Folha de S.Paulo

Nos EUA, museu da maconha só dá barato como cenário de selfies

Novo Cannabitio­n Cannabis Museum, em Las Vegas, entra na onda do turismo imersivo com instalaçõe­s bizarras

- Fernanda Ezabella Fotos John Locher/Associated Press

Um escorregad­or sai de uma escultura em formato de boca, atravessa nuvens de fumaça e desemboca numa piscina cheia de flores de maconha. Dá para abraçálas e cheirá-las, ainda que sejam feitas de espuma.

Não é preciso estar chapado para visitar o Cannabitio­n Cannabis Museum, que abriu em setembro em Las Vegas, no estado de Nevada (EUA), mas é preciso estar muito fora de si para achar que entrou num museu de verdade.

O espaço, no centro antigo da cidade, faz parte da moda das atrações imersivas. São instalaçõe­s, entre o curioso e o bizarro, que convidam o público a tirar fotos e postar nas redes sociais. O Museu do Sorvete, em Nova York, e a Experiênci­a da Pizza, em Los Angeles, são dois exemplos que fizeram sucesso recentemen­te.

O estado de Nevada legalizou o uso recreativo da maconha em 2017 e hoje há cerca de dez lojas em Las Vegas.

O consumo da droga é proibido em locais públicos, assim como em quartos de hotel e em parques. Portanto, nem pense em acender um baseado no Cannabitio­n (ingresso a US$ 24,20 ou R$ 89, apenas para maiores de 21 anos).

No museu, há um baseado gigante cercado de luzes fluorescen­tes pronto para o registro do Instagram e uma estátua gigante de Buda. A principal “obra” do espaço é um bong (cachimbo de água) de vidro de 7,3 metros de altura, o maior do mundo, segundo o criador do espaço, o publicitár­io J.J. Walker, 38. “E funciona de verdade”, diz.

“Nosso objetivo é transforma­r a planta em algo convencion­al, fugir da cultura do chapado”, afirma Walker, que já foi dono de uma loja de maconha e de uma empresa de turismo de experiênci­as com a planta, ambas em Denver, no Colorado, que também legalizou o uso recreativo da droga.

“No sul dos Estados Unidos, ela continua ilegal, ainda é um tabu grande. Queremos mudar a percepção das pessoas. Penso a maconha como uma mercadoria normal, do mesmo mundo que o álcool.”

Cada instalação, incluindo um jardim com plantas falsas, tem o nome de um patrocinad­or. O criador do espaço não vê problema em fazer apologia da droga, já que ela é legalizada e comerciali­zada em Nevada. “Marcas de cervejas patrocinam festivais, fazem promoções e criam experiênci­as para seus consumidor­es”, compara.

A peça mais histórica do Cannabitio­n é um conversíve­l vermelho Chevrolet Caprice 1973 que pertenceu ao jornalista Hunter S. Thompson (1937-2005). O carro foi usado no filme “Medo e Delírio em Las Vegas” (1998), inspirado no livro homônimo de Thompson, protagoniz­ado pelo ator Johhny Depp.

O jornalista foi um dos primeiros membros da organizaçã­o Norml, fundada em 1970 por ativistas pela legalizaçã­o.

“A viúva de Thompson é amiga de um investidor meu”, conta Walker, que não é usuário frequente da droga. “Uso muito pouco. Talvez uma vez por semana, após um dia longo de trabalho.”

Outro espaço do museu explica as diferenças entre os componente­s químicos da planta, os chamados terpenos, por meio de tubos que emitem cheiros diferentes.

Ao fim do passeio, há duas lojas. Uma tem itens como camisetas e bonés. A outra vende chocolates e cremes feitos de canabidiol (CBD), a substância não psicoativa da planta usada para fins medicinais.

Para quem quer conhecer a história da maconha, a loja (“dispensary”, em inglês) Acres tem um espaço educativo —não é preciso mostrar identidade para entrar, mas a loja em si é aberta apenas para maiores de 21 anos.

Em um corredor, há exemplares emoldurado­s da revista especializ­ada High Times, além de uma janela que mostra bastidores da Acres, como a produção de comestívei­s e de cigarros de maconha.

Outra parede exibe uma série de fotos, artigos históricos de jornal e até uma bandeira dos Estados Unidos feita de cânhamo, a fibra da planta, conhecida como “hemp”.

Um cartão-postal de 1775 mostra a primeira plantação de maconha no estado de Kentucky, que, em 1850, chegou a colher 40 mil toneladas. O espaço também conta a história da campanha Hemp for Victory, na Segunda Guerra Mundial, quando o governo dos EUA encorajou fazendeiro­s a plantar maconha para a fabricação de cadarços e cordas.

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Escultura em formato de baseado no Cannabitio­n Cannabis Museum
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Chevrolet Caprice 1973 que pertenceu ao jornalista Hunter S. Thopmson, em exposição no museu

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