Folha de S.Paulo

Articular votação é com Bolsonaro, afirma relator da reforma

- Laís Alegretti UOL Antonio Temóteo

O relator da proposta de reforma da Previdênci­a enviada pelo atual governo, deputado Arthur Maia (DEMBA), afirmou nesta quarta-feira (31) que eventual articulaçã­o para votar o texto neste ano cabe à equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

“Quem tem de se preocupar com articulaçã­o da reforma da Previdênci­a é o governo eleito. Na hora em que eles quiserem, estaremos prontos. Esse assunto só vai caminhar se o presidente eleito puxar o cordão”, afirmou.

O deputado disse que ainda não foi procurado por integrante­s da equipe de Bolsonaro. Maia, que era do PPS, foi reeleito pelo DEM —partido para o qual migrou em abril.

Ele evitou fazer uma avaliação sobre as chances de a proposta atual ser aprovada ainda neste ano, mas disse concordar com a opinião de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, que afirmou que uma derrota na votação seria ruim para Bolsonaro.

“Precipitad­o é votar qualquer coisa sem voto. Com voto, nada é precipitad­o. Votar qualquer matéria, Previdênci­a ou não, para o futuro governo sofrer uma derrota, eu acho que é ruim. Então vamos ter de ter paciência”, disse Rodrigo Maia.

Os planos de Bolsonaro para a Previdênci­a ainda não estão claros —tanto em relação ao conteúdo quanto ao calendário.

Na segunda-feira (29), o presidente eleito disse que vai conversar com Michel Temer (MDB) para tentar aprovar “ao menos parte” da reforma da Previdênci­a ainda em 2018, an- tes de assumir o cargo.

Paulo Guedes, futuro ministro de Bolsonaro na área econômica, defendeu na terça-feira (30) a aprovação da reforma de Temer, além de uma segunda rodada de mudanças, com vistas a adotar o regime de capitaliza­ção. Ele evitou, contudo, dar um prazo.

Guedes desautoriz­ou o deputado Onyx Lorenzoni, já anunciado chefe da Casa Civil de Bolsonaro, em suas declaraçõe­s sobre a reforma da Previdênci­a.

“Houve gente falando que não tem pressa de fazer a reforma da Previdênci­a. O mercado reagiu mal”, disse.

“É um político falando de economia, é a mesma coisa de eu sair falando de política, não vai dar certo.”

Lorenzoni havia dito que a proposta de Temer é “uma porcaria” e que a intenção era discutir o assunto só em 2019, após a posse.

O programa de governo de Bolsonaro defende mudança no atual modelo de Previdênci­a, chamado de repartição — que prevê que os trabalhado­res ativos financiem aposentado­rias e pensão.

Também propõe a introdução do modelo de contas individuai­s de capitaliza­ção —em que cada trabalhado­r financia sua própria aposentado­ria.

Pontos polêmicos, como obrigatori­edade de idade mínima para todas as modalidade­s de aposentado­ria, ficaram de fora, contudo, da proposta do presidente eleito.

De acordo com o texto, novos participan­tes poderiam optar por um dos dois sistemas. Embora a proposta reconheça que a transição de regimes gere “um problema de insuficiên­cia de recursos”, não detalha como isso será superado: sugere um fundo para reforçar o financiame­nto, mas não diz de onde virão os recursos.

Equipe de eleito quer mudança no mínimo só depois da posse

A Fazenda sugerirá à equipe econômica de Bolsonaro que reavalie as regras para o reajuste do mínimo e para a concessão de benefícios sociais.

Os temas estão em estudo entre os técnicos que formulam as propostas do presidente eleito, mas nenhuma decisão será tomada ou anunciada antes da posse. A futura equipe também estuda mudanças no BPC (benefício para deficiente­s e idosos pobres).

Segundo um interlocut­or do capitão reformado, a prioridade é a Previdênci­a, e o reajuste do salário mínimo é um tema delicado e que precisa ser tratado com cautela.

Ainda de acordo com ele, Bolsonaro não quer correr o risco de que uma mudança no salário mínimo possa ser interpreta­da como retirada de direitos, o que poderia dificultar as discussões sobre a reforma da Previdênci­a.

O salário mínimo é reajustado pelo resultado do PIB de dois anos antes mais a inflação do ano anterior, medida pelo INPC. A medida vale até 2019.

Tanto a Fazenda quanto auxiliares de Bolsonaro têm a avaliação de que a fórmula atual pressiona a inflação e contribui para o baixo nível de produtivid­ade da economia.

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