Superlativo, ‘O Quebra-Nozes’ é fantasia elegante e colorida
Disney antecipa clima de Natal com produção exuberante, mas de trama batida
O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos
**** * (The Nutcracker and the Four Realms). EUA, 2018. Direção: Lasse Hallström e Joe Johnston. Elenco: Mackenzie Foy, Keira Knightley, Morgan Freeman. Livre. Estreia nesta quinta (1º) Novembro mal começou, e a nova produção da Disney já se encarrega de espalhar o cheiro do Natal no ar com o vistoso “O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos”. É mais uma investida em live action do estúdio americano voltada ao público infantojuvenil.
Em 2017, foi a vez de o clássico “A Bela e a Fera” ser interpretado por atores. Há menos de três meses, a turma do ursinho Pooh chegou aos cinemas rodeada por amigos de carne e osso em “Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível”.
Até o próximo ano, estão programadas as estreias de “O Retorno de Mary Poppins”, “Dumbo” e “Aladdin”.
Inspirado no famoso conto natalino “O Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos”, de E. T. A. Hoffmann, escrito em 1816, e na adaptação de Tchaikovsky para o balé, de 1892, o longa-metragem se vale de fragmentos da obra original e da liberdade criativa para apresentar um outro lado da fábula sobre uma menina e seu soldadinho de madeira.
Clara (Mackenzie Foy) é uma jovem inteligente e corajosa que sofre pela recente morte da mãe. Às vésperas do Natal, ela ganha um presente singular que precisa de uma chave especial para ser aberto —clima meio parecido ao de “A Invenção de Hugo Cabret” (2011).
Com a ajuda de seu padrinho Drosselmeyer (Morgan Freeman), a garota parte em busca do objeto e se depara com um mundo fantástico e misterioso, habitado por criaturas curiosas como a fada Plum (Keira Knightley), o rei Rato e o capitão Phillip (Jayden Fowora-Knight), o tal soldado quebra-nozes.
Esse belíssimo universo paralelo passa a ser ameaçado por Mother Ginger (Helen Mirren), a temida rainha do quarto reino. Clara, então, recebe o chamado para salvar a todos e embarca numa típica jornada do herói. Recusa, aceitação, autoconhecimento, aliados e inimigos, provações, aprendizado, recompensas... Uma fórmula bastante gasta em termos narrativos.
Mas o filme dos diretores Lasse Hallström, de “Quatro Vidas de um Cachorro” (2017), e Joe Johnston, de “Capitão América - O Primeiro Vingador (2011)”, é grandioso por outras razões.
A fotografia exuberante, os efeitos especiais e os figurinos luxuosos, impecáveis, garantem os olhares grudados na tela. A caprichada trilha sonora, embalada pelas notas potentes de Tchaikovsky, conforta os ouvidos. O elenco afinado confere charme à trama pouco sofisticada (destaque para uma atuação tresloucada e divertida de Knightley).
A surpresa maior, porém, acontece quando o cinema vira palco de um lindo (e breve) espetáculo de balé, protagonizado por Misty Copeland —principal bailarina do Ame- rican Ballet Theatre a primeira dançarina negra a ocupar o posto. Difícil não se emocionar diante da sequência suave de pliés, relevés e piruetas.
Na base dos superlativos, “O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos” traz uma fantasia elegante e colorida, cheia de ação, aventura, magia e também permeada por elementos sombrios. Uma produção com a cara —e o orçamento— da Disney; ou seja, sem miséria na hora de tentar impressionar os espectadores.
Thales de Menezes
É bem fácil de resumir. Mr. Bean finge ser James Bond. Pela terceira vez. A ideia é simples e continua funcionando. “Johnny English 3.0” prova que uma comédia familiar bem construída ainda tem espaço nos cinemas.
O agente secreto britânico Johnny English já pode ser considerado o terceiro personagem marcante na carreira de Rowan Atkinson, 63. Nos anos 1980, ele personificou em várias temporadas na TV o príncipe Edmund, responsável pelo sucesso da série “Black Adder”, ambientada na Idade Média.
Na década seguinte, sua popularidade pulou do Reino Unido para o mundo inteiro com “Mr. Bean”, no qual seu personagem fazia humor pastelão sem abrir a boca.
A repercussão de “Mr. Bean”, interpretado por ele em séries, filmes e peças de teatro, foi tamanha que Atkinson parecia amarrado ao personagem para sempre. Por isso, o primeiro “Johnny English”, em 2003. foi recebido pela maioria do público como Mr. Bean brincando de 007.
Na verdade, embora English tenha a cara de Bean, seu parentesco maior talvez seja com o Inspetor Clouseau, que Peter Sellers imortalizou na série de filmes “A Pantera Cor de Rosa”, entre 1963 e 1978. Os dois personagem compartilham extrair seu humor da combinação de extrema estupidez e muita sorte.
Para essa terceira investida, o roteiro vem mais caprichado e o ritmo de situações engraçadas é fluido, quase ininterrupto. Na trama, um ataque hacker revela a identidade de todos os agentes do serviço secreto britânico no mundo. Isso deixa o país à mercê de novos ataques, o que obriga a convocação de um agente aposentado. English interrompe suas divertidas aulas de espionagem para pré-adolescentes e atende ao chamado.
Ele avança suas investigações entre episódios bizarros, como se fingir de garçom e provocar um incêndio no restaurante ou protagonizar uma cena cômica antológica ao experimentar óculos de realidade virtual.
Sem o mínimo esforço, Emma Thompson deixa e rola como a primeira-ministra. Outro (belo) rosto feminino conhecido é de Olga Kurylenko, que foi “Bond girl” para Daniel Craig e agora aparece rebaixada a “English girl” para Atkinson.
O repertório de situações vai de piadas óbvias a algumas bem divertidas e inesperadas. Mas, acima de tudo, o filme depende do imenso carisma do ator.
“Johnny English 3.0” é mais do mesmo. Para entreter satisfatoriamente quem é fã de Mr. Bean.