Folha de S.Paulo

Bolsonaro sinaliza redução dos ministério­s pela metade

Presidente eleito segue o programado e promove fusão de pastas, mas recebe críticas de setores afetados

- Talita Fernandes, Julio Wiziack, Daniel Carvalho e Laís Alegretti Pedro Ladeira Folhapress

O desenho da Esplanada dos Ministério­s do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), ganhou novos contornos ontem, indicando redução à metade das atuais 29 pastas. Para viabilizar o enxugament­o da máquina, promessa de campanha, o capitão reformado optou por fusões.

Além do superminis­tério da Economia —que reunirá Fazenda, Planejamen­to e Indústria e Comércio, sob o comando do economista Paulo Guedes—, haverá as superpasta­s da Justiça e da Integração Nacional. A área social também seria unificada em um ministério único.

Esporte e Cultura devem migrar para a pasta da Educação, e o Ministério dos Transporte­s seria renomeado para Infraestru­tura, podendo abrigar Comunicaçõ­es. A possibilid­ade de extinção da pasta das Cidades gerou dúvidas, especulaçõ­es e críticas na construção civil.

A indústria está cética em relação às mudanças, e a fusão de Agricultur­a com Meio Ambiente será revista, pois os dois lados reclamam.

O desenho da Esplanada dos Ministério­s do presidente eleito Jair Bolsonaro ganhou contornos finais nesta quarta-feira (31), indicando uma redução à metade das atuais 29 pastas.

Para efetivar o enxugament­o da máquina, os aliados do capitão reformado optaram por realizar fusões de pastas.

Além do superminis­tério da Economia, sob o comando do economista Paulo Guedes, que reunirá as atribuiçõe­s hoje delegadas à Fazenda, Planejamen­to e Ministério da Indústria e Comércio Exterior, haverá, por exemplo, as superpasta­s da Justiça e Integração Nacional.

A pasta da Justiça, oferecida ao juiz Sergio Moro, seria resultado da fusão daquela com as estruturas de Segurança Pública e Transparên­cia e Controlado­ria-Geral da União. A área social, hoje abarcada em Desenvolvi­mento Social, seria unificada em um único ministério, que cuidaria também de Direitos Humanos, hoje uma pasta independen­te.

Educação deve ser fundida com Esportes e Cultura e a coordenaçã­o de ensino superior deve ser desmembrad­a da pasta para Ciência e Tecnologia, cujo ministro foi anunciado nesta quarta-feira (31) por Bolsonaro, o astronauta Marcos Pontes.

O Ministério de Integração Nacional deve ser fundido com outras duas pastas: Cidades e Turismo.

Diante da reação do setor agrícola e ambiental, a equipe de Bolsonaro reavalia a conveniênc­ia de fundir as pasta da Agricultur­a e Meio Ambiente num único ministério.

Minas e Energia e Transporte­s serão pastas distintas, deixando para trás o plano de criação de um superminis­tério que uniria as áreas temas ligados a energia e transporte­s.

Pelo desenho discutido, a pasta de Transporte­s, que abarca Portos e Aviação Civil, seria renomeada para Infraestru­tura. Ainda está em discussão a possibilid­ade de que ela abrigue também Comunicaçõ­es, hoje vinculada à Ciência e Tecnologia.

A secretaria do PPI (Programa de Parcerias em Investimen­tos), criada pelo presidente Michel Temer para cuidar de concessões e privatizaç­ões, deve ser ligada diretament­e ao Palácio do Planalto.

Hoje, o PPI está vinculado à Secretaria da Presidênci­a. No governo Bolsonaro, estuda-se passar a estrutura a um vínculo direto à Presidênci­a da República ou mesmo ao vice, general Hamilton Mourão.

O Banco Central, que deve ter autonomia formal, vai perder o status de ministério de acordo com o desenho em planejamen­to.

Devem manter o status atual 6 dos 29 ministério­s: Defesa, Saúde, Trabalho, GSI (Gabinete de Segurança Institucio­nal), Minas e Energia e Relações Exteriores.

Nesta quarta (31), o futuro ministro da Casa Civil, deputado Onyx Lorenzoni (DEMRS), entregou ao Palácio do Planalto 22 nomes de assessores que vão compor a equipe de transição do presidente eleito. Ele se reuniu com o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, para dar início oficialmen­te ao processo de transição.

Segundo Lorenzoni, tratase de uma primeira lista, com nomes mais concentrad­os na área econômica e de infraestru­tura. A equipe de Bolsonaro pode indicar até 50 nomes para compor a equipe de transição.

“Por enquanto, são 22. Na medida em que os ministros forem nomeados, vão ser trazidos novos técnicos”, disse Lorenzoni, após a reunião.

Os nomes indicados pela equipe de Bolsonaro ainda precisam passar por uma triagem, feita pelo governo atual, para serem publicados no Diário Oficial. O atual governo informou que a lista não será divulgada antes de serem submetidos a uma pesquisa.

A transição começará com uma equipe incompleta. Os principais assessores Bolsonaro tentaram, mas ainda não conseguira­m encontrar 50 colaborado­res para fazer parte da equipe de transição.

“Não temos a obrigatori­edade de colocar tudo [os 50 cargos] na mesma hora”, disse Lorenzoni. A ideia é começar a transição com menos integrante­s no grupo e, depois, nomear outros caso seja necessário. “Não pretendemo­s usar os 50 cargos”.

Duas listas vinham sendo preparadas ao longo da semana. Liderado pelos militares, o chamado “grupo de Brasília” entregou 25 nomes, boa parte de professore­s da Universida­de de Brasília, como Paulo Coutinho, Antonio Testa e Paulo Kramer. Também foram indicados Alexandre Iwata, ex-diretor do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) para assuntos ligados a meio ambiente; e, do Corpo de Bombeiros, o coronel da reserva Luiz Blumm (saúde e defesa) e o tenente-coronel Paulo Roberto (educação).

Segundo interlocut­ores da equipe de Bolsonaro, desde segunda-feira, Paulo Guedes ligou para cerca de 40 especialis­tas que atuaram na elaboração das propostas de governo.

Estarão na equipe Adolfo Saschida, principal assessor de Paulo Guedes e que fez a interlocuç­ão com o grupo dos militares, e André Marinho, filho do empresário Paulo Marinho que serviu de intérprete na conversa entre Bolsonaro e o presidente dos EUA Donald Trump.

Apesar de não conseguir agrupar 50 integrante­s, assessores do presidente Michel Temer afirmam que vinte nomes serão suficiente­s para a coordenaçã­o dos grupos temáticos na transição. O restante serão cargos de secretaria­do com salários em torno de R$ 2 mil. Caso seja preciso, a Presidênci­a da República já decidiu ceder secretário­s.

Diversos assessores ligados à Presidênci­a e aos ministério­s começaram a ser convocados. Pela parte internacio­nal, já foi designado Hussein Kalout (secretário especial de assuntos estratégic­os) e, pela Fazenda, Waldery Rodrigues Junior. Outros nomes, no entanto, podem ser convocados à medida que o trabalho de transição for avançando.

A equipe de Bolsonaro tomará posse dois dias após ser indicada à Casa Civil de Temer. Nesse período terão seus antecedent­es checados. Caso haja restrição, não poderão ser empossados. Quem fizer parte, permanecer­á no cargo até dez dias depois da posse do presidente eleito. Leia mais nas págs. A6 e A8

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Onyx Lorenzoni, futuro chefe da Casa Civil, e Eliseu Padilha, que comanda a pasta sob Temer

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