Governo de SP pede e recebe ajuda do Exército para combater plano do PCC
Facção pretende resgatar Marco Camacho, o Marcola, de presídio com uso de helicóptero e mercenários
Um plano de resgate de chefes do PCC de um presídio paulista com uso de um exército de mercenários levou o governo de São Paulo a solicitar e a receber apoio do Exército para enfrentar a facção criminosa.
O plano foi descoberto semanas atrás e previa ação com mercenários estrangeiros, dois helicópteros de guerra, lança-mísseis e metralhadoras, tudo isso a um custo estimado de R$ 100 milhões.
O apoio foi confirmado à Folha nesta quinta-feira (1º) pelo Comando Militar do Sudeste, que disse ter recebido a solicitação de auxílio logístico da Secretaria da Segurança Pública, “o que foi prontamente atendido”.
O Exército está apoiando com fuzis .50, além de treinamento de policiais para a utilização do armamento pesado. Esses fuzis são capazes de derrubar aeronaves.
A PM paulista não tem esse tipo de armamento nem autorização para comprá-lo.
Os detalhes da investida criminosa, que teria como alvo principal o resgate de Marco Camacho, o Marcola, aparecem em ofício do deputado federal e senador eleito Major Olímpio (PSL) encaminhado ao governador Márcio França (PSB) e aos comandos do Exército e da Aeronáutica.
De acordo com o parlamentar, as informações foram repassadas a ele por agentes de segurança que temem uma ação violenta na região de Presidente Prudente, onde estão presos os chefes do PCC.
O plano ainda não teria sido abortado pelos criminosos e levou a Justiça de Presidente Venceslau a interditar, desde o início de outubro, o aeroporto da cidade.
Na ocasião, o juiz demonstrou a dimensão do temor. “Há enorme preocupação com o aeroporto municipal, pois [fica] muito próximo ao estabelecimento prisional, permitindo logística para atuação de referida organização criminosa”, diz despacho do juiz. “A medida se mostra absolutamente necessária, pois evitará problemática maior.”
A interdição, que deveria ter terminado no final do mês, foi prorrogada por mais 10 dias.
Outro demonstrativo da preocupação é a manutenção em Presidente Venceslau de um contingente de policiais militares que inclui grupos de elite coma Rota e o COE (operações especiais), além de veículos blindados.
No início do mês passado, ao ser procurado pela Folha, o governo negou o plano de resgate e disse que se tratava de um treino de rotina das forças policiais locais.
Procurada nesta quinta-feira, a Secretaria da Segurança Pública confirmou a solicitação de apoio às tropas da Polícia Militar empregadas em Presidente Venceslau. “As medidas têm como objetivo garantir a segurança dos presos que estão em unidades prisionais, agentes públicos, assim como da população da região.”
“Salienta ainda que conta com o apoio e suporte logístico do Exército Brasileiro, sem envolvimento de efetivo. Por questões de estratégia e segurança mais detalhes não serão passados”, diz nota.
O pedido de ajuda do governo paulista para combate ao PCC é algo incomum, ao contrário do que acontece no Rio de Janeiro, que está sob intervenção federal desde o começo do ano. Nem mesmo em 2006, por exemplo, quando as forças de segurança paulistas foram atacadas pela facção, o governo paulista aceitou ajuda federal.
Na época, disse considerá-la desnecessária porque as polícias do estado seriam capazes de enfrentar o problema.
Agora, segundo o governador Márcio França, a ajuda é bem-vinda. “Sou a favor de toda e qualquer ajuda federal”, disse à Folha. “O Exército Brasileiro tem como função subsidiária auxiliar os estados na segurança pública. Acho bom isso. Sempre nos apoiam. Temos ótimo relacionamento.”
Em junho deste ano, os setores de inteligência da PM e da Secretaria de Administração Penitenciária já tinham detectado um outro plano de resgate de integrantes do PCC nessa mesma unidade prisional, este atribuído ao preso Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden, um dos chefes do PCC presos em Venceslau.
Naquele plano, a ideia dos criminosos era usar um caminhão guincho, grande e pesado, preparado com chapas de aço. A proteção serviria para resistir a tiros da polícia e, ao mesmo tempo, ajudar a derrubar os muros da prisão. O veículo também teria janelas para tiros contra as forças de segurança.
Também em 2014, o governo paulista detectou outro suposto plano de resgate de Marcola e de mais três comparsas. Os criminosos planejavam utilizar dois helicópteros blindados, camuflados com as cores das aeronaves da Polícia Militar, para pousar no presídio com uma cesta de resgate.