo foi apenas a última fase da trajetória irrequieta de Petkoff.

Economista de formação e autor de vários livros, foi guerrilhei­ro e militou no Partido Comunista da Venezuela (PCV) antes de fundar o Movimento ao Socialismo (MAS), em 1971, crítico ao modelo soviético.

No MAS, foi deputado durante vários mandatos e duas vezes candidato derrotado a presidente, em 1983 e 1988.

Também foi ministro de Planejamen­to do governo Rafael Caldera (1996-1999). Nesse cargo, cunhou uma de suas frase mais célebres, em meio a um duro ajuste econômico: “Estamos mal, mas vamos bem”.

O rompimento com o MAS, em 1998, se deu pelo mesmo motivo que o levou a fundálo: seu profundo rechaço ao autoritari­smo.

Naquele ano, o partido decidiu apoiar a candidatur­a a presidente do tenente-coronel Hugo Chávez, projetado ao cenário político após lide- rar um fracassado golpe de Estado, em fevereiro de 1992.

No início da era Chávez, em 1999, Petkoff passou a atuar no jornalismo, assumindo a direção do jornal El Mundo, mas a pressão do governo provocou a sua demissão.

Decidiu, então, criar seu próprio jornal. Em 3 de abril de 2000, Petkoff lançava TalCual. Em formato tabloide, tinha a peculiarid­ade de trazer na capa um editorial escrito por ele.

O primeiro editorial do jornal, que levava o título de “Hola, Hugo” (Oi, Hugo), começava assim: “Aqui estamos, outra vez. Pensaram que iam nos calar. Bem, não puderam. Em três meses, criamos TalCual. É fruto da vontade indomável de não se render diante da força bruta.”

Apesar das críticas duras, Petkoff nunca embarcou nas teses do antichavis­mo radical, como o boicote aos processos eleitorais. Em 2002, por exemplo, foi o único meio de comunicaçã­o opositor a não apoiar o golpe de Estado que tirou Chávez do poder por dois dias.

Solícito, era muito procurado por jornalista­s estrangeir­os em busca de uma voz mais moderada, entre os quais este repórter. Costumava nos receber em seu pequeno e desorganiz­ado escritório.

Dono de voz potente, falava alto e gesticulav­a bastante com as mãos, mas a impaciênci­a era com a situação da Venezuela, e não com interlocut­or, que costumava ganhar um livro de presente ao final da entrevista.

Mesmo distanciad­o da oposição radical, TalCual sofreu com a escalada autoritári­a da ditadura chavista.

O jornal, Petkoff e colaborado­res respondera­m a diversos processos judiciais. A perseguiçã­o e a crise econômica obrigaram o jornal a deixar de circular em sua versão impressa, em 2015.

Nos últimos anos, a saúde debilitada o afastou da redação. Morreu em sua casa, de causas não reveladas.

Deixa a mulher, Neujim Pastori, sete filhos e gerações de “talcualero­s”, como são chamados os jornalista­s formados sob os seus princípios de defesa incondicio­nal da democracia.

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Joaquin Ferrer - 5.jun.06/The New York Times Teodoro Petkoff em seu escritório em Caracas, em 2006

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