Folha de S.Paulo

Eleito escolhe general da Lava Jato para missão de atacar crime organizado

- Luiz Weber

De qualquer perspectiv­a que se olhe —com ou sem VAR— foi um salto triplo carpado com rodopio executado à perfeição. Ao escolher o juiz Sergio Moro para pasta da Justiça plus size, Jair Bolsonaro chamou para seu governo um quatro estrelas do esquadrão da Força Simbólica. Ele mesmo um presidente-ideia, o antipetist­a, o capitão reformado atraiu para Brasília uma outra mensagem de igual força: Moro é representa­ção síntese do combate à corrupção.

Pode parecer que Bolsonaro caiu na armadilha de uma negociação soma zero: perde com a entrada do juiz. O problema estaria no status do novo ministro, que seria indemissív­el pelo prestígio conquistad­o. Brasília é uma Asgard burocrátic­a. A caneta presidenci­al é o martelo de Thor. Nem Moro está imune.

O juiz pode, sim, ser o FHC de Itamar —um personagem maior em busca de seu Plano Real da Corrupção. Por enquanto, só o presidente eleito capitalizo­u.

No governo, Moro terá que enfrentar, além de mirar os malfeitos da política, as rebeliões de presídios, os crimes financeiro­s, o tráfico de drogas na fronteira e a parada de armas nos morros. Se a economia patinar e tudo se resumir a giros de carrossel desses dois mitos, com tuítes e operações reprisadas, a opinião pública se cansa e pula o brinquedo.

Chamado de soldado pelo presidente eleito, ele sabe que o teatro de operações do combate à corrupção será na capital.

Moro colocou na cadeia o ex-presidente Lula, o extodo-poderoso da Fazenda Antonio Palocci e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha. Não quis ser o ex-juiz da Vara Curitiba.

A batalha da Lava Jato não se trava mais em Curitiba. Aí as operações escasseara­m, os holofotes se apagaram, as narrativas criminais agora envolvem personagen­s menores, incapazes de alimentar o farfalhar das redes sociais.

Estudioso da Mani Pulite, da qual a Lava Jato é cópia carbono, Moro sabe que na Itália operação foi minada pelobackla­sh da selites legislativ­a e judiciária— e quando a cobertura da mídia perdeu intensidad­e.

No milenar livro “A Arte da Guerra ”, há uma virtude exigida de bons comandante­s: dominara arte de manipular os deslocamen­tos dos inimigos.

A Lava Jato entrou em sua fase de recursos. Logo, processos-chave sairão da órbita de Curitiba e do TRF-4. Tudo ocorrerá em outro plano simbólico e material —em Brasília, no Congresso, no Superior Tribunal de Justiça, no Supremo Tribunal Federal. Moro se antecipa. Sempre foi um soldado comum amissão: combatera corrupção.

Com essa transferên­cia, questões essenciais surgirão. A execução da pena após segunda instância será mantida? As delações serão garantidas? O entendimen­to atual sobre o alcance da lavagem de dinheiro permanecer­á íntegro? Apesar da sintonia atual das decisões de Curitiba coma opinião pública, o STF deverá debatê-las, ajustá-las, se assim entender. No campo do direito, não há inimigos. Nem um super Moro pode pensar assim.

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