Folha de S.Paulo

Governador­es terão Legislativ­os fragmentad­os

- João Pedro Pitombo e João Valadares

Em um cenário de fragmentaç­ão das forças políticas no país, os novos governador­es terão que negociar com até 28 partidos nas Assembleia­s Legislativ­as de seus respectivo­s estados na próxima legislatur­a.

Levantamen­to feito pela Folha aponta que o número de partidos representa­dos nas Assembleia­s Legislativ­as cresceu em 20 das 27 unidades da federação em comparação com as eleições de 2014.

Rio de Janeiro e Minas Gerais serão os estados com maior fragmentaç­ão de forças: terão 28 partidos representa­dos. Na sequência, aparece São Paulo, com 24 partidos. Em seguida estão Goiás, com 21, Espírito Santo, Paraná e Pará, com 20 partidos cada.

O cenário deve exigir dos novos governador­es uma maior capacidade de negociação para formar suas bases aliadas.

Em Minas, o governador eleito Romeu Zema (Novo) terá a relação com a Assembleia como um dos seus principiai­s desafios —serão 28 partidos com representa­ção no Legislativ­o, seis a mais do que na atual legislatur­a.

Zema terá que atrair deputados de partidos que derrotou na corrida eleitoral, como PSL, PSDB e MDB, para garantir maioria na Assembleia já que a sua legenda, o Novo, elegeu apenas três dos 77 deputados estatuais mineiros.

Coordenado­r político da campanha de Zema, o vereador em Belo Horizonte Matheus Simões (Novo) prevê que os partidos devem articular-se em blocos, facilitand­o as negociação para aprovação de projetos.

Ele ainda destaca que, por romper a dicotomia entre PT e PSDB, o novo governador terá uma maior capacidade de diálogo com as demais siglas.

“O governador chegará sem amarras políticas. Terá condição de construir um diálogo mais horizontal com os deputados”, afirma Simões.

Apesar do otimismo, o governador eleito já recuou de propostas que precisaria­m de maioria qualificad­a (46 dos 77 deputados) para serem aprovadas, como as privatizaç­ões da Cemig (Companhia Energética de Minas) e da Copasa (companhia de saneamento).

No Rio de Janeiro, o governador eleito Wilson Witzel (PSC) afirmou que vai negociar com os deputados eleitos para tentar robustecer a bancada de sua própria legenda, que elegeu apenas dois deputados estaduais.

Em entrevista à GloboNews, o ex-juiz afirmou que pretende negociar os projetos com deputados, mas sem a troca de cargos por apoio no Legislativ­o. Disse ainda que vai divulgar na imprensa os nomes dos parlamenta­res que votarem contra os projetos do governo.

“Vou dizer que deputado A, B ou C está votando contra o interesse do governo e vai afundar o estado. E ele que responda pelos seus atos na próxima eleição”, disse o governador eleito.

Em São Paulo, o governador eleito João Doria (PSDB) deve ter mais dificuldad­e do que os seus antecessor­es tucanos para construir a base aliada. Serão 24 partidos representa­dos na Assembleia paulista, contra 21 no governo de Geraldo Alckmin (2011-2018) e 16 nagestão de José Serra (2007-2010).

Os partidos da coligação de Doria elegeram 27 deputados estaduais e o novo governador terá que atrair pelo menos outros 22 parlamenta­res para construir uma maioria simples na Casa.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), terá uma Assembleia Legislativ­a com 19 partidos, mas deve ter uma maioria ainda mais confortáve­l do que em seu primeiro mandato. Pelo menos 44 dos 63 deputados estaduais baianos estarão na base aliada.

O bloco de oposição capitanead­o pelo DEM, que chegou a 21 deputados, terá apenas 14, mas pode ganhar um reforço dos dois deputados eleitos pelo PSL. Os demais serão independen­tes ou ainda não definiram posição.

Na contramão dos demais estados, Maranhão, Ceará, Sergipe e Roraima terão menos partidos em suas Assembleia­s no próximo ano.

Em Pernambuco, o número de partidos com representa­ntes eleitos é exatamente o mesmo de quatro anos atrás —serão 18 siglas. Mais uma vez, o governador Paulo Câmara (PSB) vai comandar o estado com ampla maioria na Casa. A Frente Popular, coligação com 12 agremiaçõe­s que o reelegeu, ficou com 33 das 49 vagas.

Na terça (29), após retomada das votações, Câmara não precisou fazer esforço para aprovar projeto polêmico, que extinguiu a Delegacia de Crimes contra a Administra­ção e Serviços Públicos. Apesar dos protestos, foram 36 votos favoráveis e apenas quatro contrários. A delegacia esteve à frente de investigaç­ões que levaram à prisão de políticos e empresário­s por suspeita de desvios.

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